As famílias transferidas da Ilha de Moçambique para a parte continental do Lumbo, província de Nampula, no âmbito do programa do Governo e da Edilidade, consideram que o processo está a decorrer de acordo com as suas expectativas, pois os serviços básicos nas áreas de Educação e Saúde melhoraram substancialmente através do alargamento das respectivas redes.
Contudo, instam as entidades competentes a desdobrarem esforços para que a crise de água potável que neste momento se faz sentir seja solucionada a curto prazo, bem como o aumento dos efectivos dos agentes da lei e ordem para o combate aos pequenos focos de criminalidade que despontam.
A população ideal para que a Ilha de Moçambique possa prover serviços básicos, nomeadamente, água, saúde, educação aos munícipes, assim como turismo como alavanca para o desenvolvimento da cidade histórico-cultural, é, no máximo, de 15 mil habitantes, segundo conclusões de estudos levados a cabo por entidades competentes a pedido das autoridades governamentais.
Foi com base no resultado do referido estudo que em meados da década de 90 foi desenhado um programa visando a continuação do descongestionamento da parte insular da cidade da Ilha de Moçambique. Nos primeiros cerca de cinco anos, o processo não teve avanços notáveis devido a incongruências entre a filosofia e a implementação prática do programa.
A apropriação pelo Governo distrital consubstanciou-se na inclusão do programa no seu plano económico e social para o período 2009/14, apurámos. Por outro lado, ficou acordada a intensificação de acções visando o incremento dos volumes de produção, sobretudo de alimentos, além da criação de postos de emprego financiados com fundos públicos, visando a retenção da população transferida na zona continental.
Carla José Paulino, doméstica, não desvaloriza o esforço feito pelo Governo distrital em coordenação com a edilidade no sentido de criar as condições existentes no terreno. “No meu caso esses esforços consistiram na oferta de um talhão com dimensões apropriadas para construir uma residência, espaços para capoeiras para criação de animais domésticos, que ainda sobram para fazer uma pequena horta, que muito tem contribuído para a variação da dieta alimentar, através dos produtos que colho na horta”- acrescentou Carla Paulino.
Contudo, a nossa interlocutora lamentou que a escassez gritante de água potável não esteja a contribuir para o convívio normal entre as famílias que aceitaram o desafio de deixar de viver na cidade património mundial, onde se comunicam com diferentes civilizações. “Sem água realmente não há vida nem sossego para planificar as acções que possam contribuir para o bem-estar da família, porque o nosso convívio é dominado pela procura de água em fontes alternativas muito distantes da zona residencial, pois dos fontanários não jorra água há muitos anos”- disse Carla José Paulino.
Por seu turno, Sarajabo Rassul, docente, não escondeu a sua satisfação por ter decidido abandonar a ilha a convite do Governo local e fixar-se em Sanculo, uma zona outrora considerada remota do município. “Estou aqui há seis anos. Tenho o privilégio de prosseguir os meus estudos na 11ª classe, pois o ensino secundário do 2º ciclo funciona desde o ano lectivo de 2010”- apontou o nosso entrevistado.
Entretanto, além da escassez de água, a falta de patrulhamento por agentes da lei e ordem na sua área de residência preocupa-o, esclarecendo que o facto de as famílias terem enveredado por algumas actividades de geração de rendimento, como seja a criação de animais domésticos de várias espécies e cultivo de hortícolas e legumes, está a concorrer para o surgimento de oportunistas que, à calada da noite, surripiam bens da população.
“Surpreendo-me ao constatar que durante o dia a zona continental do Lumbo até Sanculo é patrulhada pela Polícia, mas, à noite, pura e simplesmente deixa de existir, tornando-se preocupação para nós quando neutralizamos um malfeitor que, como sabemos, actua munido de arma branca, sendo por isso difícil a sua condução ao posto policial”- lamentou Sarajabo Rassul.
Estas inquietações e a abertura tardia de vias de acesso já previstas no plano urbanístico da zona continental, desenhado há anos, inquietam os habitantes da zona continental do Lumbo no município da Ilha de Moçambique.
No entanto, o chefe da repartição de Planificação e Desenvolvimento Local no Governo do distrito da Ilha de Moçambique, Saide Gelane, disse que nos últimos três anos a provisão de serviços básicos na zona continental daquela cidade registou avanços significativos, traduzidos na construção de duas escolas do nível secundário geral que leccionam da oitava à décima segunda classes, além de cinco escolas primárias completas.
No domínio da saúde foram edificados dois novos centros no continente, nomeadamente em Sangane, com capacidade para internar 30 doentes, e em Macicate, com maternidade, além de outros serviços sanitários do seu nível, totalizando neste momento cinco em todo o distrito. “Tudo isto foi concebido para reter as famílias no continente, aumentando a oferta de serviços básicos. Julgamos que as condições de vida neste momento encontram-se num nível alto quando comparadas ao da cidade insular da ilha, onde, infelizmente, ainda temos três a quatro famílias partilhando o mesmo tecto com consequências sociais imprevisíveis dadas as condições sociais deploráveis em que vivem”- disse Saide Gelane.
A nossa fonte reconheceu que a questão da água carece de uma intervenção mais ousada do Governo distrital, em coordenação com o executivo provincial, porquanto o investimento necessário para cobrir a empreitada de abertura de furos deve ser antecedido de um estudo aprofundado sobre a natureza dos solos, o que vai determinar a viabilidade de abertura das fontes de captação de água.
Entretanto, o Programa Vilas do Milénio, financiado pelo Governo e seus parceiros internacionais, entre outras acções, sensibiliza as comunidades do Lumbo sobre matérias ligadas à higiene colectiva e individual para a prevenção de doenças transmissíveis como as diarreias, incluindo a cólera, alfabetização e educação de adultos, gestão e finanças rurais. Este programa é visto pelo nosso entrevistado como sendo uma iniciativa que vai contribuir para a mitigação da escassez de água potável, através da abertura de fontes nas zonas consideradas críticas.
Para proporcionar meios financeiros às comunidades do Lumbo para que realizem as suas iniciativas de produção de alimentos, pesca, agricultura e extracção de sal, Saide Gelane afirmou que “o Governo distrital aloca uma fatia gorda do Fundo de Desenvolvimento Distrital (FDD) para financiar iniciativas comunitárias que tenham impacto na sua qualidade de vida”.
Investidores interessados em desenvolver o turismo na cidade da Ilha de Moçambique, que regista profundas transformações, sobretudo no vasto património cultural, queixam-se do superpovoamento da urbe é ainda um factor que dificulta a realização de investimentos na hotelaria, serviços e comércio. No entanto, louvaram o esforço do Governo que culminou com a eliminação do fecalismo a céu aberto, bem como a reabilitação das estradas urbanas e da ponte que assegura acesso à ilha, que agora oferece segurança na travessia de veículos até cinco toneladas, contra as anteriores duas antes da intervenção, o que atrai mais turistas para visitar a cidade usando a via terrestre.- Carlos Tembe