Da obra “A Guerra de Salazar em África”, de José Duarte de Jesus, retiro:
… Recordo a este propósito que se trata da duplicação das acções conduzidas por Robert Leroy em Africa. A Aginter Press no início dos anos 60 ocupava-se de operações de intoxicação em terras africanas, Robert Leroy criou pequenos grupos, aparentemente de Libertação, em territórios como Moçambique, que criaram o dissídio ou se opuseram aos movimentos oficiais de Libertação, apresentando-se como filo-chineses. Findo o interesse da Aginter Press nas situações africanas, no Congo e Moçambique, este mesmo modelo de intervenção, de intoxicação e confusão vem aplicá-lo em terra europeia, nos anos anteriores ao 12 de Dezembro de 1969. Isto são elementos de total novidade que decorrem de actos recentemente perpetrados e que completam o quadro que eu conhecia sobre o papel de Guérin--Sérac e da Aginter Press. …(pág.91)
… É difícil responder-se hoje de forma definitiva e conclusiva a esta questão. Certo é que, «objectivamente», a conjunção de esforços entre o maoismo daquela época e o anti-sovietismo da extre-ma-direita foi um facto.
As reportagens que estes agentes da Aginter publicaram no L’Etincelle sob a cobertura de entrevistas jornalísticas aos principais dirigentes da FRELIMO (que referimos mais em pormenor noutro capítulo), não permitem esclarecer as dúvidas a que aludimos.
Como afirmámos, as dúvidas sobre a «idoneidade» política e a actuação como «agente duplo», entre a direita e a esquerda, de Gérard Bulliard, defendida por muita literatura, não se nos afigura correcta, opinião que procuraremos apoiar em documentos.
É certo que, segundo uma nota informativa dos serviços de segurança suíços de 196621, a organização Jeune Europe da Suíça se terá afastado da facção mais pró-nazi de Thiriart e de Amaudruz, evitando mesmo os contactos com o primeiro. Não obstante este facto, Maurice Verdun, pseudónimo de Michel Schaad, responsável pela publicação suíça da Jeune Europe, terá procurado Gérard Bulliard, que se encontrou com Thiriart no ano anterior, em Estrasburgo. Mas este facto não é suficiente para tirar quaisquer ilações de ligações políticas entre 1^,'Etincelle de Bulliard e a organização de extrema-direita. …(pág.115)
… A Guerra do Ultramar deu azo, como todas as guerras, a várias operações secretas e com nomes de código. Como já tivemos oportunidade de aludir, interessa-nos neste trabalho analisar as chamadas «operações especiais» ocorridas no âmbito da Guerra Colonial, que, contudo, não corresponderam a acções militares clássicas, quer pela sua natureza, quer pelo facto de algumas terem tido lugar em territórios não portugueses.
Houve certamente várias acções portuguesas secretas em Africa em que a Aginter não teve participação. Refira-se, como exemplo, a Operação Zulu no Maláui, em que a FRELIMO esteve indirectamente implicada, através de um dos seus membros. Tratou-se duma operação de certa envergadura, em 1964, que teve como protagonista Jorge Jardim1 e que consistiu numa ajuda ao líder Maláui Hastings Banda, combinada em Londres, em que financiámos
armamento via Lourenço Marques e enviámos voluntários para o terreno chefiados por um agente da PSP. Uma das contrapartidas foi a colaboração de um «chefe» da FRELIMO formado na Argélia e responsável pela vigilância da zona fronteiriça, que nos passou a cifra e colaborou com a PIDE. Toda esta operação teve lugar depois de o Dr. Banda ter resolvido estabelecer relações diplomáticas com Pequim e causou, de resto, algum mal-estar nas Necessidades e na nossa embaixada no Maláui.2
Contudo, as acções que o presente livro visa são as que decorreram no quadro do acordo entre a Aginter Press e a PIDE, ou que terão antecedido a formalização desse acordo em 1966, mas em que já foi possível verificar ou pressagiar a colaboração de agentes futuros da Aginter Press (cuja actuação começou pouco depois de Yves Guillou ter chegado a Portugal em 1962)., Neste quadro, convém ter presente que a diáspora dos exilados franceses da Segunda Guerra Mundial e da OAS constituía já uma rede, mais consolidada nalguns países e menos noutros.3
Na documentação encontrada em Caxias proveniente dos arquivos da Aginter, os «cahiers de marches» mostram claramente que os itinerários dos agentes da Aginter para África se faziam quase sempre via Paris e Gabão.4 … (pags. 127/128)
Pena o autor não entrar em mais pormenores.
Mas veja, do mesmo autor: Download Invisibleactors_DuarteJesus
Por aquilo que já li da obra de António Disse Zengazenga, a publicar em breve, suponho que alguma luz se fará sobre estes "invisíveis".