Disputas empresariais entre camaradas
- revela estudo da tese de doutoramento em Ciência Política, de Edson Cortês, apresentado na UEM
António Frades
Um estudo subordinado ao tema “Velhos amigos, novos adversários: as disputas, alianças e reconfigurações empresariais na elite política moçambicana”, apresentado esta terça-feira no “Ciclo de Seminários Interdisciplinares” da UEM (Universidade Eduardo Mondlane, aponta, entre várias conclusões, que o actual presidente da República e presidente do partido Frelimo “não é um governante de consenso” e “é contestado, de forma discreta, no seio do seu partido”.
O estudo é da autoria do moçambicano Edson Cortês. Trata-se de uma tese de doutoramento em Ciência Política, pela Universidade de Lisboa.
O estudo revela grandes disputas e conflitos pelo poder económico e empresarial entre a elite política moçambicana, constituída por figuras da nomenklatura do partido Frelimo. Mostra ainda que Armando Guebuza é muito contestado, embora de maneira muito discreta, devido ao seu envolvimento em vários negócios que conflituam com negócios de outros camaradas.
O estudo não menciona, mas já dizia Samora Machel: “Estes meus camaradas quando eu morrer ainda se vão matar uns aos outros por causa do dinheiro”…
Dentre várias metodologias usadas, o estudo de Edson Cortês baseou-se em entrevistas feitas a diversas figuras proeminentes da arena política nacional, sobretudo da Frelimo e a empresários filiados na Confederação das Associações Económicas (CTA), revelou o pesquisador no âmbito da apresentação.
Cortês diz que foi constatado que muitos camaradas da Frelimo “deixaram de ser velhos amigos de camaradagem e passaram a ser novos adversários”, devido a conflitos de interesses entre eles. Pelo seu envolvimento em muitos negócios, sem deixar espaço para outros camaradas, o presidente da República é apontado como sendo o principal contestado sobretudo pelo facto da natureza dos seus negócios conflituarem com interesse empresariais de outros camaradas da Frelimo.
“Esse conflito de interesses tem estado a gerar alas no seio do próprio partido Frelimo”, disse o pesquisador.
Sector privado manipulado e capturado
Cortês revelou ainda que o sector privado tem sido manipulado pelo poder político, nomeadamente pelo partido Frelimo, pondo a classe empresarial ao serviço da política.
“A consequência disso tem sido o fracasso das atividades do sector privado porque se mistura os negócios com a política”, disse ainda o pesquisador apontando “casos de falência de empresas, controlo de preços”, como alguns sinais dessa subserviência do sector privado ao poder político.
Canal de Moçambique – 18.04.2012