Quatro aspectos particulares saltam à vista e constituem pontos de intersecção entre os três livros.
Primeiro, são todos eles publicados sob signo de pesquisa em Ciências Sociais, peculiar à instituição editora, e levantam, cada um na sua perspectiva e na sua especialidade, questionamentos sobre o estado de avanço do debate sobre questões que neles são estudadas, diagnosticando, expurgando os problemas e propondo saídas possíveis. Assim, tomando como ponto de referência comum para a análise o Plano de Acção para a Redução da Pobreza (PARP) 2011-2014, o livro “Desafios para Moçambique 2012” questiona o que a investigação social e económica em Moçambique tem para comunicar para a planificação económica e social de médio prazo, e o que pode a planificação económica e social de médio prazo aprender da investigação social e económica existente em Moçambique. Discutindo o sistema socioeconómico e político no qual se está a processar a descentralização em Moçambique, com particular enfoque na qualidade das relações entre o governo central e os governos locais, o livro “Moçambique:
Descentralizar o Centralismo? Economia política, recursos e resultados” questiona, a dado passo, as características da economia política e do sistema político-administrativo que devem ser descentralizadas, com que objectivos estratégicos e de que maneira, e ainda com que papel para os doadores (dos quais Moçambique é altamente dependente no que toca a financiamento, assistência técnica e investimento).
Abordando, por seu turno, temas diversos sobre a presença chinesa em Moçambique, a obra “A Mamba e o Dragão: Relações Moçambique-China em Perspectiva”, cujo objectivo é perceber as características e especificidades das relações entre a China e África, levanta uma série de questões dentre as quais as seguintes: China, um doador diferente dos outros? Agricultura, recursos minerais e construção: novo foco chinês em Moçambique? Como e o que fazer para que a “mamba” não seja engolida pelo “dragão”? Na esteira destes questionamentos, o livro analisa a relação China-Moçambique, olhando para as origens, características, especificidades, tendências, impacto e relevância do relacionamento. Portanto, as três obras apresentam diferentes linhas de discussão, não como um produto acabado mas como propostas de novas metodologias de abordagem das problemáticas que lhes são inerentes.
O segundo aspecto em comum é a forma como se constituíram as linhas de pesquisa e sobretudo o formato a que o público tem acesso. Os três livros são colectâneas de artigos escritos por especialistas nas respectivas áreas. “Desafios para Moçambique 2012” contém 18 artigos, escritos por 19 autores e organizados em quatro partes, nomeadamente Política, Economia, Sociedade e Moçambique no Mundo.
As quatro partes temáticas que compõem o livro apresentam maior interligação entre si, mesmo que as abordagens e metodologias dos autores sejam distintas e, por vezes, em contradição com as de outros. O livro “Moçambique: Descentralizar o Centralismo? Economia política, recursos e resultados” é escrito por 16 autores e está dividido em quatro partes principais, definidas tendo em conta uma perspectiva analítica que sugere que a descentralização pode ser vista como um processo de reforma do sistema político administrativo feita do topo para a base mas também como uma forma de fortalecer, da base para o topo, os fundamentos do Estado. O terceiro livro é composto por 8 artigos escritos por 9 autores, que discutem o padrão e as tendências do investimento chinês nos diferentes sectores, nomeadamente no sector bancário e na agricultura, as representações sociais de diferentes grupos de moçambicanos sobre os chineses e o perfil e as motivações dos emigrantes chineses. Em termos metodológicos, o tecido que une os três livros é uma espécie de abertura de espaço intelectual para diálogo de ideias, se bem que isso passe por oposição de pontos de vista, o intuito sendo o de fazer avançar o debate e servir de plataforma para uma escolha mais consciente de opções de desenvolvimento que se pretende para Moçambique.
Os dois últimos aspectos comuns aos três livros advêm, o primeiro, do facto de que os livros são editados pelo IESE, cada um com suas especificidades, o que mostra uma certa evolução na forma como têm sido apresentadas as publicações desta instituição. Com efeito, “Desafios para Moçambique 2012”, organizado pelos investigadores Luis de Brito, Carlos Castel-Branco, Sérgio Chichava e António Francisco, é um livro do IESE, terceiro da série “Desafios para Moçambique” iniciada por esta instituição em 2010, e cujo objectivo é contribuir para o debate público sobre temas relevantes da vida do país. “Moçambique:
Descentralizar o Centralismo? Economia política, recursos e resultados”, é um livro organizado por Bernhard Weimer, aparecendo o IESE como instituição editora. O terceiro livro, sobre as relações entre a China e Moçambique, organizado por Sérgio Chichava e Chris Alden, é uma co-produção entre o IESE e SAIIA, uma instituição sul-africana de pesquisa sobre relações internacionais. O segundo aspecto é que, estas obras mostram um salto qualitativo em Moçambique, país onde a investigação científica se apresenta como um recurso motor, catalisador de ideias e que privilegia o pensar local, abrindo, contudo, uma janela para o intercâmbio, por um lado, entre académicos nacionais e estrangeiros, e, por outro lado, entre jovens pesquisadores e pesquisadores mais experientes, o que permite, de igual modo, calibrar o nível de investigação nacional num contexto global e abrir horizontes para que a nova geração de intelectuais se enquadre profundamente nos assuntos que ao desenvolvimento do seu país dizem respeito.