SR. DIRECTOR!
Em jeito de resposta, defesa, opinião e um humilde contributo, vai esta pequena nota sobre a grande efeméride - que se aproxima e já se faz sentir, agitando de pronto, efusiva e festivamente, milhões de moçambicanos e de povos irmãos e amigos - dos “50 anos da gloriosa e imbatível FRELIMO".
Esta efeméride carrega consigo um inevitável interesse nacional e internacional, não fosse a FRELIMO também participante activa e incondicional na auto-determinação de outros povos e Estados (Zimbabwe, África do Sul, Timor Leste...). o que nos leva a crer indubitavelmente de que falamos de um gigante político de reconhecimento e dimensão mundial.
O presente escrito visa em rigor a defesa da tese do seu cinquentenário em contraposição à alguma(s) anti-tese(s) que procuram a todo custo desmentir o cinquentenário da FRELIMO, uns pelo mero desejo de visibilidade social e outros pela congénita repulsão a FRELIMO e a história de Moçambique. Iremos todavia prendermo-nos a tese do primeiro tipo.
A título de exemplo, recentemente, um jovem que se diz historiador, pese embora hajam dúvidas sobre a veracidade de tal intitulação, na medida em que parece ser de concluir de algum modo que tal título não seja volutivo ou tácito, mas sim que decorra de alguma titulação de terceiros com tal competência, mas enfim....apareceu em parangonas de alguns jornais sensacionalistas e em alguns espaços cibernéticos a defender categoricamente de que a FRELIMO de hoje não é a de ontem e que por consequência não tinha 50 anos, arrolando em sua defesa um Boletim Oficial do estado moçambicano (B.R.) que dá conta de transformação da FRELIMO em partido, por decisão do seu III Congresso, em 1977. Em outras palavras, defendeu a extinção da FRELIMO de 1962 e o surgimento de uma nova FRELIMO em 1977, tese que peca por míope e por irrazoável.
A tese do jovem historiador e de alguns dos seus acólitos, em similar empreitada, parece ser, quando de imediato analisada, cegamente apaixonada, precipitada, desajustada e irrazoável, igual a muitas, do aludido multifacetado historiador, por ser de crer que de algum modo que a mesma tenha sido construída a partir de uma pobre grelha de elementos factuais, de uma vontade de aparição pública e de expedientes interpretativos desconexos e desajustados à realidade histórica e contra uma panóplia de factos sobejamente conhecidos e disponíveis. Note-se que não se pretende aqui calar ou desencorajar a crítica e nem a multiplicidade de correntes, mas antes um apelo a razoabilidade e a diligência mínima.
Voltando a tese, para análise crítica pormenorizada, ainda que com as naturais imperfeições de quem não domina os contornos metodológicos da história, oferece-se dizer o seguinte:
i) Não parece ser de concordar que se proponha a tese de que a FRELIMO fora criada numa perspectiva qualquer (histórica, filosófica, romântica...) que não política, alegadamente porque ela resulta da fusão de três movimentos políticos diversos, de que o desiderato por ela então perseguido era temporário e que por isso se esgotou em 1975, e depois porque uns e outros se teriam desvinculado da FRELIMO, por ser de crer que o desiderato da independência de um povo e/ou país é um objectivo político, ademais porque alguns autores o advogam na conceitualização da própria ciência política e a tipificam como uma das formas de ascensão ao poder político, veja-se a matéria das vicissitudes. Outrossim, com a ascensão ao poder, por via da libertação colonial, não se esgotou o fenómeno político, na medida em que se impunha a necessidade da sua manutenção, o que nos permite concluir que nunca a FRELIMO teve outro escopo se não político.
Por outro lado, deve perceber-se e entender-se que a transformação de movimento em partido, decorrente do III Congresso da FRELIMO, de 1977, não implicou em rigor qualquer ruptura com a FRELIMO de 1962, mas sim implicou uma alteração da linha ideológica então vigente e tão só. Tal tese a ser defendida e aplicada extensivamente poderia implicar variáveis mudanças no nosso quotidiano, pense-se por exemplo se fôssemos obrigados a defender e a crer que porque o João é hoje doutor já não é João de antes, ou então porque não teríamos cidades com mais 37 anos de existência, mesmo quando construídas muito antes, porque antes não eram de um Moçambique independente e também porque tinham outros nomes. Ora bolas!
- Isâlcio Ivan Rogério Mahanjane