A albufeira de Chicamba, um dos maiores lagos artificiais do país e que constitui o principal centro pesqueiro da província de Manica, apresenta, neste momento, sinais evidentes de poluição por mercúrio das suas águas, na sequência da intensa actividade de mineração ilegal de ouro que está a ser desencadeada a montante, pelos garimpeiros espalhados um pouco por todo o distrito de Manica.
O facto foi trazido de volta ribalta há dias pelo Engenheiro Sérgio Sacama, director da Barragem Hidroeléctrica de Chicamba, o qual revelou que a presença de mercúrio nas águas daquele curso hídrico é evidente, de tal forma que já começou a criar problemas à estrutura do empreendimento, entre os quais, a oxidação do equipamento devido à contaminação das águas da albufeira por aqueles produtos químicos.
Dados apurados pela nossa Reportagem durante a visita efectuada, recentemente, pela governadora de Manica, Ana Comoane, àquele empreendimento, indicam que o garimpo continua a ser feito sem a observância das normas básicas do ponto de vista ambiental, sendo que o ouro continua a ser lavado nos rios, com o recurso ao mercúrio.
Neste contexto, segundo Sérgio Sacama, o mercúrio está presente na albufeira e evidencia-se com a oxidação das máquinas da hidroeléctrica, em resultado da actividade de mineradores artesanais, não obstante os resultados dos recentes estudos ter apontado haver muito baixo teor de contaminação com aquele produto nocivo à saúde humana.
A albufeira de Chicamba recebe as águas dos rios Révuè, Messica e afluentes. Com esta contaminação, ambientalistas antevêem um futuro sombrio à albufeira e dizem que, se o problema não for controlado a tempo, poderá representar o maior desastre ecológico e ambiental de que há memória na província.
Estão em perigo de contaminação com o mercúrio, os recursos hídricos e pesqueiros que abundam na Albufeira, entre os quais o famoso e saboroso peixe tilápia. Por outro lado, o maior sistema de abastecimento de água de Chicamba tem aquela albufeira como fonte de captação do precioso líquido para as cidades de Chimoio, Manica e as vilas de Gondola, Messica, entre outros aglomerados rurais e urbanos.
ANÁLISES LABORATORIAIS NÃO CONFIRMAM
Análises realizadas, em 2010, em laboratórios holandeses e ingleses, a pedido do Fundo de Investimento e Património de Abastecimento de Agua (FIPAG), gestora do sistema de abastecimento de água de Chicamba, concluíram, porém, não haver contaminação com mercúrio e, consequentemente, dos peixes da albufeira em referência.
Falando, na ocasião, em conferência de Imprensa, no distrito de Manica, o então delegado provincial do FIPAG, Leovigildo Jate dissera que “as informações veiculadas sobre a matéria, não tiveram base técnico-científica de sustentação. As pessoas viram a cor da água do rio Révuè, que desagua na albufeira, que apresentam altos níveis de turvação e disseram que a água estava contaminada, o que não é verdade. A água não tem contaminação com mercúrio”.
Leovigildo Jate confirmou, no entanto, “que a 30 quilómetros do local onde foi erguida a estacão de captação, tratamento e bombagem de água, no âmbito do mega-projecto de abastecimento do precioso líquido às cidades e vilas em referência, há intensa actividade de mineração de ouro, com uso de mercúrio, ao mesmo tempo que o rio Révuè e outros que confluem na albufeira, estão com água turva, resultado do garimpo à montante. Porém, segundo ele, “a turvação da água não é necessariamente sinal de contaminação do lago com mercúrio”.
“Não foi detectado nenhum mercúrio na água de Chicamba. Por isso, aquela água reúne os padrões internacionais de consumo. Aliás, antes de o projecto ser aprovado, foi feita uma análise neste sentido e, na altura, a conclusão a que se chegou foi que a água de Chicamba não tinha nenhum problema para o consumo humano” – explicara na ocasião.
As referidas análises laboratoriais, feitas na Holanda e Inglaterra, segundo acrescentou, vieram a reconfirmar este facto, pelo que não há poluição em Chicamba. Admitiu, porém, que “a longo prazo, daqui a 30 anos, caso não sejam tomadas medidas contra os garimpeiros ilegais ao longo da bacia hidrográfica de Révuè, podemos começar a registar situações de contaminação das águas com mercúrio, mas, presentemente, esta hipótese está posta de fora”.
Há cerca de dois anos, o governo provincial de Manica criou uma comissão multisectorial destinada à investigação da alegada poluição das águas da albufeira, por garimpeiros ilegais que exploram ouro a montante do rio Révuè, o curso de água sobre o qual foi erguida a barragem hidroeléctrica de Chicamba, no distrito de Manica.
Com efeito, e no quadro desta comissão, para além das análises anglo-holandesas, técnicos da Saúde, Ambiente e dos serviços provinciais de Pescas de Manica, integrantes da missão multisectorial, deslocaram-se à albufeira, a fim de colher as amostras de peixe e água daquele lago artificial, para a posterior submissão em análises laboratoriais, a fim de determinar se há ou não contaminação por mercúrio, dos recursos hídricos e piscícolas.
A Albufeira de Chicamba, adjacente à barragem com mesmo nome, é o principal centro pesqueiro da província, onde abundam as tilápias, espécie de peixe localmente conhecida por “Chicamba”, que constitui o principal prato local, bastante apreciado também pelos visitantes da província.
- Víctor Machirica