RESCALDO DO CONGRESSO DO ANC REALIZADO EM MANGAUNG
XAVIER DE FIGUEIREDO
As condições que a África do Sul reúne para se afirmar como país moderador em África e membro da comunidade BRICS adquiriram solidez acrescida em resultado do recente congresso do ANC; em concomitância, tornaram-se “menos prováveis” estimativas de degradação, capaz de transformar o país num estado falhado.
De acordo com uma competente análise sobre o assunto, as novas perspectivas, mais benignas, para o futuro da África do Sul, radicam nos seguintes aspectos do balanço da conferência do ANC:
– Derrota completa da chamada “esquerda materialista”, congregada no antigo United Democratic Front (UDF), tradicionalmente liderada pelo mestiço Trevor Manuel (corrente de inspiriação anarco-sindicalista; ideologicamente avessa às tradições, à religião; tolerante em relação ao homossexualismo e ao protesto social).
– Vitória esmagadora da facção tradicionalista zulu do ANC, que passou a dominar o partido e supletivamente as restantes tribos do país; entre os seus efeitos internos benéficos, avulta a tranquilidade incutida nos boers brancos.
Os zulus, 15% da população, sempre gozaram da primazia dos boers brancos como seus aliados para dominar as restantes tribos.
Antigamente organizados no INKHATA, do chefe Mangosutho Buthelezi, os zulus dominam agora o ANC, para o qual transportaram valores conservadores.
O reforço da aliança tácita entre os zulus e boers brancos, a que o congresso do ANC conduziu, não é estranha a concepções segundo as quais ambos constituem os dois principais e mais dinâmicos pilares da sociedade sul-africana; juntos, são capazes de assegurar o seu futuro.
2 . A promoção política do ex-sindicalista e empresário de sucesso, Ciryl Ramaphosa, eleito Vice-Presidente do partido, é igualmente considerada inspirada nas referidas concepções – cuja parternidade é atribuída a conselheiros de Jacob Zuma, encabeçados pelo antigo director do desaparecido BOSS, Neil Barnard.
Ramaphosa, para cuja ascensão análises anteriores se inclinavam, apresenta uma característica também considerada benéfica no que toca ao futuro da África do Sul, que é a confiança que precisa de induzir nos países ocidentais. É claramente o preferido em países como a Grã-Bretanha.
Em conformidade com a tradição do ANC, Ciryl Ramaphosa tornar-se-á automaticamente Presidente da África do Sul em 2018 e terá dois mandatos, até 2028 – o que significa que a estabilidade interna do país, como garantia chave para investimentos a longo prazo, fica garantida para os próximos 15 anos – pelo menos.
A aliança discreta entre o ANC e os boers brancos, em especial os tecnocratas e os capitalistas, é também vista como um factor que poupará a África do Sul de um declínio que, a ocorrer, poderia vir a convertê-la num estado falhado, do tipo do Zimbabué ou Nigéria.
Prevê-se, porém, que até pela natureza da aliança agora criada, propícia a acções de mobilização de grupos radicais, a agitação social se mantenha e continue a dar lugar a episódios de repressão violenta, tipo Marikana, “justificados” pela necessidade de preservar a estabilidade interna.
3 . Winnie Mandela foi uma das personalidades do ANC que mais nitidamente concluiu que a força dos zulus tradicionalistas, liderados por Jacob Zuma, já não tinha oposição interna capaz de se lhes opor com sucesso – e agiu em conformidade com o seu instinto. Aproximou-se de Zuma ainda antes do congresso.
CORREIO DA MANHÃ – 28.12.2012