Por: Adelino Timóteo
Joaquim Chissano veio esta semana dizer à boca-cheia que Afonso Dhlakama é inconsciente, qual um mago, um impoluto, que tenta tapar o sol com a peneira. No lugar de fazer esta afirmação, seria justo que ele, Joaquim Chissano, desse mão à palmatória quanto à responsabilidade do que está a passar-se, pois foi o antigo chefe de Estado que legou a Armando Guebuza esse problema de enquadramento da segurança armada de Afonso Dhlakama. Por partes: Joaquim Chissano é em muito o grande responsável pela situação de Gorongosa. Ele ignorou os protocolos de Roma que previam a integração de 12 mil militares da Renamo nas Forças de Defesa de Moçambique, como ignorou a integração de 150 seguranças armados da Renamo na PRM.
A teoria de fuga para frente de Joaquim Chissano assentava em que o caju quando está maduro cai. Chissano disse e reafirmou várias vezes esta teoria, numa premonição baseada em que Dhlakama e seus homens iriam chegar a um estado de falência e desistiriam sozinhos de exigir integração no exército e na PRM.
Por causa de Joaquim Chissano, da sua diplomacia cínica, e da maneira dele de pensar, hoje temos um país quase mergulhado em guerra. E vai daí que ele vem de novo ao terreiro dizer que Dhlakama é inconsciente.
Qual inconsciente? Acaso sendo Chissano mais consciente que Afonso Dhlakama, onde está a sua consciência?
Joaquim Chissano negligenciou a implementação total/cabal, do protocolado em Roma.
Como chefe de Estado que foi Joaquim Chissano não agiu como bom chefe de família. O que divide agora os moçambicanos tem origem no facto de ter faltado ao antigo estadista a noção de bonus pater.
Chissano apareceu há dias na Imprensa, ao invés de dar mão à palmatória e rogar penitência aos moçambicanos com “meã culpa”, ele veio deitar mais fervura na lenha, ao afirmar que Dhlakama é inconsciente.
O Acordo Geral de Paz tomou a forma de lei, por isso não pode continuar a ser negligenciado. O que Joaquim Chissano deveria ter feito seria acomodar uma reivindicação que há mais de vinte anos Dhlakama vem fazendo.
A reincidência do Governo quanto ao incumprimento do que foi protocolado em Roma só espelha que Dhlakama andou em todos estes anos iludido de que havia se reconciliado com o irmão “Chissano”, que afinal vê em Dhlakama um inconsciente.
A atitude de Chissano só espelha que lhe dá gozo brincar com fogo, numa altura em que os ânimos sobem. Nada fez nem nada faz para os serenar em mais de vinte anos.
O que Chissano fez é ter perdido uma soberba oportunidade de ficar calado, porque lhe faltou seriedade que se lhe impunha como chefe de Estado para resolver definitivamente a questão dos protocolos militares.
Quanto ao predecessor de Chissano, aquando da campanha eleitoral de 2004, disse à boca-cheia que uma das suas prioridades, caso fosse eleito presidente do país, seria acabar com os “homens armados da Renamo”. Tal não aconteceu.
No derradeiro momento do seu mandado a memória que Guebuza nos legará não será só de incumprimento da promessa, mas de falta de flexibilidade no tratamento desta questão tão melindrosa como séria, isentando de cores partidárias, como o que temos assistido, pois os signatários de Roma foram a Renamo e o Governo de Moçambique. E se impõe ao Governo do Dia e a Renamo reverem o que discutiram e assinaram em Roma, no lugar de darem azo a afirmações sensacionalistas, a mais elementar atitude e natureza de guerra psicológica, em que os dirigentes da Frelimo e da Renamo estão embrenhados, onde os únicos agredidos somos nós cidadãos moçambicanos, descomprometidos de cores partidárias e dos seus interesses obscuros.
No meio da tensão em que o país está, não é altura de continuarmos a “fintar” e “deixa-andar”. Não é momento de aplaudirmos as afirmações de quem parece não ter memória da responsabilidade que lhe pesa nas mortes que aconteceram em Março em Nampula.
Quando a justiça do Estado não funciona os cidadãos fazem-na pelas próprias mãos.
Tal tem sido sonegada. Apetece-me perguntar a Joaquim Chissano porquê negligenciou a implementação destes protocolos militares? Como um bom pai de família terá sido sensato negligenciar por filho vinte anos, deixá-lo à margem, e hoje apodá-lo de inconsciente?
Numa palavra, tamanha é a casmurrice de Chissano que só vez inconsciência num filho que exige a justiça igual para todos?
Na fronteira entre a inconsciência de Dhlakama e a consciência de Chissano urge dizer que a ausência de Estado de direito em Moçambique é a ponta do iceberg do que temos vivido, o que permite a vítima ser sempre culpada, nas aspirações e exigências legítimas.
Onde está o Procurador da República?
O provedor de justiça?
A bem na nação!
Canal de Moçambique – 21.11.2012