BEM, o assunto é polémico, aliás, alguns dos progenitores deste movimento independentista nacional teimam em dizer que uma vez uma camisa é branca, jamais será preta.
A Frelimo, para mim e penso que para tantos parcos observadores moçambicanos comuns deste país, vem vestindo várias cores desde a sua criação, há 50 anos, até aos dias que correm. E as metamorfoses não são aquelas a que a ciência tanto se refere para a evolução e/ou vivência das mesmas, mas porque os ideais vão mudando, à medida que o tempo também vai passando. Espero que ninguém me faça uma pergunta que não espero. Mas, uma questão de defesa: afinal de contas, se os tempos mudam, por que motivos as vontades não farão companhia?
A Frelimo que libertou o país, doa a quem doer, isso para aqueles que não reconhecem isso, era uma organização cujos ideais e desenhos de dirigir o país eram diametralmente diferentes dos de hoje. Eu cresci sabendo que a Frelimo é que libertou o país do jugo colonial, produto de fusão de três movimentos nacionalistas. Eduardo Chivambo Mondlane foi quem viabilizou esta fusão. Alguns escritos da altura vieram, mais tarde, dar a ideia de que o unificador tinha ideias progressistas, e não, concretamente, de cariz comunista e/ou socialista. Aliás, o comunismo é a fase mais alta do socialismo, onde todos repartem o mesmo pão que Lenine amassou com os seus comparsas bolcheviques.
A luta foi ganha e, logo a seguir, o que se implantou foi o regime de desenvolvimento em que a propriedade privada era um termo proibido. O património móvel e o imóvel, o parque industrial e tantos outros bens públicos e outrora privados pertenciam ao Estado socialista. Ninguém podia usar uma empresa para explorar a mão-de-obra nacional. A ideia que se tinha era de que tudo quanto era máquina colonial devia desaparecer da mente dos moçambicanos. Os bens eram do povo, o poder político era exercido pelo povo, os tribunais até eram chamados de populares, para não dizer que o próprio país era designando República Popular de Moçambique.
Aliás, depois que Eduardo Mondlane foi assassinado, a lufa-lufa pela sua sucessão foi silenciosa, tendo-se indicado Samora Machel para lhe suceder. As clivagens internas não vieram ao de cima, na altura, e todo o povo moçambicano recebeu com apoteose os “camaradas” que trouxeram a independência para Moçambique. Diz-se que as clivagens tiveram o seu início na tal magna reunião ocorrida na Praia do Tofo, lá nas bandas da “terra de boa gente”, Inhambane. Curiosamente, até aos dias de hoje, fala-se muito pouco do que terá acontecido naquele dia. Tudo quanto se sabe, apenas se aprovou a primeira Constituição da República Popular de Moçambique. A Frelimo ditou os seus ideais e o “Viva Viva a Frelimo” vincou a sua classe, salientando a luta heróica da Frelimo como frente libertadora do país. Só que…
- Arlindo Oliveira