MARCO DO CORREIO por Machado da Graça
Olá, Julieta
Como vai a tua vida e a dos teus filhos? Espero que tudo corra bem. Do meu lado está tudo normal.
Hoje queria-te falar da passagem do 5º aniversário da reversão da Hidroeléctrica de Cahora Bassa para o Estado moçambicano. E não para o Governo moçambicano, como alguns se apressaram a afirmar.
E não é para vir com frases bombásticas do tipo “2ª independência” e coisas que tais.
Quero apenas falar de algumas das realizações que foram feitas no contexto do aniversário.
E vou começar por uma que deu bastante controvérsia, atendendo aos valores que foram sendo anunciados para o seu custo.
Se bem percebo trata-se de um mural, do artista Naguib, feito naquele seu pessoal estilo de mosaico feito de pequenos azulejos multi-coloridos. Algo à maneira dos murais que ele fez na Marginal de Maputo e na sede da Electricidade de Moçambique.
Não sei quanto é que aquilo custou, ou vai custar.
Já vi e ouvi publicados três valores completamente diferentes uns dos outros. Nem sei se o valor real é, ou não, demasiado elevado. As obras de arte não são avaliadas pelo seu tamanho ou outras formas de medição do mesmo tipo. Um pequeno desenho original do Mestre Malangatana vale muitíssimo mais do que quadros grandes de alguns pintadores que por aí existem.
E, em relação à crítica de alguns sobre o facto de se não ter feito concurso público, tenho a dizer que, nestas coisas de arte, não sendo os concursos públicos impossíveis, eles não são, na maior parte das vezes, aconselhados. Eu não compro uma obra de arte pela melhor relação preço/tamanho. Compro porque gosto dela, porque gosto do trabalho artístico do seu autor.
Mas, mesmo que a obra possa ter sido cara, eu pergunto: quem é que vai beneficiar dela? Serão os ricaços do costume? E a resposta é: não. Quem vai beneficiar são as pessoas todas que por ali passarem e a poderem apreciar. Hoje, amanhã, daqui por um ano, daqui por um século, se nada de trágico a destruir. É uma obra de arte oferecida ao Povo Moçambicano. E eu acho isso óptimo.
Mas a HCB não se ficou por aí e ofereceu, também, à vila do Zumbo um novo hospital e uma sala de informática com ligação à internet. Também sobre estas iniciativas não conheço os custos mas, também nestes casos, os beneficiários são os moçambicanos comuns. O dinheiro não foi gasto para pagar novos benefícios para aqueles que já têm tudo, mas para melhorar a vida dos que não têm nada. E isso é, sem a menor dúvida, de louvar.
Haverá gente que, ao ler esta carta, vai dizer que eu acabei por me vender ao dinheiro hidroeléctrico.
Mas quem o disser está completamente enganado.
Não faço desses fretes mas, se muitas vezes aponto o dedo às coisas que me parecem erradas, uma ou outra vez gosto de chamar a atenção para coisas bem feitas e úteis para todos nós.
Um beijo para ti do
Machado da Graça
CORREIO DA MANHÃ – 30.11.2012