CRÓNICA Por: Gento Roque Cheleca Jr., em Bruxelas
No mundo das Relações Internacionais a fome dos fortes é saciada pelo sangue dos fracos. O maior problema dos fracos é o entendimento. Os fracos raramente se entendem, porquanto estão mais preocupados em “povoar” o estômago vazio que libertar-se da escravidão eterna. (Conversa com os meus sobrinhos).
A minha última abordagem nesta janela electrónica sobre o “submundo” das Internacionais leva uma data de meses, volto hoje para dissecar um pouco acerca da mesma temática. As duas primeiras crónicas foram por mim escritas nas proximidades do edifício sede do Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia, na Holanda, onde estão encarcerados apenas determinadas "figuras" do continente africano e da Europa do Leste, "saneadas" pelo poder oculto das Relações Internacionais, com destaque para o antigo chefe de Estado da Libéria, o "abominável" Charles Taylor, condenado pelo Tribunal Internacional Especial para a Serra Leoa (em 30 de Maio último) a 50 anos de prisão. O tribunal provou que Taylor praticou crimes contra a humanidade e de guerra na Serra Leoa entre 1991 e 2002.
É claro que o “nosso irmão” de origem bantu, Charles Taylor, não dançou o tango sozinho. Enquanto presidente da Libéria (1997-2003), Taylor dividiu as mordomias do seu consulado com algumas figuras que hoje são, por força da “cesariana” da Diplomacia, cartazes mundiais. O azar de Taylor como será de Jean-Pierre Bemba (que aguarda à vez da sua sentença no TPI, caso venha a ser condenado), é de não terem feito uma leitura acertada da “epístola” das Relações Internacionais. Ambos foram "descartados" pelo poder oculto das Relações Internacionais quando as “fraldas” que vestiam, por “encomenda” do “poder oculto", encheu-se de trampas. Como mandar trocar de fraldas aos “meninos” Taylor e Bemba quando o mau cheiro que carregavam nas fraldas já tinha “invadido” os quintais dos vizinhos?
O “submundo” das Relações Internacionais equipara-se ao que constatei quando visitei recentemente a diminuta horta da mamã Chaleca, na povoação de Chivule, na então ignorada localidade de Benga (que por causa dos preciosos minérios passou a fazer parte do paladar linguísticos de muitos patrões nacionais e internacionais) em que o bando de pássaros ali existentes, depois de saciarem-se da mapira e da mexoeira, procuravam alternativas de pasto na horta vizinha. E como se não bastasse a invasão da propriedade alheia, uma vez descobertos e afugentados, retiravam-se da horta alheia defecando sobre as cabeças dos legítimos donos da propriedade. Assim interpreto a prisão de Taylor e de Bemba, pois não bastou a “alimentação” que recebiam dos seus "donos", quiseram também defecar nas cabeças de quem os alimentava, matando inclusive os seus.
Do outro lado do 'Continente mãe', no Egipto, o ditador Hosni Mubarak adquiriu doença logo que se confirmou o fim do seu regime. Foi julgado e condenado pela Justiça do seu país à prisão perpétua, numa cama improvisada, provavelmente de luxo, trajado de roupa requintada (quando devia aparecer, publicamente, no meu entender, de uma veste prisional) e de óculos escuros (num local onde não havia, a avaliar pelas imagens transmitidas pelas televisões, sol escaldante a raiar à sala do julgamento).
Para o meu espanto, o famoso TPI, que era suposto actuar em conformidade com a moldura penal daquele tribunal internacional que se quer justo e imparcial, parece ter sofrido de amnésia induzida, pois nem sequer ousou acusar formalmente o ditador líbio contra os crimes da humanidade cometidos durante a chamada “primavera árabe”.
São coisas da Diplomacia. A verdade é que a enfermidade que agora o ataca (que Deus o cure), cedo ou tarde comoverá os mesmos juízes que o julgaram e condenaram à prisão perpétua a emitir uma ordem judicial para o prisioneiro Mubarak cumprir a pena de prisão em ambiente familiar, nos fofos e requintados aposentos que o aguardam, em sua casa.
É só uma questão de tempo para que a nuvem passe, pois os ditadores sabem bem que ao povo esfomeado de educação e de alimento basta apenas meia dúzia de meses para a “ruína do tempo” engolir a história. Estar preso num hospital não é a mesma coisa que estar preso numa cadeia em Haia ou no Egipto. As Relações Internacionais fazem heróis onde "povoa" espírito mau e asqueroso, e fazem diabos onde existe paz e filantropia. Quantas vezes (injustamente) Nelson Mandela foi apodado de terrorista? E quantas vezes (justamente) Robert Mugabe foi considerado herói africano? Num ápice, o "poder oculto" das Relações Internacionais inverteu tudo. Mandela passou a ser herói mundial e Mugabe o abominável. Resta saber quais os critérios que esse poder usa para livrar uns e condenar outros e vice-versa.
Há figuras que a história não pode ignorar. Ainda que Mubarak tenha feito tanto mal contra os seus irmãos egípcios, o xadrez das Relações Internacionais o defenderá até às últimas consequências. A história “desclassificada” de Mubarak está no Google, sim, mas a verdade “classificada” está debaixo das mesas douradas da Diplomacia.
Existe, a meu ver, dois tipos de ditadores, o primeiro permanece fechado no “bunker” do seu regime, a cooperação com o mundo externo é quase inexistente, usa métodos cruéis para "catequizar" o seu povo; o segundo, é menos cruel, faz cedências, coopera e o seu regime possui alguns traços de democracia. Ambos têm em comum o facto de terem sido formados nas escolas do Ocidente. Mubarak encontra-se na segunda categoria.
Como presidente do Egipto, Mubarak servia de “soro” do "poder oculto" mundial para combater alguns viveiros de terrorismo em África. E só saiu do poder porque a arma usada para o destituir não foi a infame AKM, mas sim a poderosíssima Internet. Dormiu no tempo e a onda das tecnologias o levou ao lugar da história onde ele nunca desejou estar.
Até o próximo mergulho.
WAMPHULA FAX – 28.06.2012