NOTÍCIAS (NOT) – Como surge o Centro de Pesquisa da História da Luta de Libertação Nacional e quais os seus objectivos?
CARLOS SILYA (CS) – O Centro de Pesquisa da História da Luta de Libertação Nacional tem a missão nobre de resgatar, registar, divulgar e valorizar a história da luta de libertação nacional, os factos históricos da defesa da soberania e integridade territorial . Esta missão tem vindo a ser realizada através de um projecto intitulado “Memórias do Combatente”.
Trata-se dum projecto que visa registar e divulgar episódios e vivencias dos combatentes. Neste contexto, temos estado a publicar livros sobre memórias dos combatentes, como foi o caso das obras “Memórias da Revolução 1962 até 1974 – Volume I”; “Samora Machel na Memória do Povo e do Mundo”; entre outras escritas por combatentes da luta de libertação nacional.
Para o ano de 2013, o Centro de Pesquisa pretende publicar um Roteiro de Monumentos e Praças erguidos após a independência nacional.
NOT – Este é o principal desafio para este ano?
CS – Esta é uma grande realização para nós, na medida em que o nosso Governo, em especial o Presidente da República, Armando Guebuza, dedicaram-se nos últimos tempo em acções visando erguer monumentos históricos de heróis nacionais e de praças que retratam momentos marcantes da nossa história. Nós queremos nos unir a este esforço do Executivo publicando um roteiro de monumentos históricos nacionais e praças que simbolizam o processo histórico nacional e que honram os nossos heróis.Este roteiro tem como objectivo contribuir para a educação patriótica dos moçambicanos, em especial a nossa juventude e às gerações vindouras para que conheçam todos aqueles compatriotas que deram as suas vidas pela independência do país. Queremos também com este roteiro, contribuir para que sirva de matéria de consulta de estudos nas escolas e universidades, sobretudo para aqueles que escolherem a luta de libertação nacional ou defesa da pátria como tema de pesquisa, de trabalho de graduação, entre outros de índole académica.
Queremos ainda que este folheto contribua para o turismo no país, ou seja, que sirva de guião e de instrumento de conhecimento da história do nosso país. Portanto, com este roteiro queremos contribuir para que os moçambicanos continuem a inspirar-se no nosso passado recente para os novos desafios de momento, nomeadamente, a luta contra pobreza, solidariedade nacional, unidade nacional entre outros.
NOT – Qual vai ser o conteúdo desse roteiro?
CS – Ele vai conter fotografias sobre os vários monumentos e praças erguidas após a independência. Uma coisa importante, é que vai conter o descritivo sobre cada monumento, isto é, vai relatar a história do monumento ou da praça, designadamente, quando foi erguido, qual o arquitecto que o concebeu, que dimensões o monumento tem, que significado histórico tem, no caso de estátuas, quem é a pessoa homenageada, quando nasceu, como morreu, que obra fez, de modo a permitir que as pessoas conheçam um pouco mais da nossa história e os nossos heróis.
NOT – Estamos a falar de quantos monumentos, ou seja, quantas praças? Quantas estátuas? Quantas avenidas ou ruas?
CS – O país possui em todas as capitais provinciais, incluindo a cidade de Maputo, pelo menos um ou dois monumentos e, se calhar, três praças. Neste momento podemos estar a falar de mais de 300 praças e mais de 200 monumentos, para além de outros que estão nos distritos cuja existência pouca gente conhece. Queremos tirar esses monumentos do anonimato, divulgando a sua existência.
NOT – Muitos monumentos erguidos no país apresentam um estado de aparente abandono. Como inverter este quadro?
CS – Esta para nós é uma componente importante. Efectivamente temos já desenhado um projecto para a limpeza e manutenção dos monumentos nacionais. Sabemos que há muitos monumentos que se estão a deteriorar, estão a estragar-se porque não há ninguém que está a valorizá-los. Então, queremos, em coordenação com os munícipes das cidades e vilas que possuem monumentos e praças, com os governos locais e provinciais, desenvolver um conjunto de trabalhos de valorização e limpeza destes monumentos e praças.
50 anos da Frelimo em brochura histórica
De acordo com Carlos Silia, o Ministério dos Combatentes, através do Centro de Pesquisa da Histórica da Luta de Libertação Nacional vai, em meados de Abril próximo, publicar três novas obras sobre a resistência moçambicana contra o colonialismo português.
NOT – O Roteiro dos Monumentos e Praças Nacionais é o único desafio do Centro que dirige para este ano?
CS – Claro que não. Em 2013 pretendemos também proceder à publicação de uma obra sobre o simpósio que marcou os 50 anos da criação da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO). Nesta obra, trazemos relatos de combatentes e fundadores da FRELIMO descrevem as suas vivencias sobre como nasceu a FRELIMO, quão difícil foi o processo da luta de libertação nacional. Esta é uma obra de grande dimensão que pensamos que servirá e marcará um período bastante sinuoso mas importante para todas as gerações conhecerem o nosso país.
