O país vai abrir oito mil vagas nos próximos cinco anos em vários sectores e promete salários médios 50% superiores aos portugueses.
Se procura uma oportunidade de emprego no estrangeiro, saiba que Moçambique vai criar oito mil novos empregos, nos próximos cinco anos, segundo um estudo recente da Ernst & Young intitulado "Building Bridges" dedicado ao continente africano. "As oportunidades são muitas e variadas e existe no país uma grande falta de profissionais qualificados pelo que, necessariamente, as empresas recorrem a mão-de-obra estrangeira", diz Ana Cardoso. A directora da Egor, grupo de recrutamento e selecção não tem dúvidas que os portugueses levam vantagem: são valorizados e estão "de alguma forma em vantagem relativamente a profissionais de outras nacionalidades pela questão linguística e cultural, elementos facilitadores de integração e aceitação".
Depois de mais de duas décadas de guerra civil, Moçambique é uma das economias em maior crescimento do mundo, nos últimos dez anos. E as previsões de crescimento do FMI para Moçambique, entre 2012 e 2015, apontam para valores na ordem dos 7,7% (média anual). Aliás, Moçambique deverá ser o quarto país com maior crescimento a nível mundial, depois da China, Índia e Etiópia, no período em análise, segundo o FMI.
Com um investimento directo estrangeiro esperado de cerca de 1,4 mil milhões de dólares, por ano, nos próximos cinco anos, os sectores onde haverá mais necessidades de mão-de-obra são "obras públicas e construção civil, hotelaria, banca, tecnologias de informação e comunicação (TIC) e indústria, já que muitas fábricas estão a começar a ser reparadas", afirma José Bancaleiro, ‘managing partner' da ‘executive search' Stanton Chase International. Ana Cardoso acrescenta a esta lista a energia, a formação profissional e educação, os transportes e a logística. "Nos últimos meses tem aumentado o número de pessoas que nos procuram e que querem ir trabalhar para Moçambique. O ambiente em Moçambique é muito agradável em termos de qualidade de vida. Muito ‘friendly', por exemplo comparativamente a Angola, onde é mais agressivo", acrescenta José Bancaleiro.
A directora da Egor confirma: "temos registado uma maior facilidade de adaptação/integração dos profissionais portugueses em contexto moçambicano comparativamente ao contexto angolano, tanto por questões conjunturais/políticas, como por ser um país com uma gestão mais ocidentalizada, com a qual os portugeses se identificam".
Viver em Moçambique
Um português que queira ir trabalhar para Moçambique, pode contar receber um salário cerca de 50% acima da média do que aufere em Portugal para desempenhar uma função idêntica, revela Ana Cardoso. Quanto ao custo de vida é "elevado, pelo que os profissionais deverão sempre negociar toda a logística para o seu alojamento", sublinha Ana Cardoso.
Contudo, o salário inferior, por exemplo ao que se paga em Angola, é compensado pela qualidade de vida", acredita o responsável da Stanton Chase, e "permite ter uma vida desafogada", adiantando que já há bons colégios em Maputo para quem não quer pôr os filhos na escola públicas. As casas é que são poucas e caras, acrescenta. É difícil conseguir um apartamento por menos de 1.500 dólares numa zona mais ou menos segura. José Bancaleiro destaca ainda que Maputo é melhor que Luanda em termos de segurança e de trânsito.
Quanto a obstáculos para quem quer ir para lá trabalhar, "prendem-se com os vistos de trabalho, nomeadamente pelas restrições que as empresas têm em termos de admissão de expatriados e da obrigação que têm em admitir, cada vez mais, colaboradores locais", sublinha a responsável da Egor. Assiste-se, por isso, a uma grande preocupação e investimento por parte das equipas de recursos humanos em formar os quadros locais.
O melhor e o pior
Para a engenheira química Vera Rodrigues, que vive em Moçambique há pouco mais de um ano, o maior obstáculo foi obter residência no país "para estar legal e sem preocupações". Vera Rodrigues que está a trabalhar numa empresa de extracção de carvão e vive na Beira, a segunda cidade do país, considera o nível de vida "bastante elevado", mas é possível ter uma qualidade de vida "que não se consegue, neste momento, em Portugal".
Não se sente insegura e o que mais a preocupa neste momento, em que está grávida, é o acesso à saúde, sobretudo por não estar na capital. Diz que a adaptação "não é um processo fácil. Mas assim que estamos ambientados e habituados ao dia-a-dia torna-se numa experiência fascinante". Destaca os safaris e os passeios em que é possível conhecer locais magníficos.
Para quem vai, como o jornalista Luís Leitão, o espírito é de expectativa. Aceitou "na hora" o convite para ir liderar uma revista em Moçambique "especialmente pelo desafio". "Nunca fui a Moçambique, tenho andado a informar-me e o que me dizem é muito positivo, o povo é afável e recebe bem os portugueses", acredita Luís Leitão.
Para Lurdes Tavares, economista, que está a liderar um projecto de cooperação português, a experiência de mais de quatro anos a viver em Moçambique "foi melhor do que esperava, a integração é fácil, a língua é a mesma e somos bem recebidos". Com boas condições financeiras tem-se melhor qualidade de vida, bom clima para quem gosta de calor, menos stress. Estar longe da família, para algumas compras é necessário ir a África do Sul, sobretudo roupa, sapatos... Aqui não há ou é muito caro".
Testemunhos
"Depois de ambientados o dia-a-dia torna-se fascinante"
Tinha um emprego na indústria farmacêutica, quando o marido, também ele engenheiro, recebeu uma "proposta muito aliciante". Em Abril de 2011 mudaram-se para a Beira, a 1.200 kms de Maputo. Foi sem trabalho, oito meses depois estava a dar aulas de Química na Universidade da Beira e hoje é técnica de controlo de processo da exportação do carvão na Vale. Diz que o nível de vida é caro e o que mais a preocupa neste momento, porque está grávida, é o acesso à saúde, até porque não vive em Maputo. Mas quando se encontra um trabalho a ganhar bem, tem-se "um nível de vida, que não se consegue, neste momento, em Portugal". E "quando estamos ambientados o dia-a-dia torna-se uma experiência fascinante". Vera Rodrigues - Engenheira Química, 30 anos
"Espero uma integração fácil"
Luís Leitão só ontem viajou para Maputo para onde decidiu mudar-se, "mais do que pela questão monetária, para abraçar um novo projecto, conhecer um novo país". Por isso, assim que surgiu a proposta para liderar uma nova revista de economia e gestão em Moçambique aceitou na hora. "Nunca fui a Moçambique, tenho andado a informar-me e o que me dizem é muito positivo, o povo é afável e recebe bem os portugueses, é um país em crescimento económico, vou na expectativa de que vai correr bem". Diz que vai de "mente aberta" e espera uma "integração fácil". Luís Leitão - Jornalista licenciado em Economia, 28 anos
"Somos bem recebidos"
Lurdes Tavares foi para Moçambique, há quatro anos, trabalhar num projecto de cooperação. A economista diz que o custo de vida "subiu muito nos últimos dois anos (cerca de 50%). É muito difícil encontrar um apartamento, numa zona mais ou menos segura, por menos de 1.500 dólares". Nunca teve problemas de segurança e afirma que com boas conndições financeiras tem-se melhor qualidade de vida que em Portugal, "o clima é bom para quem gosta de calor e há menos stress". Para compras como roupa é que é difícil. A experiência está a ser "melhor do que esperava, a integração é fácil, a língua é a mesma e somos bem recebidos", conclui. Lurdes Tavares - economista