EM 14 DISTRITOS DE TRÊS PROVÍNCIAS DO CENTRO E NORTE
A União Nacional de Camponeses (UNAC) afirma recear o surgimento, em Moçambique, animado por brasileiros, de um tristemente célebre fenómeno ocorrido no Brasil – comunidades dos “sem terra”, que, tal como lá, pode resvalar em cenários de convulsões sociais
FILIMÃO SAVECA
A União Nacional de Camponeses (UNAC) diz condenar “veementemente” qualquer iniciativa do Governo que preconize o reassentamento de comunidades e expropriação de terras dos camponeses para dar lugar a megaprojectos agrícolas de produção de soja, cana-de-açúcar e algodão pelo programa ProSavana a ser implementado em 14 distritos das províncias do Niassa, Nampula e Zambézia.
Aquela organização afirma ainda condenar a vinda em massa de agricultores brasileiros que se dedicam ao agronegócio, “transformando camponesas e camponeses moçambicanos em seus empregados e em trabalhadores rurais” e diz estar a notar com “enorme preocupação” que o ProSavana demanda milhões de hectares de terra ao longo do Corredor de Nacala, mas a realidade mostra falta de disponibilidade dessas extensões de terras usadas por camponeses com recurso à técnica de pousio.
Através dos Núcleos Provinciais de Camponeses de Nampula e da Zambézia, bem como da União Provincial de Camponeses do Niassa, a UNAC alerta igualmente para a previsibilidade do surgimento de comunidades “sem terra” em Moçambique fruto dos processos de expropriação de terras e reassentamentos e “frequentes convulsões sociais” ao longo do Corredor de Nacala e ainda casos de empobrecimento das comunidades rurais e redução de alternativas de sobrevivência.
A UNAC prognostica também um potencial aumento de corrupção e de conflitos de interesse, poluição dos recursos hídricos devido ao uso excessivo de pesticidas e fertilizantes químicos e casos de desequilíbrio ecológico devido ao desmatamento de extensas áreas florestais para dar lugar aos projectos de agronegócio.
O Programa ProSavana foi desenhado pelos governos moçambicano, brasileiro e do Japão para o desenvolvimento da agricultura em grande escala no Corredor de Desenvolvimento de Nacala e incidirá sobre 14 distritos do Niassa, Zambézia e Nampula, numa área de 14 milhões de hectares.
CORREIO DA MANHÃ – 29.10.2012