O avançado estado de degradação da maior parte das estradas que estabelecem a ligação rodoviária entre as diferentes localidades está a comprometer, seriamente, os programas de assistência sanitária e educacional à população que reside nas regiões do interior do distrito de Milange, na província da Zambézia.
Para garantir o abastecimento em medicamentos, campanhas de educação sanitária e programas de intervenção escolar, o executivo local se vê obrigado a utilizar o território da vizinha República do Malawi, de forma a levar a assistência a cidadãos no país, o que encarece os custos de transporte.
O director dos Serviços Distritais da Saúde, Mulher e Acção Social, Francisco Maurício, disse há dias, à nossa Reportagem, que as estradas que estabelecem a comunicação rodoviária entre os postos administrativos e localidades, constitui um sério constrangimento à assistência sanitária das populações.
O nosso entrevistado indicou, por exemplo, as regiões de Cazembe e Nantutu em Molumbo e Carico, como sendo aquelas que maiores problemas de transitabilidade rodoviária enfrentam. Aliado a este facto, está ainda o problema da insuficiência da rede sanitária, de pessoal do sector para dar resposta à demanda naquele distrito, por sinal o mais populoso da Zambézia, com 498370 habitantes.
Aquele responsável indicou, por exemplo, o troço Luciro/Mocuba, numa extensão de aproximadamente 80 quilómetros, que não tem sequer uma unidade sanitária, facto que leva a população a percorrer longas distâncias.
O distrito de Milange conta, actualmente, com uma rede sanitária constituída por 17 unidades, que se mostram incapazes de dar resposta às necessidades locais. O director dos Serviços Distritais da Saúde, Mulher e Acção Social afirma que, o ideal, seria a construção e apetrechamento de seis novas unidades sanitárias, com maternidades.
A insuficiência do pessoal da Saúde, nomeadamente, enfermeiras da Saúde Materno Infantil (SMI) constitui um sério constrangimento aos programas de planeamento familiar e cuidados para as mulheres em serviço de partos institucionais. Francisco Maurício afirmou que, devido à insuficiência de enfermeiras, as que estão no sistema trabalham 24 horas ao dia e não gozam o direito a férias disciplinares. O nosso entrevistado disse que, o ideal, seria num Centro de Saúde trabalharem quatro a cinco enfermeiras para preencherem os três turnos diários, enquanto outras tem folgas.
A falta de pessoal afecta, igualmente, outras áreas, facto que levou recentemente à formação de 23 Agentes Polivalentes Elementares de Saúde (APES) para fortalecer a colaboração entre as estruturas do sector e as comunidades.
Os agentes terão “kits” de medicamentos para assistir às comunidades. Milange debate-se, igualmente, com problemas de meios circulantes para evacuar os doentes graves para as unidades sanitárias de referência.
Neste momento, aquele distrito conta com duas ambulâncias que, entretanto, não conseguem dar resposta, principalmente na evacuação de mulheres grávidas com complicações de parto, das localidades e postos administrativos para as unidades sanitárias de referência.
Francisco Maurício entende que, a solução do problema, passa necessariamente pela alocação de duas ambulâncias para a vila-sede distrital, sendo uma para o Hospital Rural, outra para o Centro de Saúde para atender casos da periferia da urbe e a terceira para o Posto Administrativo de Molumbo, que se debate com graves insuficiências de infra-estruturas.
Para minimizar o problema, a nossa fonte disse que, as alternativas têm sido as bicicletas-ambulâncias. Neste momento, o distrito conta com dez bicicletas-ambulâncias e, dentro de poucos dias, terá um reforço de mais quatro que serão entregues aos Conselhos de Saúde Comunitários para a sua gestão.
Entretanto, apesar de vários constrangimentos, o distrito de Milange, deixou, a partir de Janeiro de 2010, de evacuar doentes para a vizinha República do Malawi, mercê da inauguração do bloco operatório local. “A procura de cirurgia está resolvida e isso foi um grande alívio para todos”, disse Francisco Maurício.
EDUCAÇÃO TAMBÉM SE RESSENTE
Tal como na Saúde, o sector da Educação enfrenta muitas dificuldades para implementar os programas. A distribuição do livro escolar, material didáctico e programas de supervisão pedagógica e inspecção se fazem com imensas dificuldades devido ao mau estado das vias de acesso.
Professores que falaram à nossa Reportagem afirmaram que, quando se deslocam à vila para levantar seus salários no banco, trilham por vários caminhos sinuosos nas deslocações de ida e volta. Anselmo Joaquim trabalha em Cazembe. Para chegar à vila a fim de levantar o seu salário leva entre cinco a seis dias. Tem que sair de Cazembe até a fronteira com o vizinho Malawi depois de atravessar de canoa o rio Melosa. Daqui apanha um comboio até um ponto dentro daquele território. Logo de seguida apanha um autocarro até entrar em Milange.
Tanto ele como os seus colegas têm que fazer o mesmo exercício todos os meses, deixando os alunos sem aulas. “Não temos alternativas e não podemos ficar sem comer porque fica difícil trabalhar”, disse o nosso entrevistado para quem o problema é sério e deve ser tomado a peito pelas autoridades governamentais do país.
- Jocas Achar