COISAS DA NOSSA TERRA
Por Edwin Hounnou
O Governo faz-se de avestruz, enfia a cabeça na areia para não ver o perigo. Lendo os protocolos do Acordo Geral da Paz, ressalta à vista que o Governo enganou, em toda a linha, a Renamo.
A Frelimo conhece Dhlakama, por isso, arruma uma comissão de GDs para entreter a Renamo, pensando que é um conjunto de patetas.
Julga que basta levar a Dhlakama um cheque de uns trocadinhos e o número do celular de Guebuza para que o líder saia a dizer que já se entendeu com o seu “irmão”.
O partido Frelimo, no poder desde a proclamação da independência, anunciou a composição da sua delegação para estudar, supõe-se que seja para negociar com a Renamo, as suas reclamações que teriam ditado o retorno do seu líder às matas da Gorongosa, a seguir aos festejos dos 20 anos de paz, que se celebram a cada 4 de Outubro. Integram a dita comissão, que não é comissão nada, quatro ilustres desconhecidos – Afonso Meneses Camba, Manuela Mapungue, Yolanda Matsinhe e Renato Mazivila. A Frelimo não quer resolver os problemas da paz que andou a arranjar. Sempre foi sua intenção que a paz seja um espólio de diamante para o seu grupinho e um cabaz cheio de nada para o povo. A Renamo disse, e bem, que não dialoga com o partido Frelimo por ser irrelevante no processo de paz.
Não se deve continuar a fingir que não existem problemas. Existem e são muito graves porque ameaçam a paz e o desenvolvimento socioeconómico do na areia para não ver o perigo. Lendo os protocolos do Acordo Geral da Paz, ressalta à vista que o Governo enganou, em toda a linha, a Renamo. Os órgãos eleitorais, a todos os níveis, foram assaltados pelo partido no poder, tornando-se jogador e árbitro, ao mesmo tempo. O Estado virou sua couraça, infestando-o de células do partido. Os guerrilheiros da perdiz foram, por manobras dilatórias, impedidos de integrar a Polícia e a secreta. Nas Forças Armadas, os que haviam sido integrados, quase todos foram expulsos arbitrariamente e os poucos que ficaram ostentam o falso cargo de assessor de nada.
A facilidade com que Joaquim Chissano, antigo presidente de Moçambique, entrujou, em Gaberone, Afonso Dhlakama já o diz em público sem descaramento.
As Forças Armadas já retornaram para o tipo FAM/FPLM. O Estado está partidarizado. As eleições são vencidas fraudulentamente. A Frelimo manda na Polícia, no Exército, na secreta, nos tribunais. Assaltou o Estado, que é um bem comum. Isso aconteceu devido, em parte, às fragilidades de Dhlakama que se atrapalha por nada. Lutar pela democracia é perseguir o poder. Dhlakama não entende isso. Diz ter lutado, apenas, pela democracia, por consequência, os seus “irmãos” ficam com todo o naco da paz enquanto o líder vai roendo ossos. No acordo de paz a Renamo saiu a perder e a Frelimo ganhou tudo, até ficou com o país todo.
A Frelimo conhece Dhlakama, por isso, arruma uma comissão de GDs para entreter a Renamo, pensando que é um conjunto de patetas. Julga que basta levar a Dhlakama um cheque de uns trocadinhos e o número do celular de Guebuza para que o líder saia a dizer que já se entendeu com o seu “irmão”. Mas o povo quer uma paz efectiva em que todos ficam a ganhar. A paz que temos permite que uns fiquem com carvão, gás, minas, bancos, empresas do Estado e a maioria continue a viver de ratazanas. Essa paz não serve os interesses dos moçambicanos. Serve aos corruptos e ladrões do bem comum.
CORREIO DA MANHÃ – 23.11.2012