COISAS DA NOSSA TERRA por Edwin Hounnou
Vi, a 11 de Novembro, na Beira, a simplicidade demonstrada pela princesa do Reino da Dinamarca, Mary Elizabeth, que se fez àquela urbe para inaugurar o Centro Integrado de Apoio às Vítimas de Violência Baseada no Género – único no país – construído com fundos da DANIDA, uma organização norueguesa de que ela é patrona. É uma obra imponente, apetrechada de um laboratório moderno, mobiliário de boa qualidade e uma nova ambulância disponibilizada pelo Conselho Municipal. O Centro fica no bairro Vaz.
Tem água da rede e do furo para o jardim. Tem energia eléctrica e um gerador de emergência. Tudo foi financiado pela Dinamarca, membro do “G19” – Grupo de 19 países europeus que apoiam o Orçamento do nosso Estado.
Acompanhavam a princesa o ministro da Cooperação do seu país, jornalistas e seguranças. A coluna da princesa tinha só quatro viaturas. Do lado de fora, para provar a nossa extravagância, o Aeroporto esteve repleto de viaturas do Estado, cerca de 70. Havia muitos grupos culturais, muita gente sem ocupação definida e várias dezenas de polícias, como acontece, entre nós, em ocasiões similares de recepção de figuras destacadas do “glorioso” Partido/Estado. Em aviões, os nossos dirigentes viajam em classe executiva enquanto os donos da mola vão na económica.
O que vi era mais que humildade: o modus vivendi de quem nasceu em berço de ouro e sabe respeitar o bem público, a contrastar com o comportamento dos nossos dirigentes.
Diferente da comitiva da nossa primeira dama ou do “camarada” secretário-geral que ocupam toda a aeronave com seguranças, cozinheiros e penduras.
Em terra, esperam-nos milhares de crianças privadas de aulas, funcionários obrigados a irem ao aeroporto para receber a visita. Os serviços públicos fecham.
Enfermeiros e professores do nível primário e secundário, polícias e seguranças se fazem ao aeroporto enquanto outros perfilam ao longo do trajecto por onde vai passar a caravana. O governo do território visitado vai em peso ao aeroporto, para mostrar a sua fidelidade partidária. Os gabinetes permanecem fechados, os seus utentes recebem salários pelo que não fazem. A coluna de viaturas da primeira dama ou do secretário-geral é de mais de 50 viaturas do Estado.
Quando chega a vez do Presidente da República tudo atinge o seu expoente máximo. Centenas de viaturas do Estado acompanham a “luz da nação”.
Dezenas de motos, ambulâncias, carros de bombeiros, companhias de polícias, com destaque para a FIR. Os camponeses e operários entram de férias colectivas. O processo produtivo fica todo interrompido. As visitas do Presidente, do secretário-geral e da primeira dama servem para desmobilizar a produção.
A pobreza é uma mina de onde retiram fortunas para se proclamarem empresários de sucesso e milionários sem nunca terem sujado as mãos. Para
Moçambique ser de todos nós, os nossos governantes precisam de fazer o inverso do que têm feito até aqui – deixarem de ser roedores do bem comum.
CORREIO DA MANHÃ – 22.11.2012