Amade Camal, porta-voz do movimento, disse ontem a jornalistas que o Governo disponibilizou-se para o diálogo, facto que faz com que estejam ultrapassadas as motivações avançadas para a realização da manifestação para além de que a mesma poderia ser confundida com outra que estaria a ser organizada pelos desmobilizados de guerra.
“A marcha ficou desconvocada. Este manifesto foi entregue ontem ao Governo, anunciando a desconvocação. O fim da marcha era entregar este manifesto ao Governo. Agradecemos todas as organizações que se disponibilizaram a se juntar a nós na manifestação, mas julgo que fomos ultrapassados pelo diálogo e simultaneamente soubemos que está marcada uma marcha dos desmobilizados para o mesmo dia e tivemos receio de que se podia confundir uma coisa com outra e por razões de segurança dos nossos marchantes decidimos cancelar”, disse Camal.
Num manifesto entregue na ocasião, o movimento islâmico aponta que mobilizou esforços nos últimos 20 dias a fim de consciencializar o Ministério da Educação na correcção dos dois comunicados emitidos em relação ao véu ou lenço para cobrir a cabeça, mobilizar diferentes comunidades do país a fim de alertar às autoridades sobre o crescendo índice de criminalidade, discriminação étnica, racial, tribal e religiosa, para exigir maior capacitação dos moçambicanos para participarem com valia nas grandes oportunidades de investimento, exortar o Governo para uma maior justiça e liberdade de imprensa particularmente nos órgãos de comunicação social públicos para além de apelar para que o executivo produza políticas socioeconómicas inclusivas atendendo à realidade e contexto nacional.
Reconheceu que o país não dispõe de uma chave para resolver os problemas de um dia para outro. Indicou que aqueles são problemas que não são discutidos a todos os níveis por parte da sociedade civil.
“Por questão de cidadania decidimos que devíamos discuti-los. O movimento não tem filiação, o seu objectivo é cívico, quem quiser estar está e não há uma hierarquia”, disse.
Camal disse que num encontro mantido com o Chefe do Estado, Armando Guebuza teria mostrado sensibilidade em relação às matérias constantes do manifesto e prometeu maior empenho na busca de soluções e “nós ficámos agradecidos por essa disponibilidade”.
A alteração da posição, segundo Camal, não resulta de qualquer tipo de pressão nesse sentido, mas sim da leitura do contexto e dos progressos no diálogo com o Governo.
Considerou que a imprensa não é totalmente livre. Reconheceu que comparativamente aos outros países africanos é um exemplo, “mas já fomos mais livres do que somos, particularmente os órgãos públicos, com excepção da Rádio Moçambique, devem ser mais equitativos”.
Quanto às motivações da manifestação, acusou a imprensa de ter reproduzido um malentendido na medida em que o movimento “não se ia manifestar por causa dos sequestros que fazem parte de um crime global”. “É um crime e uma indústria nova que pode florescer. Isso preocupa-nos, mas preocupam-nos muito mais os milhões de moçambicanos que todos os dias são assaltados nos seus salários, telefones, carteiras…”, indicou.