A outra obra que pretendemos publicar relaciona-se com o processo de emancipação da mulher moçambicana, orientada pela Organização da Mulher Moçambicana (OMM), uma organização que nasceu em 1973, na Tanzânia, antes da independência nacional. Aparecem muitos combatentes do Destacamento Feminino a relatarem as suas obras, as suas experiencias.
O terceiro livro a ser publicado vai ser a “Suprema Dádiva”. Trata-se de um conjunto de experiências sobre o trabalho patriótico desenvolvido no nosso país. Nos anos após a independência nacional nós tínhamos o Comissariado Político que tinha como objectivo educar o povo moçambicano a amar a pátria e a envolver-se nos problemas do país e o valor da unidade nacional. Um brigadeiro na reserva fez um trabalho sobre este tema.
NOT – O Ministério dos Combatentes fez um levantamento e manutenção das antigas bases da FRELIMO criadas durante a luta de libertação nacional. Qual o ponto de situação desse trabalho?
CS – As direcções provinciais dos Combatentes concluíram já o registo e localização destas bases. Neste processo, foi também realizado um trabalho de limpeza destes lugares e também foram colocados símbolos em cada uma delas. Também foi feito um mapeamento sobre a localização geográfica dessas bases.
Por outro lado, em algumas províncias decorre um trabalho de reabilitação daqueles locais, como é o caso das bases Beira e Matchedje (onde se realizou o II Congresso da Frelimo), em Cabo Delgado. Na Zambézia também há uma importante base que também foi restaurada. Este trabalho está a ser feito em coordenação com o Ministério da Cultura, que nos tem disponibilizado técnicos especialistas em museus e registo de monumentos.
Claro que é um trabalho que exige muito esforço e os nossos recursos são poucos, dai que apelamos a sociedade civil, governos provinciais, governos municipais para nos apoiarem nesse sentido. Queremos que estas bases sejam restauradas e sirvam Moçambique, quer a nível do seu valor social, como histórico e turístico que possuem.
Criar uma base de dados sobre a luta de libertação
Na mesma entrevista, Calos Silia referiu que no âmbito da divulgação da História da Luta de Libertação Nacional, a instituição que dirige está apostada em publicar cada vez mais biografias de combatentes ao mesmo tempo que cria consolida uma base de dados sobre a história recente do país.
NOT – Em que ponto está o processo de recolha de depoimentos sobre a Luta de Libertação Nacional, uma acção considera importante para a recolha de informação sobre esta fase da história do nosso país?
CS – Este trabalho está a decorrer de forma esplêndida . Como disse antes, o centro está apostado em publicar depoimentos de todos aqueles que participaram na luta de libertação nacional como forma de registar os acontecimentos ocorridos naquele importante período histórico . Publicamos já o volume I (Memórias da Revolução) desse trabalho. Este ano vamos publicar mais depoimentos. Temos alguns combatentes que escrevem e nós apoiamo-los tecnicamente. Também vamos apostar na publicação de biografias para que as pessoas conheçam essas personalidades. Estamos também a coordenar com as universidades no sentido destas realizarem trabalhos de pesquisa sobre as histórias da luta de libertação nacional e o centro apoiaria a publicação dos seus resultados.
NOT – Já se pode pensar na criação duma base de dados ?
CS – Naturalmente. Neste momento, o centro de pesquisa tem um laboratório que permite, por exemplo, ter fotografias da luta de libertação nacional, a documentação produzida. Isto permitiu a criação de um banco de dados que à medida que chega mais informação, ele vai crescendo. Também estamos a montar uma biblioteca especializada que tem livros sobre a história da luta armada em Moçambique, e sobre a libertação de África, no geral.
Neste trabalho estamos a contar com o apoio de algumas instituições nacionais e estrangeiras para a montagem da nossa base de dados, sobretudo agremiações portuguesas ligadas à luta colonial em África. É exemplo disso a Associação Portuguesa de Soldados que fizeram a luta colonial. A ideia é disponibilizar informação sobre a nossa história e pensamos que em 2013 teremos o banco de dados concluído.
NOT – Qual será o passo seguinte?
CS – A divulgação é o desafio. Aliás, estamos já a traçar um projecto nesse sentido. Como parte desse projecto é a edificação de um Museu da Resistência Colonial, que vai conter aquilo que foi a opressão colonial, a luta de resistência e a luta da clandestinidade. Este museu vai ser erguido na antiga Vila Algarve, em Maputo. Este processo está bem encaminhado. O Ministério dos Combatentes é que está a coordená-lo, pois, é um processo que envolve também o Ministério da Cultura. Julgamos que este museu vai ser uma importante contribuição para a divulgação da nossa história.
- MUSSA MOHOMED