Angola, que ainda não ratificou o Acordo Ortográfico, quer ver nele grafadas as contribuições das suas línguas nacionais, à semelhança do que fizeram já alguns Estados da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
A reunião de peritos, que antecede o encontro dos ministros da Educação da CPLP, que tem como objetivo analisar a questão de implementação do acordo, tem lugar na quarta e quinta-feira, em Luanda. A reunião ministerial acontece na sexta-feira.
Portugal estará representado na reunião pelo ministro da Educação, Nuno Crato, que chega a Luanda na quarta-feira de manhã.
Neste encontro, Angola pretende ver acautelada além da grafia, a questão de implementação do acordo no seu sistema educativo.
Em declarações à agência Lusa, o diretor do gabinete de apoio à CPLP, do Ministério das Relações Exteriores de Angola, Oliveira Encoge, disse que o Acordo Ortográfico é "bem-vindo para Angola, porque representa uma mais-valia para a língua".
"A questão de Angola é uma questão simples. Angola quer ver grafados no acordo aquilo que é contribuição das suas línguas nacionais, à semelhança do que o Brasil fez com o português brasileiro e à semelhança do que Timor também já introduziu", afirmou.
Oliveira Encoge referiu que neste longo período, desde que foi assinado o Acordo Ortográfico, em 1990, Angola não se pronunciou sobre o assunto, porque tinha na altura outras prioridades.
"Por isso é que só agora, nos últimos três, dois anos, é que começámos a prestar atenção ao Acordo Ortográfico. Nós somos parte do acordo, nós assinámo-lo em 1990, mas não o ratificámos", salientou.
Aquele responsável reiterou a necessidade da contribuição de cada um dos países, que considerou "importante não só para Angola, mas para os oito Estados membros".
"No caso de Angola e Moçambique, que têm nas suas línguas nacionais de origem bantu uma grande contribuição na Língua Portuguesa, são vários os exemplos e, se olharmos agora, não vemos isso refletido", chamou a atenção Oliveira Encoge.
O Acordo Ortográfico não o prevê, mas Angola tem na sua grafia várias palavras que começam com duas consoantes, por força das suas línguas nacionais, como Ndalatando, Mbanza Congo e Nzinga, entre outras.
Oliveira Encoge apontou ainda a importância da elaboração, primeiro, de um vocabulário nacional, para depois se produzir o vocabulário comum.
"Acredito que o Brasil e Portugal já tenham esse vocabulário nacional, mas nós, os demais, precisamos também de fazer o nosso vocabulário nacional, para andarmos todos no mesmo pé. Não dá para uns estarem mais à frente do que os outros", comentou.
Instado a apontar uma data provável para a ratificação do acordo por Angola, Oliveira Encoge disse que "ainda não há um tempo definido".
NME.
Lusa – 27.03.2012