Jorge Rebelo quebrou os consensos no congresso de Pemba.
- “No passado, a Frelimo não era assim”, Jorge Rebelo
- “Nós crescemos sem amarguras, sem convencimento de que só uns é que sabem. Eu acho que esta abertura, esta humildade de ouvir dos outros é que são as marcas que fizeram esta nossa organização”, Jorge Rebelo.
Ao segundo dia, Jorge Rebelo afirmou-se como a voz dissonante do X congresso da Frelimo, que decorre em Pemba, quebrando o ambiente de unanimidades, que vinha desde o primeiro dia de trabalhos. Rebelo foi ao pódio reclamar maior abertura para os membros poderem apresentar as suas opiniões, “que, quando divergem das opiniões oficiais, ou são proibidas ou são reprimidas, no momento em que as pessoas querem falar.”
Jorge Rebelo vincou que “sem diálogo, não vamos longe. Temos que permitir às pessoas falarem sem qualquer medo de represálias.” Neste momento, ajuntou, “isso não acontece no nosso partido e na sociedade em geral.”
Rebelo disse que a intimidação manifesta-se de forma mais grave na comunicação social, segundo suas palavras, amordaçada por agentes do Estado.
Para o ideólogo da Frelimo, o perigo disso é os chefes não terem a percepção do que os membros pensam e querem e, consequentemente, não poderem tomar as medidas necessárias para corrigir os seus erros. Rebelo entende que ninguém é perfeito. “Mesmo os chefes erram. Por isso, é preciso que saibam o que a população pensa.”
Já fora da sessão, perguntámos-lhe se “foi sempre assim na Frelimo”. Jorge Rebelo respondeu que “no passado, não era assim. Espero que este congresso encontre um caminho para poder haver abertura. Havendo abertura, este partido seria muito mais forte.”
Na sua intervenção na sessão do congresso, Jorge Rebelo abordou igualmente a unidade nacional. Disse que era uma questão importante para o país, “mas, muitas vezes, a unidade nacional é apenas um slogan utilizado nos discursos. Não se indica qual o conteúdo dessa unidade nacional.”
Acrescentou que, “ultimamente, fico preocupado quando oiço certos pronunciamentos de dirigentes altos da Frelimo, que querem dividir-nos, que dizem haver moçambicanos genuínos e não genuínos. Eu próprio já não sei se sou genuíno. Será pela cor? O Manuel Tomé e a Graça (Machel) são bem mais claros que eu”, brincou, para logo a seguir retomar o ar sério: “Esta é uma questão séria”.
ÓSCAR MONTEIRO ASSINA POR BAIXO
Óscar Monteiro, outro histórico da Frelimo, corrobora as palavras de Jorge Rebelo. Entrevistado pelo nosso jornal à margem do congresso, o antigo ministro de Samora Machel entende que, numa organização, há sempre a tendência de as pessoas pensarem que todos os assuntos já estão resolvidos. “O partido Frelimo cresceu através do debate e da incorporação permanente de novos conhecimentos. Isso pressupõe irmos buscar as pessoas a cada momento, através da discussão, o que elas têm para dar para enriquecer o pensamento colectivo.”
0 PAÍS – 25.09.2012