SR. DIRECTOR!
Falar deste magno tema ressuscita na minha massa cinzenta, independentemente da minha vontade, a palavra já desfalcada que temos de ter a coragem e firmeza de recordá-la: a palavra História.
Há que olharmos para a cronologia humana para melhor entendermos o presente e perspectivamos também melhor o futuro.
A História fará de nós homens que sabem escolher e conscientes, que conhecem a distinção entre o real e o quimérico. A História é radical de tudo, porém é como referência ao conjunto da cronologia humana que se desenrolou enquanto marcha colectiva em direcção ao melhor.
Todavia, ao falarmos de História, temos de nos reforçar de Filosofia da História ou dos próprios filósofos para sabermos que tipo de filosofia agia nos reinos, nas etnias, sob a base de axiologia em que fundavam os grandes reinos. Mas lembre-se que não é possível aceder à realidade de tudo que aconteceu no passado. Aliás, nenhuma ciência é capaz de levar toda realidade ao actual, mas pode analisá-la, levando alguns valores essenciais e inventar a História em função de futuro. O nosso centro de interesse é o futuro.
Dez anos de conflitos entre nós foram fatais em perdas humanas, em catástrofes económicas e sofrimentos, para o nosso povo, só comparáveis, talvez, à época da escravatura, que deixou traços que nunca se apagam.
Para além das guerras, assistiu-se a desestruturação social: a dissociação entre os jovens e o resto da população, dissociação entre campo e cidade, dissociação entre intelectuais e o resto da população. Também podemos falar da contingência dos sistemas importados, em que não se respeitam as culturas nacionais e a nossa incapacidade de nos apoderarmos do nosso destino e da nossa história é evidente.
Os colonizadores encontraram nesta parte da África culturas sólidas, as axiologias culturais e matérias indígenas formavam autênticos elefantes que resistiram permanentemente todos os dias, sem nunca vacilar.
As colectividades existentes dentro de aglomerado político tinham, contudo, uma consequência histórica. E isto apraz-me jovialmente e devolvemo-lo aos filósofos que criticaram África dizendo que não tem história, muito pelo contrário, esta é uma ideia que significa humanidade, civilização, a nação, o passado, futuro e as cidades. Mas poderão os leitores deste artigo ter questões persistentes em suas consciências, qual o sentido da história para o nosso povo?
Se para Paul Ricoeur a história é um conhecimento da cronologia humana, então deve interroga-se sobre “o pensamento” para ajudar o homem a conhecer-se a si mesmo; conhecimento este que condiciona o que significa ser homem? Que tipo de homem sou eu? (Antropologia filosófica).
Para conceber a identidade é necessário antes de mais nada ter confiança em si mesmo. Já dizia Sócrates que para descobrir a sua identidade cultural depende da introspecção individual, que permite ver objectivamente os factos como são.
Para Aristóteles, o homem era naturalmente político, isto é, feito para viver na sociedade. Portanto, pode-se dizer que o passado é a via “mestra” para pensar o futuro.
Contudo, digamos que somos mistura de duas historicidades: uma colonial e étnica. Isto significa duas coisas importantes: a identidade moçambicana não é, nem simplesmente étnica nem europeia; pela nossa mistura étnica com elementos não só europeus mas também chineses, árabes e indianos. Isto quer dizer que o moçambicano é um povo perdido e não sabe onde se recorrer, mas também uma chance de encontro e agir intercomunicativo com os outros povos de diferentes historicidade.
Eis aqui porquê é muito promissor e imprescindível o futuro. Temos de perspectivar a história em função do futuro para sabermos que tipo de esperança, que nos permite sonhar e com que forças reais podem contar para a modificação do futuro.
EDSON GERSON P. CÂNDIDO