Por: Noé Nhantumbo
Quem está disposto a conversar começa por nomear gente de nomeada e com potencial de credibilidade e poderes suficientes para o efeito…
Cada um está livre de utilizar os meios que tem e as linhas estratégicas consideradas as mais acertadas para uma provável conversa ou negociação. No jogo político e diplomático a ocorrência de negociação é uma fase de todo um processo que não é linear.
Em Moçambique, após a eclosão de batalha verbal iniciada por Afonso Dhlakama, líder da Renamo, transladado para Gorongosa na sequência de uma declaração política prenhe de exigências, a Frelimo respondeu inicialmente com o silêncio.
Os sinais indicam que a SADC adiantou-se entre os interessados para um frente a frente a Frelimo e a Renamo aconteçam.
As confissões religiosas moçambicanas mormente a Conselho Cristão de Moçambique exigem encontros ao mais alto nível com a liderança da Frelimo e da Renamo para que os assuntos colocados pela Renamo sejam discutidos no espírito de manutenção da Paz.
Anúncios de deslocação de Tomás Salomão ao encontro da liderança da Renamo não se confirmam e se estiverem ocorrendo é bom para o país e os moçambicanos.
Dos membros da Comissão Política da Frelimo em serviço nas diferentes províncias tem saído declarações alinhadas com uma abordagem sustentada há já bastante tempo. Essencialmente dizem que nada a discutir sobre o AGP. Ao mesmo tempo dizem que seu partido está interessado em tudo fazer para manter a paz e estabilidade no país mesmo que seja sentar-se à mesa com a Renamo.
Nesse sentido terão nomeado uma comissão de quatro membros para entabular conversa com a Renamo. Mas logo quase todos os observadores dos assuntos políticos moçambicanos ficaram atónitos com os nomes dos constituintes do quarteto. Por mais ilustres e competentes que estes cidadãos sejam a verdade é que são uns desconhecidos mesmo para membros da Frelimo.
É claro que alguém pretende acusar a Renamo de não aceitar conversar mas a Renamo foi rápida a exigir que qualquer conversa seja com o governo do dia.
Estamos perante um jogo de empurra em que ninguém quer “ficar mal na fotografia”.
A batalha de hoje é política e diplomática. É credível avançar e afirmar que se o governo estivesse certo sobre a sua efectiva capacidade militar seu comportamento no quadro desta crise que se instalou no país seria outro.
Se não temos conflito militarizado aberto neste momento é porque as partes estão apalpando quanto vale a outra.
Há um histórico de embustes e de logros que a Renamo terá aprendido na sua relação com a Frelimo.
Recordam-se todos em que deu aquela suposta negociação que tinha em Raul Domingos da Renamo como chefe? Deu no que deu e daí Domingos foi expulso da Renamo.
O encontro recente entre Guebuza e Dhlakama não produziu nada de substancial senão uma alegada troca de números de telefone entre os dois.
Haverá realmente vontade firme entre as partes para abordar os assuntos espinhosos conhecidos por ambas? Não estaremos um exacerbar da situação deliberadamente executada para que o “comboio descarrile”? Não será uma concertação em certos círculos que terminará quando algumas figuras entenderem que chegou a altura ideal para “pescarem nas águas turvas”?
Onde estão os exímios diplomatas que fizeram parte do governo de Joaquim Chissano? Onde está o próprio Chissano num momento que a maioria dos moçambicanos considera que os ânimos se exaltam e a paciência esgota?
Quem estará aconselhando Guebuza?
O arcaboiço económico e financeiro de alguns membros do establishment lhes faz acreditar de que só terão a perder se encetarem negociações sérias com a Renamo?
A composição da Assembleia da República decerto que não seria a actual se não tem havido manipulação da legalidade eleitoral.
O impedimento que os partidos da oposição sofreram foi fundamental para que os números alcançados pela Frelimo fossem o que se viu. É completamente inacreditável que a Renamo só tenha um membro na Assembleia Provincial de Sofala, ou não é isso?
A incredulidade dos cidadãos face aos resultados eleitorais anunciados sucessivamente, leva a que a oposição reclame que o pacote eleitoral favorece a Frelimo.
Isso já tem sido manifestado e expresso por académicos, organizações da sociedade civil, ONG’s internacionais e cidadãos comuns.
Os diferentes dossiers apresentados pela Renamo têm alguma razão de ser e importa que sejam debatidos entre as partes sem subterfúgios e agendas ocultas.
AEG deve estar sofrendo pressões dos seus correligionários para não ceder e adiar qualquer negociação substancial com a Renamo.
Isso é sintomático com a postura habitual dos integrantes de topo da Frelimo onde reside uma massa crítica e influente neste partido.
A nomeação daquele quarteto de “ilustres” desconhecidos aponta para a existência de uma estratégia de desgaste por parte da Frelimo. Acreditam que levarão a liderança da Renamo a ceder, aceitando o status simplesmente com alterações cosméticas minuciosamente elaboradas ao nível dos órgãos eleitorais.
Podem até oferecer à última hora uma hipotética integração da segurança da liderança da Renamo nas forças policiais governamentais.
Só que isso vem relativamente atrasado. Agora os outros exigem o desmantelamento de uma força policial altamente partidarizada.
É de julgar que as corporações multinacionais através de seus governos aconselhem as partes a assinarem um acordo que signifique continuação da exploração dos recursos minerais.
Isso terá implicações que não se enquadram nas contas dos que neste momento beneficiam com exclusividade desses recursos.
Todo o aparato de empresas e holdings criadas para aproveitar-se de uma rede complexa de tráfico de influências e informações privilegiadas irá sofrer com a abertura e transparência que afinal a maioria dos moçambicanos quer ver instalada e servindo de critério único para a actuação na esfera económica.
É de importância vital que a oposição aproveite este empurrão estratégico e se lance na divulgação de uma agenda política e económica diferente no país.
Não é preciso esperar pelas campanhas eleitorais para se divulgar mensagens políticas e informar os cidadãos sobre os contornos que os assuntos políticos e económicos estão tomando no país.
Vencer e ver vencendo aquelas causas que trarão dignidade e participação dos moçambicanos nos esforços multiformes neste país requer vigor, persistência, inteligência, cometimento e entrega de todos.
Governar pode mudar em Moçambique e isso depende acima de tudo de todos os moçambicanos.
Não são as corporações multinacionais apadrinhadas por seus governos que devem impor neste país.
Basta de termos um governo instalado que personifica acima de tudo uma visão estreita e virada para a nomeação de indivíduos, como forma de pagar favores políticos ou de garantir obediência e cumprimento de pacotes de instruções.
Queremos ter um governo engajado na procura de soluções gerais e com impacto na vida de um número cada vez maior de moçambicanos.
Não poderemos continuar reféns de agendas que realizam objectivos privados, particulares de “gente especial da nomeada”.
Democracia não é e jamais será sinónimo de autocracia ou oligarquia.
Isso os moçambicanos já entenderam…
Canal de Moçambique – 21.11.2012