A crise na Guiné-Bissau conheceu hoje novos e confusos desenvolvimentos, com a comunidade das nações da sub-região a impor sanções ao país, acusando o Comando Militar de falta de diálogo, e os "atores" políticos otimistas quanto a uma solução.
Na sequência do golpe militar de 12 de abril e das exigências impostas pela Comunidade de Estados da África Ocidental (CEDEAO) que o Comando Militar, autor do golpe, aceitou, tudo fazia prever que haveria um entendimento.
Foi na busca desse entendimento que militares e políticos da Guiné-Bissau partiram no sábado para a vizinha Gâmbia. Mas, depois de um dia sem notícias, hoje a CEDEAO anunciou que decidiu impor sanções contra os militares, porque o Comando "não deseja negociar".
"Depois de 12 horas de negociações" entre os países membros do grupo de contacto da CEDEAO e "uma só pessoa, o general António Indjai, chefe de Estado-Maior das Forças Armadas da Guiné-Bissau e chefe do comando militar, tornou-se evidente que não deseja negociar e prefere claramente enfrentar as consequências", referia na manhã de hoje um comunicado citado pela agência France Presse.
Tal posição, com sanções ao país, indicava um retrocesso na tentativa de encontrar uma solução para a crise, mas esse não foi o espírito com que chegou a Bissau a delegação que esteve na Gâmbia, a começar pelo secretário permanente do PAIGC (maior partido, no poder até dia 12), Augusto Olivais, que admitiu a falta de consenso, mas mostrou-se esperançado numa saída para a crise.
"Tudo será resolvido", disse. E Fernando Vaz, porta-voz do fórum de partidos da oposição, explicou mesmo que acredita que a data para tal é quinta-feira, na cimeira de chefes de Estado de países da CEDEAO, em Dacar.
O responsável, à chegada também da Gâmbia, disse que há apenas uma questão em desacordo com a CEDEAO. "Dos sete pontos, já tivemos acordo em seis pontos. Só temos um ponto em que não chegámos ainda a um acordo, o ponto em relação à Presidência da Republica, mas naturalmente pensamos que vamos chegar a um acordo na quinta-feira", disse.
Jorge Borges, o ministro dos Negócios Estrangeiros de Cabo Verde, que também participou no encontro da Gâmbia, admitiu que "o ponto de discórdia" foi ser Raimundo Pereira (Presidente interino até dia 12) ou não a gerir o processo de transição.
Mas disse também que a CEDEAO admite o uso da força contra o Comando Militar e falou das sanções contra a Guiné-Bissau, impostas a partir da noite de hoje, esse também um ponto que Fernando Vaz desdramatizou.
Certo é que, nas palavras de Jorge Carlos Fonseca, Presidente de Cabo Verde, houve em toda esta crise um "sinal positivo": a libertação na sexta-feira do Presidente interino, Raimundo Pereira, e do primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior, que tinham sido detidos no dia do golpe.
Falou, no entanto, também de uma "situação complexa" na Guiné-Bissau e disse que em todo o processo a diplomacia "joga o seu papel, mas não é linear".
"Às vezes, as coisas não são fáceis. Às vezes, lemos um comunicado, vemos decisões e as pessoas que não estiveram nas reuniões poderão não saber que isso é fruto de negociações muito difíceis e complexas. Às vezes, o ótimo pode ser inimigo do bom", acrescentou Fonseca.
Em Bissau, que viveu hoje mais um dia de aparente normalidade, anunciam-se para terça-feira duas conferências de imprensa, uma dos partidos e outra do Comando Militar, que poderão ajudar a entender os confusos desenvolvimentos de hoje.
FP (CFF/JSD).
Lusa – 30.04.2012