O ACADÉMICO cabo-verdiano Corsino Tolentino considerou, no sábado, que a diferença entre o que os fundadores da Organização da Unidade Africana (OUA) propuseram em 1963 nos planos político, económico e social e a situação actual do continente é decepcionante.
Comentando para a Inforpress os 49 anos da OUA, actual União Africana (UA), o antigo director-geral da Fundação Calouste Gulbenkian e agora funcionário do Ministério das Relações Exteriores de Cabo Verde, recusou, porém, falar em fracasso, mas admitiu que existe um "défice enorme" entre as expectativas dos anos 60 e a realidade actual.
Para Corsino Tolentino, em 1963, o objectivo principal da OUA era o de completar a independência política relativamente à colonização, "o que foi alcançado". Mas no processo de transição de colónia para país soberano, África deparou-se com uma "herança pesada", que se traduziu em vários problemas, uns resolvidos e outros que ainda aguardam por uma resolução. "A própria União Africana considera a paz como uma condição sine-qua-non para que haja desenvolvimento e respeito pelos direitos humanos, para que África possa avançar mais rapidamente", frisou, citado pela Agência Lusa.
No continente, além do problema da paz, há uma espécie de "deriva económica" que obrigou a que os recursos naturais em África, combinados com a dinâmica demográfica, não resultassem ainda naquilo que deveria ser uma taxa de crescimento elevada e, por conseguinte, uma "melhoria significativa" das condições de vida.
Corsino Tolentino entende que o continente continua a enfrentar situações "extremamente difíceis", com populações deslocadas por causa dos conflitos armados, mas lembrou que, nos planos político e científico, há uma procura constante de novas formas de organização, o que constitui um "indicador positivo".
"A África actual tem pouco a ver com a do século XVIII", sublinhou, acrescentando que existem "Estados muito frágeis e instáveis", mas que há outros que têm experimentado uma taxa de crescimento económico e de estabilidade política "verdadeiramente encorajadoras". O analista defendeu a necessidade de se melhorar as informações sobre África para que se possam fazer avaliações "objectivas" em relação à evolução do continente e à sua relação com o mundo.
A OUA foi criada a 25 de Maio de 1963 e, em 2000, foi substituída pela União Africana, visando colocar África no panorama económico mundial e resolver os problemas sociais, económicos e políticos dos países africanos, agravados pelo fenómeno da mundialização.