A ocorrência de vários minérios, principalmente de rubi na área do posto administrativo de Namanhumbir e do ouro no posto administrativo de Mapupulo, no distrito de Montepuez, para onde convergem garimpeiros e afluem potenciais compradores provenientes de vários cantos de Moçambique, do continente africano e do mundo, está a interferir ultimamente no ritmo de desempenho dos camponeses dessas zonas na produção agro-pecuária.
Estas revelações são do administrador de Montepuez, Arcanjo Cassia, entrevistado pelo “Diário de Moçambique”, o qual frisou, no entanto, que a segurança alimentar está garantida, embora alguns camponeses tenham abandonado a actividade de produção agrícola para se dedicar ao garimpo por representar maior rendimento familiar relativamente à prática da agricultura de subsistência que resulta em baixa renda dos respectivos agregados familiares.
Para evitar consequências nefastas desse fenómeno no futuro, o Governo do distrito de Montepuez está a desencorajar essa prática prejudicial no seio dos camponeses, verificando-se adesão ao apelo do Executivo, sendo exemplo disso o facto de na campanha agrícola passada ter sido obtida uma produção global de cerca de 200 mil toneladas de diversos produtos, numa área de 190 mil hectares, principalmente os cereais como arroz, milho e mapira.
O distrito possui grandes potencialidades agro-pecuárias ainda por explorar, concretamente nas áreas dos postos administrativos de Mapupulo e de Mirate, onde abundam recursos hídricos pouco aproveitados para a prática da agricultura familiar predominante na região.
O Executivo de Montepuez tem vindo a sensibilizar a população para a produção de culturas alimentares e as de rendimento para aumentar a renda familiar, embora essa pretensão seja contrariada pelo conflito homem/fauna bravia nos postos administrativos de Mirate e de Nairoto, onde os animais bravios invadem as zonas de produção por não serem confinados às respectivas coutadas e, por outro lado, devido à falta de alimentos destruídos pelas queimadas descontroladas.
Arcanjo Cassia revelou que os camponeses abrem campos agrícolas em blocos para evitar a destruição das suas culturas e óbitos, tal como aconteceu este ano, com a morte de duas pessoas e ferimentos de outras duas na cidade de Montepuez e nas comunidades de Mirate.
Adiantou que a constante movimentação de animais bravios provenientes da Reserva do Niassa para área de Montepuez, em Cabo Delgado, resulta da acção de caçadores furtivos que têm no elefante a sua presa principal, tendo sustentado que ao longo do rio Messalo, foram encontradas oito carcaças de paquidermes, cujos autores suspeita-se que sejam estrangeiros ainda por identificar na sequência de investigações em curso ao nível da Coutada da Muiriti Safari.
Num outro desenvolvimento, Cassia referiu que com a aplicação do Fundo de Desenvolvimento Distrital, FDD, vulgo sete milhões de meticais, o distrito de Montepuez está a registar avanços significativos ao gerar empreendedores que se dedicam à pequena indústria de agro-processamento de cereais, construção de casas de habitação melhoradas, aumento de meios circulantes como viaturas e motorizadas nas comunidades rurais.
Precisou ainda que Montepuez agora conta com intervenientes locais para a comercialização agrícola e para o abastecimento da população das zonas recônditas com produtos básicos comprados com dinheiro do FDD concedido aos empreendedores locais.
Até ao momento foram alocados ao distrito de Montepuez mais de 40 milhões de meticais com o reembolso a andar na casa dos 10 por cento, havendo a responsabilidade acrescida agora dado que esse valor entregue pelo governo central deverá ter rotatividade distrital para impulsionar o desenvolvimento local, segundo explicou o administrador Cassia.
Durante a entrevista, o administrador de Montepuez comentou que a ocorrência de minérios de maior procura no seu distrito, tem impacto positivo e negativo, ao se verificar que alguns jovens são bem sucedidos na actividade garimpeira que conseguem mudar positivamente a sua vida, ao abrir contas bancárias, comprar carros e melhorar as suas habitações.
Para aquele governante, a população das zonas de ocorrência de recursos minerais está a ser sensibilizada para se organizar em associações legalizadas para posterior obtenção de licenças de exploração de áreas mineiras situadas nas proximidades dos seus locais de residência.
Reconheceu que algumas empresas envolvidas na pesquisa de recursos minerais em Montepuez não seguiram as regras de consulta comunitária para posterior concessão de DUAT das áreas pretendidas.
No meio de tudo isso, há coisas estranhas que acontecem nas áreas de ocorrência de minérios, como seja aumento de criminalidade, devido a afluência de pessoas de várias províncias moçambicanas e de várias nacionalidades que resultam em mortes, venda e consumo de drogas pesadas, prostituição, entre outros males sociais.
Arcanjo Cassia negou que o afluxo de garimpeiros e estrangeiros nas zonas mineiras incapacite o sistema de controlo das autoridades governamentais de Montepuez que já esquematizaram a segurança das pessoas e bens.
Cinco empresas estão envolvidas na pesquisa e prospecção de minerais em Montepuez, nomeadamente a Rovuma Resources, Lida para metais básicos como Níquel, Zinco, Cobre e Manganésio; Vale Projectos Moçambique para metais básicos, Patel Mining para Mármore, EME Investimentos, SA – Corrundos e Montepuez Rubi Mining, Lda. Para rubi de Namanhumbir.
DIÁRIO DE MOÇAMBIQUE – 24.10.2012