A talhe de foice
Por Machado da Graça
A questão dos raptos, que parecia ter tido fim após a libertação, por polícias estrangeiros enviados pelo Aga Khan, de uma senhora, voltou à ordem do dia.
Agora com contornos que parecem diferentes. Desta vez os raptores exigiram que o resgate milionário fosse pago na Nigéria.
E digo “que parecem” porque, nos casos anteriores, nunca ouvi dizer onde foram pagos os resgates. Se calhar também foram na Nigéria, quem sabe…
Mas o que é certo é que os malfeitores voltaram a atacar deixando, de novo, a comunidade dos empresários de origem indiana, em pânico.
Do lado das autoridades continua o silêncio, pesado como chumbo. Quando se dignam abrir a boca é para dizer frases do tipo “Há um trabalho que está a ser feito”, que é a fórmula encontrada pelo nosso Executivo para não dizer nada mas fingindo que está a dizer alguma coisa.
Mas, das duas, uma: Ou o caso, resolvido pelos polícias franceses, faz parte da mesma série que todos os outros, ou os raptores formam duas, ou mais, quadrilhas diferentes e sem ligação umas com as outras.
No primeiro caso, acredito que as investigações, que foram realizadas, não devem ter tido, apenas, o efeito de libertar a senhora. Hão-de ter dado, igualmente, informações sobre a identidade e os métodos dos raptores.
No segundo caso, pode-se presumir que o rapto daquela senhora foi um episódio isolado dos outros e a sua solução não contribuiu, de forma nenhuma, para a resolução dos outros casos.
Mas, seja qual for a verdade, a opinião pública já deveria, há muito tempo, ter sido informada sobre os implicados no rapto daquela cidadã. Pelo menos isso.
Pelo meio apenas se falou da transferência, para as celas do Comando da Polícia (lugar onde, ao que parece, se morre e, talvez, se mata às escondidas) dos “suspeitos do costume”, os irmãos Satar e Ramaia.
Embora a Polícia nunca o tenha confirmado, circulou, amplamente, na sociedade que a transferência estava relacionada com os raptos.
Ora Ramaia e os Satar já estão, há vários meses, em isolamento total e, apesar disso, mais um rapto acaba de acontecer.
E isto leva-me a, paralelamente, levantar a questão sobre se o tratamento a que esses presos, e outros nas mesmas circunstâncias, estão a ser sujeitos não é ilegal e, mesmo, inconstitucional. Mas, mais uma vez, o silêncio das autoridades, incluindo a Procuradoria e o novo Provedor de Justiça, é total.
Em relação a este último, no entanto, as notícias são boas: Consta que já escolheu a cor para as cortinas do seu gabinete e, agora, já anda à procura de sofás compatíveis.
Há um trabalho que está a ser feito…
SAVANA – 01.06.2012