Dois históricos dirigentes da Frelimo quebraram hoje o tom de unanimidade que estava a marcar o X Congresso, exigindo maior diálogo e apelando à consciência social do partido que governa Moçambique desde 1975.
Primeiro, foi Jorge Rebelo, conotado com a chamada "ala pura" ou ortodoxa da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), a exigir mais diálogo interno e também resultados à direção liderada por Armando Emílio Guebuza, que deverá ser reconduzido no cargo de presidente do partido.
Rebelo, intervindo numa sessão vedada à imprensa, manifestou-se igualmente apreensivo com "os perigos que rodeiam a unidade nacional", dando como exemplo apelos de dirigentes, que não citou, sobre a necessidade da prevalência dos chamados "originários".
O histórico dirigente da Frelimo, de ascendência goesa, brincou com o seu tom de pele mas foi recordando que no tempo de Samora Machel, primeiro Presidente de Moçambique, não se fabricavam minorias no país.
Outro dirigente histórico, Marcelino dos Santos, fundador da Frelimo, subiu à tribuna para contestar os que querem fazer de Moçambique "apenas" um destino turístico.
""Estou convencido que o desenvolvimento industrial é uma manga muito importante também para o desenvolvimento intelectual. É preciso que nós estejamos claros de que só avançando para o desenvolvimento industrial é que nós vamos também poder avançar pelos caminhos do desenvolvimento destas novas tecnologias", disse.
Marcelino dos Santos adiantou que Moçambique não pode ficar fora deste processo, e que "não pode de forma alguma deixar que digam que Moçambique" é um bom destino turístico.
"Onde é que está uma fábrica para produzir toalhas? Nós já tivemos, mas não foi agora", considerou Marcelino dos Santos, que há 50 anos participou no I Congresso da Frelimo, realizado em Dar-es-Salaam, na Tanzânia.
"É preciso que estejamos prevenidos contra essas vozes que querem fazer de nós apenas um destino turístico", acrescentou.
Marcelino dos Santos terminou a sua intervenção com um apelo a que o Estado continue a ocupar-se de assegurar a habitação, numa altura em que no país se avança para o processo de privatização do parque imobiliário nacionalizado em 1975.
"Estou convencido de que só o Estado pode assegurar a construção de habitação para o povo", disse.
Estas intervenções fugiram ao tom geral de satisfação "com as vitórias alcançadas" pela Frelimo, usado por vários delegados na sessão da manhã, vedada aos jornalistas.
Como exemplo, a intervenção de Januário Dienga, que elogiou o serviço de saúde moçambicano, geralmente criticado.
"Com um ou dois meticais (1 euro vale 35 meticais) é-se atendido por um médico e com 5 meticais tem-se medicamentos", disse o delegado, comparando com outros lados: "Há países do primeiro mundo em que as pessoas ficam 5 anos à espera de hospital porque não o conseguem pagar".
LAS.
Lusa – 24.09.2012