Não se esqueçam, senhores governantes:
Terminou na segunda-feira o ciclo de “diálogo” que o “Governo” vinha mantendo desde há três semanas com a Renamo.
Das três sessões resultou “ZERO”. O Governo não cedeu um milímetro e se bem que alguns tenham ficado empolgados com o facto, sente-se uma grande frustração de quem esperava que o “diálogo” não terminasse como terminou. A Delegação do Governo revelou-se intransigente aos olhos de quem assiste da bancada, mas por trás de toda a “musculatura” exibida pelos “Três Mosqueteiros” pode estar escondida a miserabilidade da autoridade dos enviados à mesa das conversações.
Lendo à risca as declarações dos porta-vozes das delegações, sobretudo as de José Pacheco, que chefiou a delegação enviada por Armando Guebuza, aparentemente está tudo perdido, mas sabendo nós que a lógica dos militares é muito diferente da dos políticos que ainda não atingiram a fase da adolescência política, somos levados a achar que ainda é prematuro tirarem-se todas as conclusões do que se passou na mesa
Quem vivia em Lourenço Marques no tempo da Guerra Colonial não foi capaz de perceber o rumo que a História tomaria.
Quem vivia em Maputo no período da Guerra Civil que devastou o País até que o bom-senso imperou em Roma, também não foi capaz de ler os ventos da História.
Acima de quem se encontrou para aquilo a que chamaram “diálogo”, está seguramente alguém que a outro nível irá decidir, para o bem ou para o mal.
A maioria qualificada da Frelimo no Parlamento é uma maioria da exígua minoria que foi votar. Está-se a falar de dois terços de menos de um terço do eleitorado, cenário que seguramente não só piorou desde que a legitimidade jurídica do actual poder foi sufragado, até aos dias de hoje. No entretanto já tivemos o 05 de Fevereiro de 2008 e o 1 e 2 de Setembro de 2012. As greves estão a borbulhar em Maputo, o tal “reduto” da Frelimo. Os raptos sucedem-se em catadupa. A criminalidade está a atormentar a população em todos os bairros da capital, pondo em sério risco a capacidade das actuais autoridades governamentais. A Polícia não consegue resolver uma, suspeitando-se acima de tudo que mais do que incompetência poderá estar a pesar uma enorme insatisfação a sugerir que admitamos estar em curso uma greve de zelo. Subordinados, seguramente já se aperceberam que o que lhes falta a eles, quem manda tem de sobra e em excesso.
Pacheco no silêncio da ambição para que possam estar a induzi-lo imaginar-se-á elegível para outros voos e seguramente não estará a ser capaz de ver o verdadeiro perfil de quem o nomeou para o diálogo com a Renamo. Todos os outros que já acreditaram que eram “o cruzeiro do sul”, acabaram humilhados e desacreditados, a ponto de não se aconselhar a Pacheco que continue “distraído”…
Qualquer leigo percebe que quem se presta a certas coisas tem de se prestar a todas as outras, por isso é evidente que não pode negar tarefas, principalmente quando quem manda é quem por poder o mais pode o menos. Para já não se falar da cegueira dos seus horizontes e da sua desmedida ambição…
Chegar ao ponto de se comprometer com declarações absolutistas sem compreender que muito para além de si alguém de um momento para o outro o pode fazer cair no ridículo, é impróprio de quem possa alimentar certas ambições.
Chegar ao ponto de não reconhecer que o Estado está realmente capturado por uma certa “elite” da Frelimo é mesmo de alguém que voa sem ter helicóptero.
Chegar ao ponto de dizer que existe inclusão económica em Moçambique é gozar com milhares de moçambicanos para quem a pobreza não absoluta já seria um horizonte de grande felicidade. Ou então Pacheco é uma desilusão maior do que muitos outros que já foram encostados às boxes pelo “Grande Líder” que Samora tanto amou…
Não admitir que a despartidarização do Estado é um verdadeiro imperativo nacional e pretender convencer todo um Povo que sofre na pele os efeitos dessa aberração de qualquer sistema que se pretenda democrático, é um insulto à cidadania.
O senhor Pacheco pensará que 21 milhões de moçambicanos têm de continuar a alimentar as veleidades e os abusos da pequena minoria que abocanhou o Estado, mas estará certamente tão equivocado como estavam os que no tempo colonial se rodeavam de mordomias pensando que os outros não viam e se manteriam eternamente inertes, e enquanto imaginavam simultaneamente que os militares se esqueceriam que a sua função constitucional é defender o Povo, o Estado e a Soberania e não proteger predadores do erário público. Que o digam os Capitães de Abril que mandaram passear os políticos e generais que os serviam cegamente e devolveram a liberdade ao Povo português e abriram caminho à autodeterminação e independência dos territórios que na sua obcecação os políticos que do seu pedestal do poder não conseguiram ver para onde acabariam por soprar os ventos da História.
Acordem, senhores, que hoje estão no poder! O vento não sopra sempre para o mesmo lado. Perguntem ao Kadhafi que do cúmulo da sua alucinação nunca foi capaz de perceber que o futuro lhe reservaria a morte num esgoto às mãos do povo farto da sua megalomania.
Canal de Moçambique – 19.12.2012