Comentário de: Boaventura Mandlate
Congresso da Frelimo terá de discutir riqueza nacional.
O partido Frelimo realiza de 23 a 28 deste mês, em Pemba, capital provincial de Cabo Delgado, o seu X Congresso.
O evento ocorre quando ganha forma o debate sobre a exploração e distribuição de riqueza pelos moçambicanos. Embora o assunto não esteja explícito nos nove pontos da agenda ao Congresso, o seu debate, que pode ser “quente”, revela-se incontornável.
É facilmente previsível que a grande tónica da reunião magna terá a ver com o grande debate de momento, sobre a descoberta dos recursos naturais, principalmente as suas consequências: o que fazer dos excedentes financeiros que o país vai tendo, como distribuir esse dinheiro para que a riqueza alcance todos os moçambicanos, e como é que o país pode gerir os excedentes monetários.
Será, por conseguinte, importante que o Congresso atribua extraordinária prioridade ao tema da nossa segunda “independência” depois da “libertação política”. Temos de, definitivamente, começar a sentir que há possibilidade de termos libertação económica, nem que seja temporária.
Temporários porque países que lograram este objectivo viram-se mergulhados noutra desgraça, em que essa “libertação económica” não é abrangente.
É suficientemente elucidativo o exemplo da Nigéria, entre muitos outros.
A Frelimo tem o grande desafio de configurar as visões que vão orientar uma distribuição melhor da riqueza, para que, de facto, o impacto do recurso gás natural não seja de curto prazo, muito menos localizado apenas em alguns indivíduos.
Independentemente de o debate vier a ser ou não escaldante, o mais importante é que tudo culmine com decisões que assegurem a paz e estabilidade, duas conquistas nobres e soberanas que serviram de maior atracção de investimento nacional e estrangeiro para o país.
Uma das razões que justifica por que razão tanto capital flui para o país, reconheçamos, é exactamente o facto de que o futuro, pelo menos de curto e médio prazos, tem o contexto político de estabilidade garantido.
As pequenas ou grandes manifestações ou revoltas que Moçambique registou sempre se repetirão mesmo no contexto dessa estabilidade. Não representam uma instabilidade política, mas, sim, social. Do ponto de vista político é inquestionável o amadurecimento da Frelimo estimulado pelo enfraquecimento da Renamo.
Este quadro permite uma previsibilidade óbvia, de que o regime que governa é uma garantia de que os contratos firmados não terão interrupções nem alterações profundas.
Ora, isto transmite aos investidores confiança natural para continuarem a depositar os seus recursos em Moçambique.
Desta confiança os moçambicanos beneficiam-se com a produção continuada e transferência de tecnologia e know how.
A expectativa é maior.
CORREIO DA MANHÃ – 17.09.2012