Coisas da nossa terra por Edwin Hounnou
Quem passa pelo troço, de quase 140 quilómetros, da estrada entre o cruzamento do Inchope e a cidade da Beira, apercebe-se, de imediato, a quantas o país anda mal conduzido. Quem viaja em viatura própria pode percorrer esta distância em quase 4 horas, andando aos intermináveis zigue-zagues, por vezes, caindo, de repente, em traiçoeiros precipícios.
Esta situação prevalece há mais de sete anos e as autoridades não ousam resolver o problema, produto de uma desastrosa governação. É comum entre nós não se resolverem os problemas enquanto despontam porque enquanto forem, ainda, pequenos demais não há nenhuma comissão para os seus executantes, fiscais ou para as autoridades de tutela que desembolsam os valores. Assim, convém que os buracos se transformem em crateras.
Não será por falta de fundos que aquele troço não se repara. É melhor, para alguns, que a via se degrade cada vez mais até ao ponto de não ser mais possível se fazer manutenção de rotina, mas sim a construção de uma via de raiz que vai custar muito dinheiro aos cofres públicos e obrigue o Governo a contrair dívidas. Assim, os corruptos, agachados nas chancelarias públicas, terão a sua parte acautelada, que fará deles homens e mulheres milionários, como eles próprios gostam de se designar. Se este troço tivesse sido reparado há cinco anos, pouco dinheiro de comissão teria ficado para as nossas “zelosas” autoridades. O governador e ministros passam por aquele troço, porém, fingem nada ver. O Chefe do Estado não pode ver esta penosa realidade porque sobrevoa o país todo de helicóptero.
Passam por estes troço viaturas de mercadorias e de passageiros, que se dirigem para o Centro/Norte/ Sul. Transitam por aquele troço viaturas de grande tonelagem, transportando mercadorias diversas e combustíveis, para Zimbabué, Malaui, Zâmbia e Sul da RD Congo, porém, ninguém se lembra que isso projecta, para fora, e não só, uma imagem negativa do país. Os utentes da via podem ser induzidos, e com razão, a pensar que Moçambique está a ser governado por incompetentes, incapazes de reparar um troço, apenas, de 140 quilómetros. Há muito dinheiro que se gasta em futilidades em detrimento de grandes prioridades nacionais.
Para garantir a manutenção periódica da rede viária, o Governo poderia arranjar as estradas e, em troços, concessioná-la às empresas. Dessas empresas não deveriam fazer parte o Presidente da República, os presidentes dos Tribunais Supremo, Administrativo, do Conselho Constitucional. Os ministros e governadores ficariam de fora. Aos PCAs das empresas públicas e os directores, a todos os níveis, não deve ser permitido integrar o capital social. Nem mulheres nem filhos dos dirigentes do Estado, como é prática comum entre nós.
Este troço, esquecido pelo Governo, é de importância crucial para o desenvolvimento nacional e dos países do hinterland. Um Governo que trabalha pouco pode expirar aos olhos do povo e tornando-se descartável e de nenhum interesse público.
CORREIO DAMANHÃ – 23.10.2012