A FRELIMO, partido no poder em Moçambique, assinalou esta semana os 50 anos da fundação com um simpósio marcado pela denúncia contra "o ataque e a distorção" da sua história.
Membros fundadores e quadros históricos do partido libertador moçambicano foram oradores no simpósio promovido na sexta-feira e sábado na cidade da Matola, a cerca de 10 quilómetros da capital moçambicana, marcando um dos pontos mais importantes do jubileu da organização, que se comemora no próximo dia 25.
Apesar de não terem participado no congresso da fundação, a 25 de junho de 1962 em Dar es Salaam, capital da Tanzânia, o atual presidente do partido e também chefe de Estado, Armando Guebuza, e o seu antecessor nos dois cargos, Joaquim Chissano, prenderam a atenção do simpósio pela virulência com que defenderam o partido contra "os que põem em causa a sua unidade e autenticidade".
Alguns académicos e analistas contestam a posição oficial da formação política no poder de que o partido completa 50 anos, sustentando que a FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) só se declarou partido em 1977, durante o III Congresso, deixando aí de se designar apenas por Frente.
Alguns círculos, com base em depoimentos de figuras que mais tarde abandonaram o partido, refutam também o protagonismo do primeiro presidente do movimento, Eduardo Mondlane, como fundador da organização, argumentando que ele chegou apenas no dia da eleição da direção, quando a designação já havia sido adotada pelos três movimentos que se fundiram para dar lugar à guerrilha unificada contra o colonialismo português.
No discurso durante o simpósio, Armando Guebuza rebateu as teorias que questionam a história oficial do partido, considerando-as uma tentativa de desvirtuar a verdade sobre a formação política.
"Não nos surpreende que seja a nossa história que esteja a ser atacada, vilipendiada e distorcida. Os que fazem isso têm consciência do papel da nossa história na construção da nossa memória coletiva, na consolidação da nossa autoestima e no reforço do sentido de moçambicanidade e de comunhão de destino", realçou o presidente da FRELIMO.
Para Armando Guebuza, que se juntou ao movimento um ano após a fundação, "negar a história da FRELIMO seria como negar a árvore genealógica, como cidadãos, seria comparável a decepar parte da FRELIMO para agradar aos seus detratores".
No mesmo tom, Joaquim Chissano, ex-presidente do partido e antigo chefe de Estado moçambicano (1986-2004), desvalorizou a ideia de a FRELIMO ter perdido a sua identidade, com a conquista da independência, a adoção do marxismo-leninismo e mais tarde a abertura multipartidária.
"A FRELIMO que celebra 50 anos é a mesma de 1962. A FRELIMO nasceu com ideias nobres e ainda hoje defende superiormente esses ideais, os mesmos que nos guiam", enfatizou Joaquim Chissano, que aderiu ao movimento em 1963.
PMA.
Lusa - 16.06.2012
NOTA:
Mondlane tinha outra ideia do que seria a FRELIMO. Veja-se:
"Dr. Mondlane era um homem brilhante. Ele afirmou muito claramente que a FRELIMO não era um partido político, mas uma Aliança. Partidos políticos seriam formados após a independência e iriam participar nas eleições. Sua ideia era que FRELIMO seria exibida em um Museu como um símbolo do respeito e da vitória contra os portugueses."
In The Life and Walks of Dr. José C. Massinga (1930-2010), de Solomon Mondlane
Teríamos assim um Moçambique democrático logo na independência. Mas isso não convinha a um determinado grupo. É só seguir a História…
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE