COM efeito, muita coisa se transformou nos últimos tempos no município de Nampula, dando a ideia de que se quer construir uma cidade moderna e desenvolvida. Se quer dar uma imagem de um município dinâmico e atractivo. Mas, gostaria que se ficasse ciente de que essas transformações pode não serem válidas ou visíveis enquanto não se valorizar também aquilo que em tempos idos fazia com que a ela (cidade), fosse referência nacional ou além-fronteiras, em matérias de beleza e limpeza, tal como é o caso da Rua das Flores, que hoje se encontra num estado total de abandono.
Triste realidade. É com profunda tristeza, principalmente quem, como eu, a conheceu e é pelo respeito e valorização pelas coisas belas e boas da nossa cidade, que hoje constata o estado lastimável de conservação e preservação em que se encontra aquela emblemática rua, daí que não possa deixar de expressar a minha opinião de que é hora já, de buscar soluções reais e verdadeiras para aquela rua.
Era uma via de “elite”, que encantava a toda gente, convidando-a à partilha de bons momentos e de amena cavaqueira, sentindo o profundo aroma das flores bem tratadas. Ela foi sempre da melhor maneira, tudo se fazia para que as suas flores fossem fresquinhas de tons diversos. Era uma referência obrigatória na cidade de Nampula. Embora situasse numa zona privilegiada, em termos de escoamento de águas pluviais e disponibilidade infra-estrutural, foi praticamente “engolida” pelos buracos que aparentam nunca terem sido, pelo menos, tapados.
Acima de tudo, era uma rua maravilhosa e indescritível, daí que hoje, tal como outros, fico com uma aflitiva sensação quando ali passo, e por mais que eu escreva aqui sobre ela, vai haver muita história que ficará por contar. Porém, não quero acreditar que haja quem queira “assassinar” aquela que foi o símbolo da boniteza e beleza elegante da capital do norte, deixando os grandes buracos a aumentarem a sua “boca” e “ditarem” a ordem, tudo o que se recorde dela não seja urgente preservar para que não se esqueça.
O outro “azar” da Rua das Flores é que, nos últimos tempos, ela tem andado nas bocas do mundo, por ter sido militarizada ou declarada pelos partidos políticos do nosso país, “zona de exclusão terrestre”, depois que o vitalício “pai” da democracia decidiu abandonar a cidade de Maputo para vir se instalar naquela rua. Quer dizer, a rua enfrenta uma nova realidade, desta feita de terror que não parece justificar a sua existência em tempos absolutamente de paz, resultante dos entendimentos de Roma, entre o Governo e a Renamo.
Ali a consciência de cada morador não está tranquila, tanto é que, o receio de que, com tantas armas que ali “pululam” não possa haver, a qualquer altura, nervosismo e falta de compreensão mútua, por parte dos homens da Renamo e da Polícia da República de Moçambique, que portam esses instrumentos bélicos, provocando confrontos, à semelhança do que aconteceu há bem pouco tempo na Rua Sem Medo, é uma preocupação constante dos residentes.
E porque a despeito das dificuldades, ameaças, hipocrisia política e tantos outros constrangimentos, temos razões de sobra para acreditarmos no futuro. Espero que a Rua das Flores tenha, a curto prazo, nova “roupa” e seja desmilitarizada a bem de todos e, particularmente, da reconciliação nacional. Até porque “não somos uma cidade morta”, onde cada um, incluindo os políticos, fazem as coisas da maneira que entendem e se ouvem com frequência lamentos condoídos. É, pois, chegada a altura de perguntar: por que tanto abandono, destruição e militarização daquela rua que está dito que tem um passado marcado pela história de uma cidade importante, neste caso, Nampula?
- Mouzinho de Albuquerque