SR. DIRECTOR!
É verdade que este “português” que nos une do (rio) Rovuma ao Maputo (capital), do (distrito) do Zumbo ao Índico (oceano) é uma herança colonial que dificilmente nos será arrancada por quem quer que seja.
Nem hoje, nem nunca. Mas há que perceber como funciona e se interliga a língua portuguesa, acima de tudo, como se pretende o seu uso no futuro. Brasil e Portugal, nessa matéria, estão bem encaminhados, no sentido de, por outras vias, assumirem o protagonismo de (in)formarem convenientemente os cidadãos da CPLP, pelo facto de serem estes países a tomarem a dianteira na padronização do “português”. Disso são prova as correcções ortográficas pelo uso do “português” (brasileiro ou português) quando usamos – o computador. A nós resta optar. Ou misturar com o que é nosso. Contra possíveis inconvenientes no futuro. Porquê?
Exemplo. Mas mesmo assim as reclamações não cessam, ora porque a qualidade de ensino (do primário ao superior) não é o desejável, ora porque algo foi vergonhosamente mal escrito (pronunciado).
ntretanto, quando se faz a apreciação dos detalhes no geral sobre o assunto, a língua “bantu”guês (português misturado com línguas nacionais), com as suas generalidades (de norte a sul) e especificidades (grau académico), se faz presente. Fazendo surgir um contencioso. Entre antigos “assimilados” (época do ultramar) e os novos usuários (pós-independência). Porquê?
O imbróglio cessa geralmente com intervenção (mediação) de um antigo estudante, no Brasil ou em Portugal. Disso é exemplo o que acontece na literatura, na classe jornalística, na advocacia, e de uma forma geral (abrangente) na educação. Mas porquê? Portugal, hoje, faz uma campanha sem precedente, utilizando os meios de comunicação (RTP) de que dispõem para difundir as novas regras de escrita. O Brasil faz o mesmo, utilizando a Internet (Mozilla Firefox). E nós? Como fazemos? Corrigimos obedecendo a que padrão? O português do ultramar (Salazar e Caetano) ou o pretendido pelo professor Cavaco Silva?
Contudo, para a nossa salvação (auto-estima), um encontro à escala nacional com personalidades ligadas as artes como: Paulina Chiziane, Ungulani Ba Ka Khosa, Filomone Meigos e outros da AEMO, Manuela Soeiro, Gilberto Mendes, Adelino Branquinho e outros do teatro, Stewart (Stuart), Salimo Mohamed, Mingas e outros músicos, a classe jornalística (de ontem e de hoje), académicos (estudantes), personalidades da sociedade civil, revela-se oportuno, de forma a desactivar o mau hábito de corrigir de forma duvidosa e ultrapassada as nossas expressões linguísticas (“xicalamidade” = calamidades ou “maparato” = pratos, etc.) e, acima de tudo, a nossa ortografia.
A partir desse momento, acreditem, não haverá espaço para se falar de má qualidade de ensino no país; de projectos de desenvolvimento mal elaborados (escritos) e prejudiciais ao meio ambiente; ou de interpretações ambíguas e desniveladas. Mas, como disse, é necessária uma concertação social, envolvendo estes actores, directamente globalizados, e de carácter urgente. Caso contrário, o nosso currículo académico, nossa literatura, etc., continuarão dependente da correcção de cidadãos do Brasil (maior interessado no acordo ortográfico) e de Portugal (país de origem). Ou aceitar o acordo ortográfico e divulgá-lo imediatamente como acontece em Cabo Verde e São Tomé e Príncipe (fluentes em crioulo), neste momento. Porque, a este ritmo, quando Brasil e Portugal implementarem na totalidade o acordo, mais nada pode ser feito para reter o avanço. Resta-nos adaptarmo-nos [atrelar] à nova realidade. Ou deixarmos como herança mais este problema (de escrita), entre nós (geração da viragem). Que pelo sim ou pelo não, deixa-nos numa posição imprópria.
- César Tagir