MARCO DO CORREIO por Machado da Graça
Meu caro Simeão
Espero que esteja tudo bem contigo. Do meu lado está tudo normal, felizmente.
Queria hoje comentar contigo uma coisa que está a acontecer, neste momento em que te escrevo, num país africano.
Pois nesse país, há já uns bons anos, o Governo e um movimento de guerrilha assinaram um Acordo de Paz que pôs fim a uma guerra civil.
Mas os guerrilheiros acusam o Governo de não estar a cumprir aquilo que assinou nesses acordos. Em vários aspectos mas, nomeadamente, no que diz respeito à desmobilização e reinserção dos combatentes.
Os rebeldes cansaram-se de esperar que o Governo cumprisse com aquilo que assinou e voltaram à guerra. Neste momento já tomaram quatro capitais provinciais e estão a uma centena de quilómetros da capital do país.
Tudo isto se passa na República Centro-Africana. Mas será que esta história não nos recorda nada de mais próximo? Será que, mudando o nome do país, o nome da capital e das capitais provinciais e o nome do movimento, não estaremos perante exactamente a mesma história do que se passa entre nós, neste preciso momento?
O Governo de Bangui já aceita negociar com os rebeldes Seleka, desde que eles abandonem as cidades que tomaram. Os rebeldes dizem que isso nem é bom pensar. Que o Governo já não controla nada e o melhor é demitir-se.
Eu estou em crer que o Governo deixou as coisas chegarem a este ponto porque estava convencido de que, em caso de guerra, facilmente venceria os rebeldes. Só que se enganou, e agora é tarde demais para desfazer o erro.
Será que esta história não deveria servir de lição, no nosso país, enquanto ainda é tempo?
Não deveríamos deixar a arrogância em 2012, entrando em 2013 com mais seriedade no enfrentar dos problemas do país?
Num país em que tanto se fala de Paz e Unidade Nacional tão pouco se vê fazer para preservar essa Paz e essa Unidade. Um Governo que se diz aberto ao diálogo senta-se à mesa apenas para negar razão a todos os problemas apresentados pela RENAMO. Diálogo é isso?
Não sei quem está a traçar a estratégia governamental nesta crise mas sei que, se a guerra voltar ao nosso país, grande parte do sangue derramado cairá por cima da(s) sua(s) cabeça(s) arrogante(s).
E que ninguém diga, depois, que não foi avisado...
Um abraço para ti do
Machado da Graça
CORREIO DA MANHÃ – 28.12.2012