Por Marcelino Sithole
A televisão global apresentou-nos a Doutora Graça Simbine Mandela, em Damasco, ao lado de Kofi Anan, que foi o melhor secretário geral que até hoje passou pelo palácio de vidro da Organização das Nações Unidas, em Nova Iorque.
Só queríamos informar a nossa Doutora Graça, que os moçambicanos têm os olhos postos na sua seriedade e falta de vaidade. Não são só os olhos da Terra da Boa Gente, são também os olhos do Planalto Maconde rebelde, dos nevoeiros do Niassa, da Zambézia e por aí fora até à Ponta do Ouro. Não são só os olhos das raparigas e mulheres de Moçambique, são também os olhos dos homens, que trabalham dentro e fora do país para ganhar a vida e desenvolver Moçambique. São sobretudo os olhos dos alunos e estudantes, sem esquecer os do meu chará ronga-monhé-britânico-macua mergulhado nos seus sonhos e ideais de infância moçambicanos.
Será muito difícil concertar as nações há muitos séculos desavindas do Irão e da Turquia, mas a nossa Doutora Graça ao lado de Koffi Anan vai certamente evitar, que a Síria, que não tem petróleo, nem ouro, nem diamantes, se torne o bode expiatório das desavenças entre os seus vizinhos mais poderosos.
Até porque, para fazer subir a bandeira de Moçambique no concerto das nações, e fazer esquecer os dois fracassos do venerável Joaquim Alberto Chissano, bem precisamos do sucesso da Doutora Graça.
Moçambique deve ao venerável Joaquim Alberto Chissano, com a ajuda da RENAMO, a paz civil e a democracia britânica de que é grande admirador.
Porque é que ele falhou em Madagascar e na Guiné?
Em Madagascar, com os macuas de Moçambique e os macuas de Madagascar, com laços humanos, económicos e culturais, que antecedem de muitos séculos a chegada dos indianos, árabes e portugueses, tinha tudo para obter um grande sucesso, mas desconseguiu. Depois da sua intervenção o povo pacífico, trabalhador e disciplinado de Madagascar continuou, privado de financiamentos internacionais, a desenvolver-se pelo seu próprio esforço e fracos recursos.
Em Bissau também desconseguiu e ainda pior. Tornou-se responsável indireto pelo assassinato do General Batista Tagme na Waye, o homem grande que tinha proíbido política nos quartéis e mantinha a estabilidade do país, a disciplina do exército e a distância dos narcotraficantes, assim como pelo atraso da vários anos no desenvolvimento da Guiné. Quando o nosso consultor internacional lá chegou, havia um candidato do PAIGC, que reunia todas as condições para pôr o país a trabalhar, mas o venerável Chissano aplicou a política do Senegal que recebeu pelas correias de transmissão do governo francês e do ministro dos negócios estrangeiros português. Foi preciso esperar pelo assassinato do incompetente João Bernardo Nino Vieira, em 2 de Março de 2009, para poder eleger o candidato do PAIGC, Malam Bacai Sanhá.
Na Guiné também, Moçambique reunia as melhores condições e tinha o dever de conseguir um sucesso. Há no Alto Maé uma rua com o nome do Coronel Honório Barreto, um homem grande guineense, que, como o General Batista Tagme na Waye no início do século vinte e um, defendeu a independência, integridade e estabilidade da Guiné, nos meados do século dezanove. O seu nome foi dado a essa rua pelos nacionalistas moçambicanos dos finais do século dezanove e início do século vinte, solidários dos nacionalistas guineenses, como forma de protesto contra a oferta de Zinguichor e da Casamansa à França. Nos meandros do desconcerto das nações para se apoderarem dos territórios do continente africano, o Rei de Portugal, que já tinha perdido a batalha do mapa côr de rosa e do grande Moçambique, corrompeu o árbitro Presidente Mac Mahon oferecendo-lhe Zinguichor, vila natal do Coronel e grande Governador da Guiné Honório Pereira Barreto. O Rei de Portugal conseguiu assim manter a unidade de Moçambique do Rovuma ao Maputo.
Foi desta maneira que o venerável Joaquim Alberto Chissano não governou uma Gazalândia britânica de que ficou com saudades. Governou Moçambique inteiro e não vamos agora discutir se foi um bom ou mau governo o seu, porque já lá vai e agora não governa. Com a ajuda do seu competente primeiro ministro até fez notáveis esforços para tirar Moçambique do poço económico, que identificou e que leva o seu nome.
Só nos interessa, com os olhos postos na Doutora Graça, tirar lições dos seus dois fracassos, como consultor internacional, para levantar a bandeira de Moçambique no concerto das nações. Tudo indica que o venerável Chissano não conhece a história, nem a do seu próprio país. Parece-nos que se preocupa sobretudo com a sua imagem junto dos países poderosos e não toma em consideração as condições e interesses dos países mais pequenos onde devia ter resolvido os problemas. Parece bem fraco em consultoria internacional, mas felizmente o venerável Chissano já estabeleceu a sua fundação para estudar história e para se concentrar nos problemas da educação e do desenvolvimento de Moçambique.
Antes das eleições presidenciais que se avizinham, podia-nos esclarecer, uma vez para sempre, porque é que o melhor candidato, que tínhamos, o Professor Eduardo Chivambo Mondhlane já não se pode apresentar? Está disposto a seguir o seu exemplo de confiança no povo moçambicano e nos operadores económicos que já aqui trabalham, numerosíssimos, uns mais educados do que outros, uns pequenos, outros maiores, a começar por Armando Guebuza, o primeiro e maior capitalista moçambicano, que não perdeu tempo em politiquices e acumulou capital nacional sem manchas de sangue nem cheiro de narcóticos, desfalcando as dívidas do país?
Cuidado, venerável Chissano, abstenha-se de promover mais politiquices e lutas intestinas dentro e fora da FRELIMO. Isso não é digno das nossas tradições. Aprenda a manter-se isento, tanto em tarefas de consultoria internacional, como nas tarefas do desenvolvimento económico de Moçambique.
Moçambique não quer eleições presidenciais com centenas de mortos como as do Quénia.
Moçambique ainda não saiu do poço de Chissano. Ajude quem for o mais competente e devidamente eleito para prosseguir a sua obra, que foi também e sobretudo a obra do Doutor Pascoal Mocumbi.
Fevereiro de 2012