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Por: Padre José Luzia – Nampula
Não me surpreendeu o que presenciei e vivi neste domingo, 17 de Junho, na Nacaroa, Decidira ir ao terreno aferir os pormenores do que se passara com a prisão dos padres.
Surpresa foi ter encontrado toda uma paróquia de mais de 60 comunidades, algumas a mais de 50 Kms, reunida em volta do seu pastor, o franzino P. Alexandre, com laivos de profeta e postura de visionário!
Os animadores de toda a paróquia quiseram fazer sentir ao seu padre que podia contar com eles contra tudo e contra todos. Apesar das calúnias, apesar das prisões injustas (ou sobretudo por causa delas).
Foi uma celebração de mais de 5 horas, presidida pelo P. Tobias, jovem padre dos Missionários de S.João Batista que, com a Irmã Hermínia e as Irmã Filomena (das Irmãs - Diocesanas - da Paz e da Misericórdia, quiseram também assegurar ao P. Alexandre (e ao Diácono António Jorge) , que os padres e irmãs nascidos naquela terra, tinham por eles muito carinho, muita estima, muita confiança e que as calúnias dos jornais e da TVM em nada afectara o seu apreço e a enorme esperança com que olham para a crescente afirmação de uma Paróquia que os padres diocesanos de Nacala estão erguendo da degradação em que o Padre Ramane e o P. Inacio a encontraram quando lhes foi devolvida depois de um longo período de ocupação nacionalizada.
Sim, os Padres Diocesanos fazem da Missão da Nacaroa a sua Casa-Mãe, o ícone dos seus empenhos por uma Igreja relevante no anúncio da Palavra viva de Jesus Cristo com sinais visíveis na solução dos problemas graves do povo (neste mundo). Por isso construíram uma barragem – obra do saudoso Padre Paulo Raul - e meteram ombros à produção de comida nos vastos campos que, em tantos outros lugares similares, estão incultos. Nos tempos de maior carência popular, é ela que minimiza o sofrimento e a fome das pessoas da zona no modelo “Comida por Trabalho”.
É esta enorme esperança, simbolizada por uns padres para lá do figurino habitual, que os ladrões roubam e prejudicam. Foi isto que os jornalistas poderiam ter visto, quando para lá foram, há um mês, sob o alarme venenoso de um secretario de bairro – Zacarias de seu nome – que, no dizer de uma residente de Nahage, não suporta a presença de padres tão interessantes.
Bastar-lhes-ia, como profissionais dignos e competentes, terem mantido a frieza e a objectividade da ética jornalística que, antes de propalar seja o que for, investiga.
Não lhes teria sido difícil falar com as mesmas testemunhas oculares do povo simples, também protagonistas dos acontecimentos, com que eu falei. Pessoas, algumas das quais familiares dos ladrões, que os capturaram depois de uma noite inteira de buscas, e levaram as respectivas esposas a dormirem – confortavelmente, note-se-, nos quartos que servem também para todos os hóspedes e animadoras e animadores das comunidades da paróquia (como aconteceu agora neste domingo) e sem qualquer fechadura por dentro ou por fora como um trabalhador da missão agora me mostrou.
Mas foi isso que a sede de sensacionalismo (anticatólico?) impediu que se visse e, em vez disso, se procurasse, apaixonadamente, distorcer a realidade e a informação objectiva e factual. Sei, pessoalmente, como um desses jornais, há anos, também me caluniou, dizendo, sem me ter perguntado o que quer que fosse, que nós, na Escola Polivalente do Marrere, não queríamos pagar os salários aos professores. Agora, tudo leva a crer que o mesmo jornal, reincidente na versão distorcida que propala desde a primeira hora – juntamente com a TVM - se tenha limitado ao secretário Zacarias e seus próximos que, sabe Deus a mando de quem, foi tão pressuroso a forjar, do dia para a noite, uma carta incriminadora que, no dizer do comandante da PRM de Nacaroa, “virou o feitiço contra o feiticeiro”, deixando, pela zelosa acção do agente da PIC, logo corroborado pelo procurador distrital, e igualmente sem qualquer investigação digna desse nome, no terreno, os ladrões em liberdade e os padres – produtores de comida e combatentes contra a pobreza - na cadeia! Infame! Felizmente, o aparelho judicial também se apressou a funcionar com a brevidade possível e os erros de nível distrital foram corrigidos pelas instâncias provinciais e restituíram-nos os padres à liberdade!
Que bom que seria se assim acontecesse sempre!
Prometemos, se necessário, voltar ao assunto.
O AUTARCA – 21.06.2012