NÃO pretendo levantar fantasmas, pois eles não existem, para este caso. Dou apenas o meu ponto de vista, são rápidas reflexões e observações meramente pessoais. Mas o certo é que quem viveu a Frelimo, ontem, certamente que nota uma diferença de dia para noite.
Já fiz referência que quando os tempos mudam, a epopeia das vontades também sofre alguma mutação. Ontem, a Frelimo ditava certos ideais, as de que tudo se fazia em benefício do povo, daí que, a propriedade privada não existia. Ninguém podia substituir o colonialista na ostentação da riqueza. Dizia Samora Machel que a Frelimo não chegou para substituir explorador brancos por negros, a Frelimo não libertou o país para ocupar o lugar dos brancos colonialistas. Plasmava que o executivo da Frelimo, entanto que partido político, tinha como missão desenvolver o país em benefício das classes operária e camponesa.
Naquele tempo, depois que a Frelimo se instalou como timoneiro do desenvolvimento deste país de Eduardo e Samora, até se tinha machambas do povo, tinha-se as lojas do povo, as cooperativas onde havia rancho para todos, pondo de lado aquelas longas filas. Naquela altura, o controlo era maior, ou melhor, as inspecções de Comércio funcionavam, daí que se falava de açambarcadores e de candongueiros dos produtos básicos.
Aquela Frelimo que nos dirigia, não admitia a existência de criminosos, de ladrões, de prostitutas, de improdutivos, de xiconhocas e sei lá que mais tipo de gente do alheio. Podia-se circular à vontade durante o dia, bem como à noite. O cartão de residente era suficiente para não duvidar da conduta do seu dono. O tempo da circulação, embora não limitado, o interpelado pelos milicianos tinha que se justificar por que motivo circulava, por exemplo, à zero hora. Tudo estava sob controlo. Hoje, os nossos “polícias comunitários” têm outra postura, aliás, basta a gente se recordar daquela canção do nosso ilustríssimo Roberto Chitsondzo, falando de contrastes, em que o polícia rouba ao ladrão, o médico põe-se às vilas-de-diogo abandonando os pacientes e os deficientes físicos fogem das canadianas.
Penso que a Frelimo que nos dirige, hoje, de ontem apenas ostenta o nome, aliás, o nome não mudou, mas as políticas mudaram de dia para noite. Ontem, não tínhamos crianças sentadas debaixo de cajueiros para receberem aulas. Hoje, o país é exímio na exportação de madeira em bruto, porque a ganância pelos dólares é maior. É caricato, meus compatriotas, assistirmos a exportações maciças e desenfreadas de toros de madeira, quando na esquina mais próxima daquela empresa exportadora estão sentadas pequerruchos debaixo de uma árvore. Será que esta Frelimo de hoje considera as crianças “como as flores que nunca murcham”? Com a Frelimo de há 50 anos, a criança estava no topo das suas atenções!
Ontem, a diferença das classes sociais não era notória. Tinha-se um certo padrão de vida. Bastou que Samora Machel passou deste mundo para o outro, os seus ideais também o acompanharam. É verdade que ele tinha na mente mudar um pouco o rumo do desenvolvimento deste país, contudo, penso que o progresso que ele desenhava prosseguir, não seria tão selvático quanto o que vivemos nos nossos dias.
- Arlindo Oliveira