Canal de Opinião Por Matias Guente
“O argumento da raça ou da tribo é um expediente fácil de usar, não precisa de manual de instruções e pode ter efeitos espectaculares. Em vez de se debater ideias, abate-se o outro” – Mia Couto in os Falsaportes.
A recente agitação dos muçulmanos veio mais uma vez mostrar o tipo de Estado que temos e qualidade do nosso debate público.
Até porque já dizia o Professor Elísio Macamo que o desenvolvimento de um país mede-se pelo seu nível de debate. Não precisa fazer inquérito para perceber a tendência das opiniões em relação ao assunto. Mas é preciso analisar a questão baseando-se na lógica dos acontecimentos.
Os muçulmanos cansaram-se de comentar entre eles os raptos seguidos de sequestros dos seus familiares e os consequentes pedidos milionários de resgate. A Polícia, como sempre, prometeu “investigar os casos”. Aliás, inovou: apresentou uns tais que se dizem ser os supostos raptores que tinham treze biliões de meticais que mais tarde já só eram três biliões. Só que os raptos não pararam. A saga continuou e atingimos a casa dos mais de 20 raptos. Não vamos ser hipócritas nem invocar a negritude: estão a ser raptados cidadãos (moçambicanos) de descendência asiática que desenvolvem actividade comercial. Gente tradicionalmente com muito dinheiro.
Perante todo este clima de insegurança, qualquer pessoa normal podia indignar-se e fazer algo (até mesmo por instinto) para convocar a si a segurança a que tem por direito, enquanto cidadão. Foi o que os muçulmanos fizeram. Obviamente que pela sequência dos raptos e pela lentidão no esclarecimento de outros sentiram que a Polícia está inoperante.
Quando se reuniram, os muçulmanos organizados em comunidade ou sociedade decidiram que tinham de fazer algo porque os seus familiares estão a “acabar”. Decidiram exigir segurança. E é aqui onde está o turbilhão que nos faz perder. Os muçulmanos votaram no partido que lhes prometeu segurança e paz, para desenvolverem o que melhor sabem fazer: comércio, o que depois se transformou em contrato social com o Estado. Não vendo a segurança e a paz que outrora lhes foram prometidos, nada de errado fizeram senão exigir: “senhores onde está a segurança que prometeram”? É que no lugar de segurança estão a ser servidos raptos.
Leia em http://www.canalmoz.co.mz/hoje/23567-quando-o-estado-laico-e-louco.html