O
arquipélago tanzaniano de Zanzibar passou por três protestos contra o governo
este ano, último dos quais em meados deste Outubro em que foi morto um agente
da polícia, estradas bloqueadas e lojas encerradas em toda a cidade de Stone
Town, a capital.
O grupo por detrás das manifestações, Uamsho (Associação para Mobilização e
Propagação Islâmica), afixou cartazes na cidade de Stone Town a exigir a
independência do arquipélago. Num dos cartazes lê-se “quando o casaco te aperta
tira-o,” referindo-se ao desmembramento da República Unida da Tanzânia, que foi
fundada em 1964 unindo Zanzibar à Tanganyika, parte continental.
As mais recentes manifestações começaram quando o Uamsho disse que o seu líder,
Sheik farid Hadi, tinha sido raptado pelas forças governamentais – o que é
desmentido pela polícia. Notícias no Facebook do Umsho ameaçaram atacar
cristãos se Hadi não for liberto; ele reapareceu a 16 de Outubro, três dias
após o seu desaparecimento.
DESCONTENTAMENTO
Estabelecido como uma ONG em 2001, o Uamsho radicalizou-se, ganhando popularidade entre os seus apoiantes desapontados pertencentes ao maior partido da oposição, a Frente Cívica Unida, que formou um governo de unidade nacional com o partido no governo, o Chama Cha Mapinduzi (CCM), em 2010.
O Uamsho esteve também envolvido em duas outras manifestações em princípios deste ano.
O governo da Tanzânia agiu decididamente contra as manifestações. “O governo não vai tolerar que alguns indivíduos ameacem outras pessoas ou que usem a religião para perturbar a paz e harmonia de que o país tem gozado nos últimos 50 anos,” disse Emmanuel Nchibi, Ministro do Interior numa recente conferência de imprensa.
Analistas dizem que a violência é alimentada pelo desemprego e falta de educação entre os jovens; o desemprego entre os jovens em Zanzibar é estimado em cerca de 20 por cento.
“A juventude é uma bomba-relógio. Temos muitos desempregados, pouco educados. São facilmente motivados para a acção, e não percebem muito bem o que estão a fazer. Esta é a razão porque pelo menos 70 por cento dos manifestantes são jovens, muitos deles com menos de 20 anos de idade,” disse Khamis Said, cientista social e investigador de assuntos sociais em Zanzibar. “Incêndio de bares, igrejas e propriedades do governo, roubo de cruzes – isto é tudo contra o islão, mas a juventude é pouco educada.”
Ele acrescentou que uma nova proposta de constituição virá clarificar o lugar de Zanzibar na união.
O presidente do Conselho do Uamsho, Abdulrahim Salim diz que a organização está à procura de meios pacíficos para ganhar independência para Zanzibar. Ele nega que o Uamsho pretende que Zanzibar se torne num estado islâmico
O antigo presidente da Casa dos Representantes de Zanzibar, Ali Mzee Ali diz que as ilhas devem continuar em paz para sustentar a sua economia. “O turismo é um grande contribuinte para o orçamento e depende da existência da paz,” disse
“Nós somos parte da Comunidade da África Oriental, e se uma das partes não é estável claro que isso vai afectar todos o membros,” disse
Abdullahi Halakhe, analista de assuntos do Corno de África no Grupo Internacional de Crise, diz que a reputação da Tanzânia como um dos países mais estáveis na região vai estar em risco se não conseguir gerir os actuais problemas tanto em Zanzibar como na parte continental. Manifestações também aconteceram em Dar es Salaam em meados de Outubro na sequência da detenção de um influente clérigo, o Sheik Issa Ponda; mas estes protestos parecem não estar relacionados com o Uamsho.
A Tanzânia é considerada como a bitola pela qual os outros países africanos são medidos. Apesar de ter uma centena de grupos étnicos, o país tem gozado de uma paz longa e ininterrupta. Mas com as eleições de transição à porta, onde, pela primeira vez, o CCM enfrenta um sério desafio, combinado com o descontentamento em Zanzibar...estamos em presença de manifestações de descontentamento, “disse.
Ele disse que organizações como o Uamsho podem inspirar grupos similares na região: A ameaça de Zanzibar abandonar a união vai ter implicações que vão transcender a Tanzânia. Movimentos secessionistas como o Conselho Republicano de Mombassa (MRC) vão obviamente sentir-se encorajados.
O MRC é um grupo baseado em Mombassa e que pretende uma independência para a zona costeira do Quénia.
Halakhe alerta para o facto de que a Tanzânia deve lidar com o caso do Uamsho com muito cuidado para evitar o escalar de tensões.
“O governo central deve tratar dos assuntos levantados pela população costeira Swahili, predominantemente muçulmana, e não podem ser levados de ânimo leve,” disse ele. “Deste modo, o governo central deve lidar com estes assuntos de boa-fé. Qualquer tentativa de resolver o assunto à força pode ser contra produtiva.”
Said diz que a menos que o governo abra canais de comunicação com o Uamsho, as manifestações vão continuar: “Precisamos de mais diálogo entre as diferentes partes. Se isto não for feito, podemos contar com mais manifestações,” disse.
Irin/bm/mz
AIM – 28.10.2012