Visivelmente emocionada, algumas pessoas que intervieram durante o comício orientado pelo governador de Sofala, Félix Paulo, segunda-feira passada, na vila-sede daquele distrito, afirmaram não entender os reais motivos que fizeram com que Dhlakama se reinstalasse naquela região potencialmente agrícola.
"Ele deixou casas luxuosas em Maputo e Nampula para vir agrupar homens armados nesta zona onde já vivíamos em paz e harmonia. Durante a guerra, ele também passou um longo período de tempo nas matas da Gorongosa como na Casa Banana, onde recordamos de tristes episódios de violência e destruição de infra-estruturas que foram todas reerguidas graças ao clima de paz que vivemos desde a assinatura dos acordos de Roma"- palavras do professor Inocêncio Lino , longamente aplaudido pela população.
Enquanto Lino intervinha, centenas de populares gritavam exigindo a retirada imediata do líder da Renamo das matas daquele distrito.
Outros intervenientes lamentaram o facto de não poderem se deslocar livremente as suas machambas receando que sejam atacados pelos homens armados em treinamento de Vundúzi. Muitas outras pessoas tiveram que abandonar os seus bens e habitações nas zonas periféricas do local de aquartelamento da Renamo por temerem o pior.
O clima de medo é um facto. Reportam-se casos de cidadãos que já estão a refugiar-se noutros distritos vizinhos devido ao ambiente tenso que se vive na Gorongosa.
Todavia, e em face das preocupações apresentadas pela população, o governador de Sofala tranquilizou a todos que Moçambique tem um regime democrático, sendo que cada um pode viver onde quiser. Contudo, realçou que o Governo defende a manutenção da paz, não havendo motivos para receios de retorno a guerra.
"Somos um país democrático e o importante é que cada um faça a sua parte. Por isso, todos nós devemos continuar a realizar nossa vida normalmente, indo a machamba, hospital, escola (...), mas vamos vigilantes e tranquilos" - instou o governante.
Circulação de pessoas - condicionada em Vunduzi
DÁRIO Luís é um jovem de 24 anos de idade e comerciante radicado na vila da Gorongosa. Ele disse ao “Notícias”que a presença dos homens armados da Renamo estacionados em Vundúzi está a impedir a livre circulação de pessoas e bens na região.
"Os guerrilheiros da Renamo saem da sua zona, no interior de Vundúzi, e impedem as pessoas de circular na preferia da zona onde estão aquartelados. Eles dão ordens para que ninguém transite para o interior, ou seja, na zona onde se encontra o seu líder, Afonso Dhlakama. Nessa zona vivem pessoas que se dedicam a agricultura”, relatou.
Ele contou ainda que tais elementos tentam a todo o custo se confrontar com os efectivos da Força de Intervenção Rápida (FIR) que se encontra instalada na zona para garantir a ordem e permitir a livre circulação de pessoas e bens.
Dário Luís exemplificou que, há dias, o comandante da FIR baseado em Vundúzi chegou mesmo a travar uma acesa discussão que caminhava para vias de facto com um elemento da Renamo, que pretendia disputar um local onde é possível ter acesso a rede de telefonia móvel. Em Vundúzi a rede oscila e os guerrilheiros pretendem impedir que a Polícia tenha acesso ao local para se comunicar via telefone móvel.
Como se não bastasse, o nosso interlocutor denunciou ainda que, nos primeiros dias da chegada de Afonso Dhlakama, certos elementos da população foram violentamente agredidos na zona por razões ainda não clarificadas, muito embora a situação seja agora considerada calma.
Para João Randinho, de 17 anos de idade, esta situação preocupa sobremaneira a população que vive no interior da vila da Gorongosa, concretamente na zona de Vundúzi. Na sede distrital, a situação é descrita como sendo calma, embora prevaleça o clima de medo e incerteza quanto ao futuro.
Segundo Pedro Gustavo, técnico de recursos minerais baseado na vila da Gorongosa, essencialmente, a presença do líder da Renamo no interior daquele distrito cria problemas para algumas pessoas no passado foram vítimas dos horrores da guerra e violência protagonizada pelos guerrilheiros do então movimento rebelde.
"Todos pensam que a guerra um dia vai recomeçar, mas por enquanto paira apenas o medo. Circulamos normalmente de dia e noite até Casa Banana e Kobha. Mas alguns camponeses podem ter receio de não ir as machambas por temerem que sejam violentados. Muitas machambas foram abandonadas e o receio é que eclodam bolsas de fome".
Porém, no seu informe apresentado ao governador de Sofala, o administrador da Gorongosa, Paulo Majacunene, não fez qualquer menção a presença do líder da Renamo na sua área de jurisdição, precisando apenas que a vida continua a desenrolar-se normalmente na região.
Aliás, numa ronda efectuámos na vila da Gorongosa, observámos que o comércio continua a funcionar sem sobressaltos, o mesmo acontecendo com as instituições públicas, restaurantes e outros locais quer públicos quer privados.
José Meneses, gerente da Pensão Azul na vila da Gorongosa, disse-nos que o movimento de turistas ainda não começou a ser afectado, muito embora receie pelos próximos tempos.
Indicou haver períodos com muito afluxo de turistas, embora tenha observado que muitos têm medo de pernoitar na Gorongosa por temerem o reinício da guerra.
Ainda assim, o administrador do Parque Nacional da Gorongosa, Mateus Muthemba, tranquilizou o nosso repórter, afirmando que o movimento de turistas naquela estância continua a fluir normalmente.
Refira-se que o Governo já criou uma comissão para dialogar com a Renamo, chefiada pelo ministro do Interior, José Pacheco, aguardando-se apenas a marcação da data do encontro que terá lugar na capital do país, Maputo, e não na Gorongosa, como pretendia Afonso Dhlakama.
Enquanto isso, vozes da sociedade civil, religiosos e políticos continuam a lançar vigorosos apelos à a preservação da paz, instando também Afonso Dhlakama, a abandonar as matas juntamente com os seus homens armados.
Estejamos vigilantes
Intervindo no comício, o governador provincial de Sofala, Félix Paulo, disse que a paz deve ser preservada a todo o custo.
Paulo tranquilizou a população, garantindo que o Executivo está a empreender todos os esforços visando assegurar que a paz e harmonia prevaleçam no país.
“Fiquem tranquilos e vigilantes porque há oportunistas que podem nos distrair e perigarem a paz duramente conquistada pelos moçambicanos.
Disse ainda que Moçambique é um país democrático, sendo que cada cidadão é livre de viver onde quiser, apelando à população para que continue a realizar normalmente as suas actividades.
Na circunstância, os líderes comunitários e religiosos pronunciaram-se a favor de um diálogo entre o Governo e a Renamo que propicie a continuidade do ambiente de paz prevalecente no país.
Eles instaram ainda Afonso Dhlakama no sentido de deixar as matas juntamente com os seus homens, de modo a permitir que se restabeleça o clima de tranquilidade que sempre pairou em todo o distrito da Gorongosa.
- Horácio João, nosso enviado
NOTA:
Porque será que o Governador não foi a Vunduzi fazer um comício? É ou não é tyerritório sob a sua administração?
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE