Facto curioso é haver zonas da mesma cidade onde o precioso líquido jorra sem interrupção, o que leva munícipes desta urbe a recorrer a especulações, acusando o Fundo de Investimento e Património de Água (FIPAG), empresa gestora do sistema de abastecimento daquele líquido vital, de estar a priorizar determinado tipo de clientes.
Os bairros que mais se ressentem da falta de água potável são os de Cariacó, Natite e Alto Gingone, cujas torneiras deixaram de jorrar o precioso líquido desde Maio último, mas, estranhamente, a FIPAG continua a distribuir facturas aos consumidores ali residentes. Isto leva alguns clientes a questionarem a legitimidade da facturação, tal como lamenta Fátima Liasse, interpelada pelo nosso Jornal carregada de um tambor contendo água.
“Saí às cinco horas da minha casa e só agora é que consegui água numa casa, na zona da praia da Inos e eu vivo em Cariacó. Há dois dias, um elemento da FIPAG trouxe-me uma factura de 700 meticais de consumo, mas, em minha casa, não sai água desde o mês de Junho. Já disse ao meu marido para não pagarmos porque isso é burla”-acusou a nossa entrevistada.
Nas manhãs, as artérias da cidade de Pemba ficam repletas de gente, entre homens e mulheres de todas as idades, carregando recipientes de diversos tamanhos, à procura de água, um movimento que chega a obstruir o trânsito que, nos últimos dias, sofreu um incremento de veículos devido à vinda dos participantes ao Décimo Congresso da Frelimo, que ontem terminou.
Recentemente, a directora da FIPAG - Área de Distribuição da cidade de Pemba, Samira Gafur, solicitada pela assembleia municipal local, numa sessão ordinária daquele órgão, para explicar os contornos da crise, limitou-se a explicar que o sistema de abastecimento de água está em forma de malha, o que os torna difícil prever onde é que a mesma sai primeiro.
“É esta explicação que eu posso dar: não há nenhuma intenção da nossa parte em querermos escolher o tipo de clientes. Para nós todos são iguais, mas porque a nossa rede de distribuição de água aqui na cidade está em forma de malha, é difícil saber onde é que vai sair primeiro hoje e amanhã”- explicou, na circunstância a directora da FIPAG.
Samira Gafur disse, num outro desenvolvimento, que a empresa que dirige previa abrir mais furos no centro de captação, como forma de incrementar mais o abastecimento de água na cidade de Pemba, mas tal não aconteceu devido à falta de fundos.
“Devíamos abrir mais quatro furos mas tal não aconteceu devido à falta de fundos. Por isso, neste momento, estamos a preparar apenas dois e achamos que, nos próximos meses, vamos duplicar o abastecimento”-garantiu a mesma fonte.
Informações em nosso poder e não confirmadas pela FIPAG indicam que esta empresa está com sérias dificuldades no denominado ponto A, onde se localizam os furos de captação, no lençol freático da bacia do rio Muaguide, a cerca de 60 quilómetros da cidade de Pemba, devido à estiagem, um fenómeno recorrente por estas alturas do ano.
- ZÉ CAMPOS