Reflexão de Adelino Buque
Maputo, capital da República de Moçambique, foi a capital dos falantes da língua portuguesa, congregados na CPLP. São países que representam os quatro cantos do mundo, por conseguinte, de diferentes culturas, unidos pela língua, o português. Como lhe competia, Moçambique preparou-se para acolher o grande evento intercontinental e a cultura moçambicana, expressa através de música, canto e dança, coloriu o evento.
O conceituado músico Arão Litsure fez um dueto com um outro músico não menos conceituado e, depois, veio o canto e a dança de makwai, uma dança de expressão guerreira. É aqui onde está a questão. Estariam os organizadores da parte cultural do evento esclarecidos sobre a natureza do evento? Acaso estavam informados ou estão informados sobre a CPLP e seus objectivos? Sim, porque na primeira oportunidade puseram-se a falar da vitória sobre o colonialismo português infringido e bem por moçambicanos. Seria aquele o contexto? Depois disso, cantaram algo como “queremos ir para casa Maputo”. Mas afinal estávamos onde e qual era a verdadeira mensagem da canção? Para terminar, voltaram a cantar sobre as nossas vitórias sobre o colonialismo português que, embora falado em changana, desengane-se quem pense que a mensagem não foi percebida pelos representantes de Portugal, cuja delegação era chefiada pelo respectivo Presidente da República. Apesar de a canção ter sido interrompida pelo mestre de cerimónias, a mensagem estava lá, ficou!
Deste incidente existem duas lições a tirar: ou os responsáveis pela cultura estão de tal sorte sem informação sobre a CPLP e seus objectivos, por conseguinte desconhecem o contexto e as razões da cimeira ao mais alto nível dos países falantes do português, ou então quiseram, de forma deliberada, transmitir algum desconforto em relação a Portugal e, particularmente, aos portugueses. De qualquer modo, valerá a pena olhar de forma particular para cada um dos aspectos.
Desconhecimento da CPLP e seus objectivos
Se é certo que a CPLP completou 16 anos de existência, não é menos certo que, como organização, se cinge ao encontro entre Chefes de Estado e de Governo dos países em questão, faltando, por conseguinte, o convívio entre os povos desses países. Apesar de esta tese ser aceite, porque é real, não tem acolhimento, tendo em conta que a Cimeira foi organizada pelo Governo de Moçambique e, deste modo, os organizadores da parte cultural tinham a obrigação de transmitir aos grupos convidados os contextos da organização, objectivos e sugerir inclusivamente as mensagens a transmitir aos nossos visitantes. Se em outros aspectos a cimeira foi um sucesso, a mesma ficou ensombrada por esta parte cultural e o responsável da parte cultural deveria ser chamado à responsabilidade e dar uma explicação pública sobre aquilo que aconteceu. Na verdade não dignificou Moçambique e seu povo.
Desconforto em relação a Portugal e portugueses.
Se a ideia foi transmitir a mensagem de desconforto nas relações do dia-a-dia com a comunidade portuguesa, relações vistas a nível das relações laborais e interpessoais, o grupo conseguiu, mas, porque a sua atitude e acção foram claramente contra o princípio da cimeira, este grupo deve ser responsabilizado pelos seus actos. O evento era organizado pelo Governo, como referi acima, por conseguinte, a ele competia traçar as linhas-mestras que guiariam o evento. No caso em apreço, o grupo, deliberadamente, destorceu esse sentido de liderança e de responsabilidade, por isso, deve arcar com as consequências daí decorrentes e, se estão satisfeitos com o seu acto, certamente assumiram com brio a responsabilização por parte do executivo.
Conclusao!
A transmissão da Presidência da CPLP por Angola para Moçambique tinha tudo para ter corrido bem, mas, aqui deixem-me usar a expressão do Presidente da República, Armando Emílio Guebuza, o espírito de “deixa andar” que caracterizou a organização na parte cultural deitou tudo abaixo. Maputo conseguiu trazer, além do Presidente português e sua comitiva, o Presidente da Comissão Europeia, que é igualmente português. Certamente participaram na cimeira não para ouvirem sobre o passado colonial em Moçambique; vinham estreitar relações de cooperação entre os dois estados, povos e comunidade. Maputo trouxe igualmente o director-geral da FAO, fazendo jus ao lema da IX Cimeira dos Chefes de Estado e de Governo “Combater a fome e desnutrição crónica nos países da comunidade”.
Porquê esta mancha? Ficará para sempre este ponto de interrogação.
CORREIODA MANHÃ – 30.07.2012