Centenas de zimbabweanos homenagearam, há dias, em Manica, os seus compatriotas barbaramente massacrados em 1977, na região de Tembwe, no distrito de Gondola, num evento integrado no âmbito das celebrações de 32º aniversário da proclamação da independência daquele país vizinho, assinalado a 18 de Abril corrente.
Pelo menos 1.030 pessoas pereceram no referido massacre, conhecido como de Tembwe, no qual também um número não identificado de zimbabweanos ficou ferido no bombardeamento perpetrado pelo então regime racista de Ian Smith.
A caravana que veio a Manica lembrar a morte dos seus compatriotas, foi chefiada pela Vice-Ministra do Trabalho e Serviços Sociais da República do Zimbabwe, Mónica Mutsazangua que se deslocou àquela província em representação do Presidente zimbabweano, Robert Mugabe.
Intervindo, na ocasião, descreveu a sua história enquanto militante da ZANU-PF, partido no poder no Zimbabwe, referindo que por vontade própria, na companhia das suas amigas, fugira da República do Zimbabwe para a base militar de Tembwe, em Manica, durante a luta de libertação daquele país, onde viria a testemunhar a morte das suas duas companheiras, no bárbaro ataque.
Na altura, com 17 anos, segundo contou, Mónica Mutsazangua abandonou o Zimbabwe devido à violência colonial para se juntar ao movimento libertador. Foi assim que Mónica integrou a unidade militar depois de ter passado por treinos na companhia de outros compatriotas seus.
Três meses depois, segundo contou, a 23 de Novembro de 1977, eis que bombardeiros do regime do Ian Smith lançaram um ataque cruel à base, tendo apanhado de surpresa os guerrilheiros que se encontravam acampados em Tembwe, preparando-se para enfrentar o regime ocupacionista da então Rodésia do Sul.
Para além de zimbabweanos, o bombardeamento atingiu numerosas famílias moçambicanas que residiam nas proximidades da base militar de Tembwe, que igualmente neste momento repousam entre os mártires daquele país vizinho e amigo.
Por seu turno, Edgar Dupe, também sobrevivente e antigo combatente do Zimbabwe lembrou os sacrifícios consentidos pelos guerrilheiros da ZANU-PF, afirmando tratar-se de um momento difícil, no qual vidas preciosas foram perdidas.
Condenou aqueles que pensam que a independência do Zimbabwe caiu de bandeja, afirmando serem pessoas que estão a vender o país a troco de centavos para servir os interesses do então regime colonizador.
Entretanto, o governador da província de Manicaland, do Zimbabwe, Chris Mushohwe, afirmou que o governo do seu país teve a iniciativa de levar os familiares das vítimas do massacre, entre os quais pais e filhos, “para testemunharem que guardamos os seus filhos como verdadeiros heróis”.
Enquanto isto, Jaime Gero, assessor para os Assuntos Sociais da governadora da província de Manica, em representação da mais alta dirigente daquela província, recordou a trajectória histórica e os laços de amizade e solidariedade que unem os dois países e povos e afirmou que o massacre de Tembwe constitui um exemplo vivo de como o colonialismo foi hostil aos povos africanos.
Disse que a homenagem que o governo e o povo zimbabweanos têm vindo a prestar aos mártires de Tembwe deverão servir de exemplo para as gerações futuras, para as quais apelou uma maior entrega a causas nacionais, defendendo a pátria e as conquistas duramente alcançadas.
Para além de Tembwe, o exército do regime de Ian Smith bombardeou um campo de refugiados de Inhazónia, distrito de Báruè, norte da província de Manica, onde, para além de guerrilheiros da ZANU-PF, morreram crianças, mulheres grávidas, idosos e jovens desarmados, incluindo civis, os quais fugiam do conflito armado no Zimbabwe.
O Zimbabwe tinha cerca de seis mil militares acampados na base de Tembwe no dia do ataque, tendo deste número 1.030 perdido a vida. Foi daquela base que o actual Presidente do Zimbabwe, Robert Mugabe, foi eleito como líder da União Nacional Africana do Zimbabwe - Frente Patriótica (ZANU-PF), actual partido no poder no Zimbabwe.
Canções religiosas, revolucionarias e deposição de coroa de flores no monumento erguido em memória dos perecidos, bem como testemunhos de alguns sobreviventes, marcaram o momento mais alto das cerimónias.
- Víctor Machirica