A Frelimo optou pelo triunvirato na liderança do movimento, após o assassínio do seu primeiro presidente, Eduardo Mondlane, para travar a ascensão de Uria Simango, "um líder um bocadinho fraco", disse à Lusa o combatente anticolonial Mariano Matsinha.
Quando, em 1969, Eduardo Mondlane, fundador da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), foi assassinado à bomba em Dar-Es-Salaam, na Tanzânia, o então movimento libertador decidiu que a liderança fosse tripartida.
A direção da Frelimo ficou delegada a Samora Machel, Marcelino dos Santos e Uria Simango, mas este último ficou desagradado com a medida, disse Mariano Matsinha.
No I Congresso, após a criação da Frelimo, em 1962, Eduardo Mondlane foi eleito presidente, com 80 por cento dos votos, e Uria Simango, com 20 por cento, ocupou o estatuto de vice-presidente, contou o militante.
Mas a decisão de não o colocar, imediatamente, como substituto legítimo de Eduardo Mondlane foi premeditada, porque "ele (Uria Simango) era um líder um bocadinho fraco. Era pastor. Um pastor dirigir uma guerra não é brincadeira, é uma violência muito grande", afirmou à Lusa o veterano da luta de libertação nacional.
Falando no âmbito dos 50 anos da fundação da Frelimo, que se comemora na segunda-feira, Mariano Matsinha reconheceu que, na altura, "a situação era muito difícil e complexa", até porque o triunvirato na liderança do movimento não durou.
Nos finais da década de 1960, a Frelimo foi afetada por lutas internas e Uria Simango abandonou a Frelimo "fugiu com a família para o Egito".
O antigo número dois da Frente de Libertação de Moçambique "estava com medo da sua própria vida, porque pensava que havia, na Frelimo, indivíduos contra ele e que podia ser assassinado", afirmou Mariano Matsinha.
"Na guerra você pode ser assassinado a qualquer altura. Mondlane foi assassinado. Mas se você tem medo é melhor afastar-se", respondeu, quando questionado pela Lusa sobre os receios de Uria Simango.
No Egito, Uria Simango juntou-se a Paulo Gumane, então vice-secretário geral da Frelimo, e formaram o Comité Revolucionário de Moçambique (COREMO), um inexpressivo movimento de libertação.
"Desde que ele fugiu para Cairo (Egito), a Frelimo tinha-o marcado. A Frelimo era muito exigente naquela altura. Não é hoje em que há multipartidarismo. Naquela altura ou você é, ou não é. Corta-te o pescoço. Exatamente, reacionário, rua", lembrou Mariano Matsinha.
Após o 25 de abril de 1974, Uria Simango regressou a Moçambique mas seria julgado, condenado por traição aos princípios do movimento e morreu, mas a data, o local e como morreu são, até hoje, desconhecidos da opinião pública.
"O julgamento que foi feito também não assisti, pois foi em Nachingwea (base militar da Frelimo na Tanzânia). Não assisti, portanto, não conheço todos os detalhes desta coisa", confessou Mariano Matsinha, que, no entanto, continua a defender que "quem abandona (um movimento de libertação) por medo, é reacionário".
MMT.
Lusa – 23.06.2012