Leiam este discurso do Dr. Eduardo Mondlane, antes do ínicio do I Congresso da FRELIMO, e concluam:
DISCURSO PROFERIDO PELO DR. EDUARDO CHIVAMBO MONDLANE, PRESIDENTE DA FRELIMO
Compatriotas.
Sentimos um grande prazer por, mais uma vez, vos ver reunidos nesta sala. Estivestes aqui presentes ontem feriado, e depois de um longo dia intenso de trabalho, eis que vos vemos novamente.
A vossa presença constitui em si uma prova indiscutível do interesse que tendes pela árdua luta contra o colonialismo. Mostra ainda que nenhuma circunstância, por mais difícil que ela seja, vos impedirá de continuar a lutar.
O povo da África e particularmente de Moçambique quer seguir para a frente.
Fazemos para que mantenham esse espírito pois terão necessidade dele na luta de libertação de Moçambique.
A sessão de hoje é de subida importância na história do nosso país. Segundo o que supomos, é original, na história de Moçambique, o facto de um grupo de nacionalistas se reunirem para apresentarem os problemas concernentes ao seu país, e procurarem soluções para eles. Sentimos um especial prazer por participarmos neste momento histórico. Estamos aqui para estabelecermos as bases de acção que nos conduzirão à libertação do nosso país.
Durante muitos anos o nosso povo não percebia a razão por que os jovens de Moçambique não tentavam libertar a terra-mãe. No exterior muitos também não percebiam. Naturalmente nós que participamos na luta tínhamos outra opinião. Desde que Portugal conquistou a nossa terra há umas centenas de anos, tem-se verificado levantamentos esporádicos tendentes a libertar o país do jugo estrangeiro. Muitos dos nossos avós recordam-se ainda das lutas que travavam na altura em que os portugueses conquistaram a nossa terra e quando vários países europeus partilharam o nosso continente.
Recentemente vós fostes testemunhas dos massacres perpetrados pelos bárbaros portugueses contra o nosso povo, pelo simples facto de desejar a sua legítima liberdade. Alguns morreram lutando politicamente, e outros em greves e outras formas de rebelião contra a exploração dos imperialistas europeus. Mesmo agora temos recebido notícias de Moçambique segundo as quais milhares de indivíduos se encontram presos pelo facto de repudiarem o colonialismo português em Moçambique.
Em poucos anos temos assistido a formação de partidos políticos tanto no exterior como no interior de Moçambique, há apenas três meses que esses partidos se fundiram num só movimento, o único até à data, a FRENTE DE LIBERTAÇÃO DE MOÇAMBIQUE. Alguns de vós estarão ainda em dúvida sobre a nossa capacidade de UNIÃO. Ora a vossa participação neste momento sob o jugo do colonialismo português com milhares de indivíduos que se encontram nas prisões, com os que estão prontos a lutar, com aqueles que morreram nas minas, com todos aqueles que sofrem.
Nós estamos ligados aos povos de Angola, Cabo Verde, da Guiné "Portuguesa" e de São Tomé e Príncipe, que sustentam uma luta sangrenta. Durante o ano passado foram mortos muitos patriotas angolanos, e hoje continuam a ser. Nós estamos unidos aos povos da África do Sul e da Rodésia do Sul, que ainda há poucos dias foram proibidos de exercer acção politica legalmente. Estamos unidos aos povos de toda a África e a todos aqueles que estão sob o jugo estrangeiro.
Ora os seus trabalhos não são mais do que uma parte do nosso esforço geral no sentido da libertação da África.
Assim, pois, a libertação de Moçambique não terá nenhum sentido enquanto houver povos africanos oprimidos. Por isso é também vosso dever consagrarem-se totalmente a liquidação da dominação estrangeira do nosso continente.
Temos apoio de numerosos povos africanos e não-africanos. Tanganyika, que está aqui representado, é um deles. Apresentamos os nossos sinceros agradecimentos pelo auxílio que o Governo de Tanganyika nos tem prestado.
Estamos aqui reunidos para prepararmos o caminho que nos conduzirá à liberdade. Hoje à noite mesmo formaremos as comissões necessárias ao bom andamento dos trabalhos. Bom sucesso aos trabalhos do nosso I Congresso!
NOTA:
Discurso retirado do livro “Datas e Documentos da História da Frelimo” de Armando Muiuane (pág.16 e 17) sem referência de data, mas que se presume ser a 23 de Junho de 1962, 1º dia do I Congresso.
Neste discurso afirma Eduardo Mondlane que “Em poucos anos temos assistido a formação de partidos políticos tanto no exterior como no interior de Moçambique, há apenas três meses que esses partidos se fundiram num só movimento, o único até à data, a FRENTE DE LIBERTAÇÃO DE MOÇAMBIQUE.
Pode-se assim concluir que Eduardo Mondlane não foi fundador da FRELIMO (só na véspera do Congresso se filiou na UDENAMO) e que a sua fundação não foi a 25 de Junho de 1962 mas “há apenas três meses” antes daquele dia.
E quem o afirma é o próprio Eduardo Mondlane!
Mais, na altura deste discurso Eduardo Mondlane ainda não era Presidente da FRELIMO.
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE