Por Jorge Dick, da AIM
A presença de imigrantes na vizinha África do Sul esta, mais uma vez, sob ameaca. Entre quarta e quinta-feira grupos de sul-africanos assaltaram e destruíram bens de estrangeiros, maioritariamente etíopes e somalis, situação que sugere o retorno da violência xenófoba de 2008.
Em 2008, mais de 4000 mocambicanos foram forcados a regressar ao pais.
Apesar de até aqui não se confirmar o envolvimento de moçambicanos nestes incidentes, a AIM possui informações que indicam que mais de 500 etíopes, chineses e somalis foram atacados entre quarta e quinta-feira depois de grupos de sul-africanos na área de Botshabelo, província de Free State, tê-los exigido a abandonarem os seus negócios.
Em menos de um dia, a mesma situação, que de algum modo sugere a frágil acomodação entre os locais e estrangeiros, viria a registar-se ja na área de Beacon Valley, na cidade do Cabo. Imigrantes viram os seus bens a serem destruídos por fogo posto.
Quer em Botshalelo, quer em Beacon Valley, os assaltantes pilharam bens, incluindo dinheiro, de imigrantes. Também destruíram casas e ocuparam algumas, sobretudo aquelas oferecendo condições.
Residentes de Mitchells Plain, um outro bairro da cidade do Cabo, revelaram que os assaltos de quinta-feira ocorreram pouco depois de somalis e etíopes negarem pagar a grupos de 'criminosos' uma 'taxa de protecção'' na ordem de 800 randes diários.
Outros imigrantes, residentes na área de Valhalla Park, viram tambem seus bens reduzidos a nada depois de atingidos por bombas de petróleo.
Analistas receiam o retorno da violência xenófoba que, entre Abril e Maio de 2008, causou a morte de 65 imigrantes, na sua maioria moçambicanos e zimbabweanos.
A semelhanca dos episodios de 2008, os ultimos ja estao a criar apreensao na Africa do Sul. Grupos dos direitos humanos comecaram a fazer-se ouvir. Estes afirmam que o pais está a beira de uma outra onda de ataques contra estrangeiros e apelam as autoridades para a tomada de medidas urgentes, com vista a salvar vidas de inocentes.
Apesar de crime e xenofobia serem citados como motivos por detrás de toda esta situacao, Organizações Não Governamentais (ONGs) dizem que os ataques desta semana têm a ver com críticas que se tem feito sobre a presença de refugiados e daqueles que procuram asilo no país.
Em 2008, a violencia comecou como se de simples episodios separados e localizados se tratasse: do bairro pobre de Alexandra, a norte de Joanesburgo, esta viria a propagar-se por todo o país, sob o pretexto de que os imigrantes estavam a roubar empregos e mulheres e se dedicavam ao crime no país.
O director da organização Povo contra Sofrimento, Opressão e Pobreza (Passop), Braam Hanekom, afirmou que um debate feito há dias sobre a política do ANC, no qual o partido apelou para medidas drásticas contra o comércio por estrangeiros pode motivar os assaltos.
Hanekom diz que o documento propondo políticas do ANC afirma que 95 por cento dos que procuram asilo na África do Sul não são refugiados legítimos.
Sublinhou que as discussões feitas, o mês passado em Midrand, entre Joanesburgo e Pretória, a capital, foram tão problemáticas ao ponto de o articulista acreditar que sao motivadoras dos assaltos a estrangeiros
Ele lembra que o documento do partido no poder indica a cidade do Cabo como o local onde imigrantes e aqueles que procuram asilo não deveriam ser autorizados a abrir negócios e alugar casas de sul-africanos.
Notou que em Valhalla Park, perto do Aeroporto Internacional da Cidade do Cabo, mais de 20 barracas de estrangeiros foram pilhadas, na passada terça-feira, no que eram o início dos assaltos, que voltaram a ocorrer em dias subsequentes.
Outros bairros que foram alvos de assaltos contra estrangeiros são os de Khayelitsha e Philippi, também na cidade do Cabo.
Andre Traut, porta-voz da polícia na cidade do Cabo, negou especular se os assaltos resultam de motivos políticos ou simples hostilidade contra a presença de estrangeiros no país.
O porta-voz do ANC, Jackson Mthembu, distanciou-se das alegações, segundo as quais a proposta sobre a redução de estabelecimentos comerciais de estrangeiros seja a causa dos assaltos dos últimos dois dias. “As nossas discussões não têm a ver com barracas de imigrantes”, disse, concluindo que o partido está mais preocupado com um sistema de controlo dos que procuram asilo no país.
MAIL & GUARDIAN/ SUNDAY TIMES/ JD/FF
AIM – 13.07.2012