MARCO DO CORREIO por Machado da Graça
Olá, Helena
Como estás, minha amiga? Do meu lado tudo bem, felizmente.
Como passou há poucos dias o Dia do Professor, resolvi falar-te, hoje, de alguns problemas da área da Educação, agora com novo ministro.
Mais uma vez, no Dia do Professor, ouvimos comentários que atribuem aos docentes os principais problemas ligados à falta de qualidade do nosso ensino.
Ora eu penso que a questão é muito mais funda.
Para mim o problema da falta de qualidade do nosso ensino começa no momento em que a Assembleia da República aprova o Orçamento do Estado. O problema é o Estado não atribuir à Educação o dinheiro suficiente para garantir um ensino de qualidade.
Todos os anos assistimos à decisão de o Ministério da Educação não contratar professores qualificados, por falta de verba para isso. Em vez desses docentes qualificados são contratados professores que pouco mais sabem do que os alunos que vão ensinar, mas recebem um salário mais baixo.
E assim gasta-se dinheiro a formar professores qualificados mas, depois, deixa-se esses professores no desemprego e as crianças são entregues a pessoas que, por muito boa vontade que tenham, pouco têm a dar aos seus alunos.
Vais-me dizer que o nosso país é pobre e não tem dinheiro para mais. E eu digo-te que estou a ficar farto dessa desculpa. O país é pobre para fazer as despesas necessárias ao nosso desenvolvimento, mas parece muito rico quando se esbanja dinheiro em projectos megalómanos e de nenhuma utlidade.
Porque será que, quando algum inspirado dirigente tem uma dessas ideias malucas ninguém lhe diz que o país é pobre? O país não era pobre quando se decidiu construir o Estádio Nacional? Quando se decidu realizar os Jogos Africanos? Quando se faz voar seis helicópteros, alugados no exterior do país, dias e dias seguidos, semanas e semanas seguidas, nas Presidências Abertas?
Parece que somos pobres para os pobres mas ricos para os ricos.
Vi, recentemente, duas fotografias interessantes.
Numa delas está o nosso novo Primeiro-Ministro a olhar para o novo Mercedes Benz que lhe foi atribuído. Na outra vê-se o Primeiro-Ministro da Holanda a chegar ao seu gabinete de trabalho. De bicicleta!
Como vês, pobreza e riqueza são coisas muito relativas.
E agora outra coisa. Para mostrar a falta de qualidade do nosso ensino costuma-se referir que crianças, na quinta classe, não sabem ler nem escrever.
E eu pergunto: Como é que essas crianças chegaram à 5.ª classe? Os defensores das passagens automáticas referem sempre que há exames no final de cada ciclo. Então como é que as crianças passam nesses exames sem saberem nada? Gostava que alguém me explicasse isso.
Um beijo para ti do
Machado da Graça
CORREIO DA MANHÃ – 19.10.2012