Matias Guente
Num momento que diversos relatórios apontam a agudização da corrupção no País e o debate sobre a moralidade pública está em voga, conjugado com a alegada crise de valores que acampou no seio da elite política do Estado e do partido Frelimo, o ex-presidente da República de Moçambique, Joaquim Chissano, decidiu entrar no debate e mandar recados aos que prometeram combater a corrupção e volta e meia estão envolvidos nela, diga-se, até ao pescoço.
Sem mencionar nomes, Joaquim Chissano disse que os que fizeram marchas e campanhas contra a corrupção, são hoje corruptos. Coincidência ou não, Armando Guebuza, sucessor de Joaquim Chissano na Presidência da República, quando chegou ao poder elegeu o combate à corrupção e ao “espírito de deixa-andar” como bandeiras da sua governação.
Hoje a situação parece ser de “deixa corromper e ser corrompido”.
Chissano falava durante a conferência africana da Juventude sobre a Democracia e Boa Governação, evento organizado pelo Parlamento Juvenil, a mais vibrante organização juvenil moçambicana.
O antigo estadista moçambicano falou dos combatentes contra a corrupção que se tornaram “grandes corruptos” quando abordava a questão da personalidade e carácter que se quer exemplar hoje, para inspirar as gerações vindouras.
O discurso de Chissano pode encontrar algum enquadramento polémico quando analisada a realidade moçambicana conjugada com as práticas da actual elite governamental. Verdade ou não, o facto é que, aquando da sua ascensão ao poder a actual liderança governamental do País pregou com alguma vibração, o discurso do combate à corrupção e ao espírito de “deixa-andar” prática reiteradamente mencionada como estando ligada ao modus operandi do reinado de Chissano.
A verdade mostra hoje que a corrupção aumentou e a popularidade dos que se propuseram a combater a corrupção está consequentemente a ser revista em baixa a cada ano que passa.
Uma escola de liderança para os futuros líderes Chissano disse andar muito preocupado com a liderança no geral, e olha para os jovens como a saída para aquilo que chama de problemas que a sua “geração não resolveu”. Com efeito revelou que está a trabalhar juntamente com um grupo de académicos para instalação de um Instituto Superior de liderança e boa governação. A ideia, segundo disse, é que o espírito de liderança e boa governação comece a ser cultivado entre os jovens. “Vamos criar uma instituição de pesquisa, que vai dar preparação em preceitos modernos daquilo que é boa governação.
Não podemos chegar e pedir para pessoas que estão com dois anos para terminar o mandato e pedir que mudem, mas vamos formar os futuros líderes que queremos para resolver os problemas do País. É com vocês que contamos e não com estes que estão com dois anos para terminar mandato”, disse Chissano que era aplaudido de intervenção a intervenção.
Conceito de Democracia e Boa Governação
Na sua apresentação, o ex-presidente da República de Moçambique abordou a questão da “Democracia e Boa Governação”.
Disse que há controvérsia na abordagem da democracia e boa governação, mas o importante é olhar para os critérios que encerram os dois conceitos para efeitos de avaliação de uma boa governação ou má ou mesmo a democracia e ausência dela.
Para a avaliação da democracia, segundo Chissano, estão envolvidos itens que vão desde a abertura para participação, a responsabilização de cada cidadão a seu nível, a clareza e transparência, o esforço de cada um para o prossecução do objectivo comum, e a observância das normas para a garantia do Estado de Direito Democrático. Um País que observa estes ditames pode ser considerado democrático, na óptica de Chissano.
No que à “boa governação” diz respeito, de acordo com o antigo estadista moçambicano, há também uma espécie de criteriorização, mas o mais importante dos atributos é que a governação se dirija para o bem-estar da população. Chissano foi categórico: “O bem-estar da população é o termómetro da boa Governação. Se as pessoas não sentem, ou não vêem as suas vidas a mudar, a governação não está boa”. A participação é a chave em democracia. É preciso uma ligação permanente entre o povo e os dirigentes, ou seja, entre os que dirigem e os que executam as decisões, sobre o risco de as decisões transformarem-se em ordem e as pessoas que têm por tarefa executá-la não se sentirem identificadas.
Papel da juventude na óptica de Chissano
E porque numa conferência da juventude não se pode falar de tudo, sem passar pela juventude, que aliás é o objecto do encontro, Chissano abordou os desafios actuais que se impõe para a juventude. Começou por alertar que é preciso que a juventude tenha um ideal claro para que os próprios jovens saibam onde vão e o que querem.
Para Chissano, não há uma solução mágica para os problemas da juventude. Fazendo uma analogia com o período áureo da sua juventude Chissano disse que é preciso que a juventude use os meios ao seu dispor para recusar a exclusão, e lutar pela inclusão. “É preciso que a juventude lute e conquiste o seu espaço”, concluiu JC.
CANAL DE MOÇAMBIQUE – 12.12.2012