“Presidência Aberta” à Ilha de Inhaca
Uma semana antes do presidente da República, Armando Guebuza, viajar para a Ilha de Inhaca, em “Presidência Aberta”, foi enviada uma equipa de avanço que levava uma luxuosa viatura de marca Toyota Land Cruiser Prado, que iria transportar o chefe de Estado no terreno.
Mas a viatura não chegou ao destino porque o barco naufragou. Ela está hoje no fundo do mar, “a cerca de vinte metros de profundidade”.
A viatura era transportada numa embarcação do tipo lancha com porta articulada à frente, conhecida por Work Boat (barco de trabalho), pertencente ao Instituto Nacional de Hidrografia e Navegação (INAHINA).
O barco do INAHINA naufragou algures na Baía de Maputo, depois de ter estado amarrada a uma bóia de sinalização no canal de acesso ao Porto de Maputo, devido ao estado do mar, contaram-nos marinheiros que operam na mesma zona.
A embarcação já foi rebocada para terra, mas a viatura ainda está no fundo do mar. “O “Work Boat” não chegou a afundar completamente, por isso o seu resgate foi possível”, disse-nos um marinheiro que não quer ser identificado publicamente.
“Ficou a meia água”.
A viatura precipitou-se para o mar e está algures no fundo da Baia de Maputo. Quatro pessoas que seguiam na embarcação também se fizeram ao mar, três marinheiros do INAHINA e um motorista da viatura que iria transportar o chefe de Estado, Armando Guebuza, na sua visita à Inhaca no âmbito da “Presidência Aberta” à província de Maputo-Cidade, que corresponde em termos territoriais ao Município de Maputo. A Imprensa, especificamente o Canal de Moçambique na sua versão digital – o Canalmoz – noticiou a ocorrência em tempo oportuno, ou seja, no dia a seguir ao naufrágio, mas sem muitos detalhes, dado que o director do INAHINA, Augusto Bata, que foi contactado para dar informações detalhadas sobre a ocorrência, se recusou a falar, tendo apenas confirmado o naufrágio. Posto isso, acabamos publicando a versão que apurámos através das nossas investigações, sem que a informação oficial seja prestada pelo INAHINA.
Até ao fecho desta edição o INAHIMA continuava a não querer disponibilizar a sua versão sobre os factos.
Os factos que apurámos
Fontes do INAHINA, mas não oficiais, informaram-nos que a embarcação que naufragou não possuía Certificado de Inspecção que todas as embarcações devem ter, que é emitido pela Administração Marítima.
Só com este certificado as embarcações estão autorizadas a navegar.
De acordo com essas nossas fontes, a manutenção do casco, operação que é feita em doca, não estava em dia.
Disseram-nos ainda que a embarcação do Instituto Nacional de Hidrografia e Navegação naufragou na manhã de terça-feira, 05 de Junho de 2012, na Baía de Maputo, quando transportava uma viatura do Governo da cidade de Maputo, para a Ilha de Inhaca.
O frete era de facto do Governo Provincial de Maputo-Cidade.
Depois do Canalmoz ter publicado a notícia, fonte anónima deixou um comentário à notícia na Internet, alegando que a viatura que está agora no fundo do mar não é do Governo da cidade, mas, sim, havia sido alugada pelo Governo da cidade de Maputo a uma empresa de rent-a-car denominada “K Car”.
A natureza caricata da informação interposta por essa fonte anónima na Internet numa tentativa de desacreditar a versão do Canalmoz, levou-nos a procurar mais esclarecimentos, mas o INAHINA bloqueou totalmente a questão, não se dignando a responder aos nossos emails.
O Governo e a própria presidência da República têm uma frota enorme de viaturas, não se entendendo por isso que razão teria levado a que se alugasse um carro a uma empresa rent-a-car a não ser que alguém procure meter dinheiro do Estado em empresas familiares ou em bolsos de amigos de dirigentes ou funcionários incumbidos de preparar as condições do chefe de Estado nas suas “Presidências Abertas”.
Nas nossas investigações, disseram- nos ainda que a viatura Toyota Land Cruiser Prado foi adquirida na Toyota de Moçambique. “Sem direitos está à volta de 125 mil USD”. “Era zero quilómetro”.
As quatro pessoas que seguiam no barco no momento do naufrágio acabaram sobrevivendo, segundo apurou o Canal de Moçambique.
INAHINA sonega informação
O INAHINA (Instituto Nacional de Hidrografia e Navegação) é a instituição governamental responsável pelos serviços de navegação em águas do território moçambicano. Está subordinado ao Ministério dos Transportes e Comunicações. A embarcação que naufragou é sua propriedade.
Falámos directamente com o director da instituição, Augusto Bata, para nos prestar informação sobre as circunstâncias do naufrágio e esclarecer as condições em que a embarcação se encontrava, mas preferiu sonegar-nos a informação.
Num primeiro contacto, no dia a seguir ao naufrágio, Augusto Bata confirmou a ocorrência, mas disse que não pretendia falar de coisas técnicas quando ainda estava a decorrer o resgate da embarcação e assistência às vítimas humanas. Prometeu dar mais esclarecimentos “amanhã” (quinta-feira). Na quinta-feira não deu a informação que prometeu e só conseguimos voltar a falar com ele na segunda-feira desta semana e de novo voltou a criar dificuldades para não nos conceder a entrevista.
No segundo contacto, Augusto Bata disse que devíamos formular questões por escrito e enviá-las ao INAHINA para organizar as respostas.
Fizemo-lo em menos de uma hora e mandamos. Ele confirmou a recepção via SMS, mas até ao fecho da presente edição as respostas ainda não nos haviam chegado.
Outras viaturas transportadas à vela
O presidente da República, entretanto, visita Inhaca e para o efeito foi adoptado um outro meio para fazer chegar as viaturas àquela ilha que é um distrito urbano da cidade de Maputo.
Foram levadas para a Inhaca três viaturas. Uma para o chefe de Estado. As viaturas foram por terra até Machangulo e atravessaram o canal de Santa Maria no bojo de embarcações à vela.
Por cada viatura, é cobrado, pelos donos das embarcações, 14 mil meticais em cada sentido, ida e volta.
O preço que o INAHINA cobra geralmente para transportar viaturas para a Inhaca ronda os 50 mil meticais.
Canal de Moçambique – 13.06.2012
NOTA:
E assim se vai combatendo a pobreza…neste belo Moçambique!
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE