Esta é a triste realidade com que se debatem os residentes das localidades de Mungazini, Hindane, entre outras nos postos administrativos de Catembe N´Sime e Bela Vista, no distrito de Matutuíne, província de Maputo.
Estas e outras dificuldades fazem com que se pense que aquela parcela esteja sujeita ao abandono e não haja interesse em ver melhoradas as condições de vida da população, que dia após dia luta para vencer as barreiras de acesso ao mercado e a outros serviços.
Francisco Mabui teve a vida mudada quando teve acesso a um hospital e escola para educar seus filhos na localidade de Mungazini, sendo que conseguiu aumentar a produção de hortícolas na associação agrícola de que é membro, mas a falta de transporte e vias de acesso para colocar o que produz ainda lhe tira o sono.
“Consegui muita coisa nos últimos anos e que veio mudar a vida da minha família. Temos água potável e todos outros serviços, mas a minha principal preocupação neste momento tem a ver com a falta de estradas asfaltadas e de energia eléctrica”, lamentou Mabui.
Maioritariamente agrícola, o distrito de Matutuíne debate-se ainda com a falta de tractores para as actividades agrícolas, bem como a ocorrência de roubos, actos de violência contra a mulher e as condições deploráveis do posto policial constituem entrave para o desenvolvimento.
Tal como contou à nossa Reportagem o líder comunitário da Bela Vista-Sede, Rogério Capezulu, Hindane e Mungazini não são as únicas localidades que enfrentam problemas de falta de água e falta de condições de habitabilidade, porque mesmo na sede os moradores percorrem vários quilómetros em busca do precioso líquido para as suas necessidades diárias.
“Temos bairros na vila da Bela Vista, como Mudissa, Mudada, Madjua e outros em que a população se desloca quilómetros em busca de água e para aceder a um mercado para vender e comprar produtos básicos”, disse Capezulu.
Com as casas maioritariamente de construção precária, as pequenas povoações contam apenas com carrinhas de caixa aberta para as suas deslocações até à vila-sede do distrito Matutuíne ou Boane que custa aos bolsos da população pelo menos 25,00 meticais por viagem.
“Temos apenas carros de caixa aberta que nos levam até à sede do distrito e quando chove ficamos trancados nas nossas casas, porque mesmo para chegar à Catembe é um problema sério”, comentou a residente de Hindane Julieta Mandzula.
A estrada que liga as povoações a outras partes da província, como Catembe, Bela Vista, Ponta d’Ouro e Boane, encontra-se numa zona facilmente inundável, contribuindo para a falta de transporte em épocas com a pluviosidade alta.
“Quando chove toda a zona fica alagada e ficamos sem transporte. Muitas pessoas morrem em caso de doenças mais graves porque ficamos sem transporte e isolados do resto da província”, explicou a nossa fonte, acrescentando que há vezes que não recebem combustível.
Avelino Muchine
Dificuldades têm dias contados
O aparente abandono em que Matutuíne se encontra poderá mudar, mercê de projectos de desenvolvimento e criação de infra-estruturas com a finalidade de ver melhoradas as condições de vida da população do distrito.
A garantia foi dada pelo administrador local, Avelino Muchine, para quem o aparente abandono daquela parcela do país deve-se à falta de vias asfaltadas, que faz com que investidores não se sintam atraídos a explorar as diversas potencialidades existentes no distrito.
“Se formos a ver, Matutuíne é o único distrito de Maputo que não tem uma estrada convencional e isso de certa forma limita o investimento estrangeiro e de parceiros nacionais. Contudo, há garantias de que o problema tem dias contados”, garantiu Muchine.
Tal como afirmou o nosso interlocutor, o aumento das áreas de cultivo, o incremento da produção agrícola e a expansão da área de turismo no que tange à exploração das potencialidades da reserva de Maputo poderão impulsionar o progresso daquela região do país.
“Na área do turismo há várias estâncias turísticas a surgir e vários pedidos de exploração de espaços a nível do distrito, onde poderemos incluir a questão do repovoamento de animais com vista a mantê-los na reserva e atrair turistas”, disse o administrador de Matutuíne.
Constituem ainda um “calcanhar de Aquiles”, segundo Muchine, a não construção de edifícios públicos para diversas finalidades e a falta de expansão da rede de energia eléctrica para as sedes das localidades.
“Já temos as sedes dos postos administrativos, mas falta termos sedes das localidades e melhorar a qualidade dos serviços. As instalações do Comando Distrital da Polícia funcionam em condições impróprias e num estado obsoleto e aspiramos efectuar mudanças”, afirmou Muchine.
Aqui se vive de agricultura e produção pecuária
Já há sinais de mudança
Transformar a área da bacia do rio Maputo num grande produtor de arroz da província e garantir a sua comercialização faz parte das principais metas escolhidas por Matutuíne como prioridade a longo prazo.
Essa ambição, assim como outras, faz com que se veja uma luz do fundo do túnel que poderá mudar a vida dos nativos e das pessoas que para lá se deslocam, colocando o distrito na senda do progresso.
Tal como afirmou o administrador do distrito, Avelino Muchine, está tudo a postos para que Matutuíne possa iniciar com a produção de arroz e estão criadas as condições para que investidores possam iniciar com a exploração de outros recursos existentes.
“Disponibilizámos uma área de 300 hectares em Salamanga que já está a produzir arroz com fundos descentralizados do distrito. Estamos a abrir mais espaço para a produção deste cereal”, acrescentou o nosso interlocutor.
A crescente procura de espaços para habitação coloca um outro desafio para as autoridades de Matutuíne, o de ordenamento territorial com vista a estabelecer áreas de habitação, de cultivo e de actividade turística.
“Para evitar o crescimento desordenado terminámos o ordenamento de algumas localidades, como o caso de Momole, Catuane e Bela Vista-Sede e disponibilizámos terrenos para os residentes”, disse Muchine.
O início das actividades da terceira operadora de telefonia móvel imprimiu uma nova dinâmica na vida das comunidades, pelo facto de permitir a utilização das tecnologias de informação e comunicação.
Tanto é que é possível ver pessoas de diferentes faixas etárias, incluindo os da terceira idade, a utilizar telemóveis para se comunicar com seus filhos e parentes, muita vezes a residir ou a trabalhar na vizinha África do Sul.
- Ana Rita Tene